quinta-feira, 31 de maio de 2007

V. A herança de Blair

Tornou-se num dos símbolos da política espectáculo, da simpatia feita político e feita política, da moral como paradigma mediático da política (a ideia de relações internacionais baseadas na moral (?), por exemplo – ironia se a há para quem mentiu de forma tão pobre, mais que descarada).

O político de génio é em parte como qualquer outro génio. Caracteriza-se por um misto indefinível entre obsessão, obstinação e flexibilidade. Churchill e De Gaulle são dois bons exemplos de teimosia descomunal e capacidade de compromisso com o pormenor. A natureza ginasticada de Blair não pode ser posta em dúvida. Mas “idée fixe”, nenhures. Em boa verdade, ideia, algo fraca.
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Greve parcial

Não ouso tomar partido nas patéticas guerras de números entre governo e sindicatos. Mas uma coisa me parece evidente: se a greve de ontem serviu para alguma coisa foi para tornar evidente que o país está absolutamente dividido e que é impossível por de pé um greve verdadeiramente «geral». De um lado está um sector público pesado e ineficaz incapaz de se reformar, resistente a qualquer mudança e que só encontra mesmo companhia nuns sindicatos que há muito perderam o norte e sobretudo a respeitabilidade. Do outro lado está um país (o único «país real» sem o qual mais nenhum país pode existir) asfixiado pelo peso insustentável de uns dos impostos mais altos da Europa que, a estar solidário com alguma coisa, é precisamente com as (poucas) medidas do governo que [...]
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O beijo. Ao vivo e a cores

Não que as palavras do Manel não fossem eloquentes. Mas é dificil fazer justiça à Maureen 0'Hara...

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quarta-feira, 30 de maio de 2007

O Beijo

O beijo que ele deu a Maureen O’Hara em The Quiet Man é o arquétipo de todos os beijos. É mesmo, neste mundo de cópias e simulacros, a única “forma platónica” a ter descido do mundo das ideias à conspícua caverna em que habitamos. No caso, o do beijo entenda-se, a caverna é irlandesa: há lá fora uma tempestade homérica, um relâmpago despedaça a escuridão e ele, Sean Thornton, num movimento redondo e olímpico, puxa para si o indomável corpo e a ruiva cabeleira de Mary Kate. Os lábios encontram lábios e um daqueles ventos, que só um grande filme romântico pode dar-[...]
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IV. A herança de Blair

Internamente deixou igualmente bastas fracturas.

Embora tenha conseguido a descentralização (a “devolution”) da Escócia e em parte do País de Gales, conseguiu alienar o escocês, tradicionalmente anti-conservador e mais trabalhista, para uma cada vez maior simpatia para o Partido Nacional Escocês.

Mostrou com a Guerra no Iraque uma fractura abissal entre a vontade popular e os seus representantes, mais do que uma democracia representativa pode suportar a longo prazo. Pela primeira vez em muito tempo os britânicos sentiram que numa questão essencial o poder popular irreleva. Nesse aspecto é apenas mais uma ocorrência de uma regra geral: a de que, em [...]
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Alguém Explica Esta Greve?

José Sócrates não é Margaret Thatcher e a conflitualidade social portuguesa nada tem a ver com a britânica dos anos 70 e 80 do século passado. Resultado: continuamos a ter uma central sindical a fazer o jogo de um partido político. Será que é isto que se passa? Não sou cientista político e os cientistas políticos também não têm dado a devida atenção a este fenómeno. É verdade que, nas actuais circunstâncias, o ajustamento dos preços portugueses aos preços internacionais se faz mais facilmente pela moderação salarial. Quem recebe salários sabe intuitivamente isso e por isso dá luta (mas o ajustamento também se faz pelo desemprego). Mesmo com alguma razão do lado de quem recebe salários, não é através de uma greve geral que se leva a prestar atenção a estes problemas. A greve geral assinalaria o descontentamento com as parcas reformas que estão a ser feitas pelo Governo. A central sindical comunista não quer as reformas? O que é que ela quer? Alguém explica? Ainda por cima a adesão pode ser grande, o que torna a explicação ainda mais complicada.
E aqui o desenvolvimento.

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terça-feira, 29 de maio de 2007

III. A herança de Blair

Diz-se igualmente que teve um grande projecto para a Europa. É verdade que aproximou os europeus continentais à Grã-Bretanha, mas não conseguiu o inverso, como dizia o outro. Resta saber que europeus se referem aqui. Quando o Reino Unido assume a presidência europeia qual é o grande projecto britânico para a Europa? A ajuda a África. Convenhamos. Que despautério. O grande projecto para a Europa, numa presidência de um grande país é...a África? Em estratégia militar isto tem um nome: diversão. Incapaz de fazer algo pela crise europeia, sem ideias, e em boa verdade sem vontade nem capacidade, distrai o povo com ossos de benquerença.

Diz-se igualmente que conseguiu o alargamento europeu. Convenhamo[...]
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segunda-feira, 28 de maio de 2007

II. A herança de Blair

Interessa-me agora a herança política de Blair. Uma política deixa marca sobretudo por ser de um político, não de um gestor de economia. Que se meça o sucesso de um político começando pelo seu êxito económico diz muito sobre o que se espera do político. Que seja uma espécie de caixeiro-viajante. Não consta que César fosse um perito em finanças, nem o mesmo é central ao analisar Walpole ou Catarina II. O que se diz dele? O que se diz de Blair?

Que mudou a esquerda europeia, para começar. Vejamos. Não mudou a esquerda nos países nórdicos e na Holanda, que sempre se caracterizaram pelo pragmatismo. As soluções de adaptação à globalização que estes países adoptaram foram endógenas, baseadas numa mai[...]
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Citando Ernst Junger a proposito do tempo dos mediocres

«Neste espectáculo, o que irrita é a combinação de níveis tão medíocres com um poder funcional monstruoso. São estes os homens diante dos quais tremem milhões, de cujas decisões dependem milhões de seres. E, no entanto, temos de admitir que o espírito do tempo os seleccionou com um dedo infalível, se o quisermos considerar, sob uma das suas facetas possíveis, a saber, a de um poderoso empreiteiro da demolição. Todas estas expropriações, desvalorizações, sincronizações, liquidações, racionalizações, socializações, electrificações, reordenamentos, parcelamentos e pulverizações não pressupõem nem formação, nem carácter, pois uma e outro prejudicam o automatismo. Por conseguinte, quando na paisagem industrial o poder é oferecido em hasta pública, cobre os lanços[...]
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domingo, 27 de maio de 2007

Pasmos

A mediocridade não recomenda a citação. Gosto do critério. É claro, directo, justo, linear. Mais do que isso, é um critério rico em derivações. Porque a mediocridade não recomenda a detenção, a reflexão ou, sequer, a atenção. Dada a finitude do tempo disponível, o melhor é mesmo concentrarmo-nos no que vale a pena, no que acrescenta, no que ensina e faz pensar.
Mas, confesso, a assunção do princípio surge a propósito da inevitabilidade de o pôr em crise. Não de modo inconsciente – e muito menos gratuito –, mas por razões de concordância prática, estando em causa Boaventura Sousa Santos e o absoluto pasmo que justifica. Aliás, sempre surpreendente na capacidade de se ultrapassar – mesmo quando já não se imagina a possibilidade de ir mais longe, eis que se tr[...]
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sexta-feira, 25 de maio de 2007

I. A herança de Blair

Tenho sempre feito uma regra de não citar nomes de medíocres. Blair não o é totalmente. Mas está longe de ser um grande homem da política. Sobretudo um homem que fique para a História.
É sempre temerário afirmar algo sobre o juízo futuro da História. A História é um tribunal colectivo, aberto permanentemente e com muitos juízes incompetentes, alguns corruptos e a maioria esquecida, para nossa sorte. De entre os seus juízes probos, felizmente restam-nos bastantes.

Por isso tudo o que disser terá ser entendido com alguma cautela.

Afastarei por isso dois aspectos da sua política, geralmente os mais citados: do lado positivo, o sucesso económico, do[...]
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terça-feira, 22 de maio de 2007

O DIREITO À INDIGNAÇÃO

Já não me lembro como é que a coisa surgiu. Foi talvez no primeiro ano do primeiro governo de Cavaco que uma esquerda filha de boas famílias, angustiada com o facto do seu voto valer só o que então valia o voto de uma peixeira, lançou com pompa e pathos o direito à indignação. Mas talvez tenha sido Mário Soares, pai e mãe de muitas coisas de que somos filhos, a cunhar a expressão. Por razões, note-se, bem mais florentinas do que as convulsivas razões que assistiam àquela radiosa parte da esquerda.
Também eu, hoje, me reclamo, enlouquecido, do direito à indignação: a polícia, a investigação das polícias!
Como é que os especialistas escrevem nos jornais, como é que eles dizem na sua translúcida prosa de analistas? Dizem: é inace[...]
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À procura de Madeleine

Tenho estado ausente do blog porque tenho andado ausente um pouco por todo lado nas últimas semanas. No entanto, em todos os lugares onde estive "encontrei" Madeleine McCann: nas televisões internacionais como nos jornais locais de diversas cidades no mundo, a criança britânica desaparecida na Praia da Luz é (foi?) foco das atenções.
De acordo com o Departamento de Estado norte-americano, todos os anos aproximadamente 300.000 crianças são vítimas de rapto. Na União Europeia são alguns milhares por ano. No Reino Unido apenas, foram raptadas 846 entre 2002 e 2003 (70.000 é número de crianças dadas como desaparecidas todos os anos). O que tem de especial Madeleine McCann?
Há um elemento de identificação com a família de Madeleine que foi f[...]
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domingo, 20 de maio de 2007

As Noites do "La Chunga"

No hay tablao” no “La Chunga”, mesmo em frente ao Hotel Martinez, em Cannes, a cidade do festival de cinema, a cidade dos mercados de televisão.
Piano-bar depois da meia-noite (antes dessa redonda hora é restaurante para factícios príncipes e putativas cinderelas), com música variada e frequência unilateralmente suspeita, “no hay tablao” nem é preciso, porque nas cadeiras ou nas mesas – em todo o lado, menos no chão – jovens mulheres e homens de matura idade dançam enérgica e livremente, sempre bem acima do nível do mar.
Não me lembro de quem canta e do que se canta! Minto, minto: lembro-me da Katty Blue a cantar na materna língua francesa, e também em fluente inglês (naquelas nocturnas horas em que todo o inglês que[...]
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sexta-feira, 18 de maio de 2007

A Mãe (e o Pai) de todos os Códices


Portugal participou hoje num acontecimento cultural histórico. Foi lançada entre nós, pela mão[...]
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Democracia de rupturas: Governos e CML

A convulsão política portuguesa dos últimos tempos, contruída com base em impulsos, acasos, desencontros, favorece um quadro apto à construção de maiorias que mais se afirmam por expedientes político-judiciais e habilidades politico-constitucionais, do que pela avaliação dos créditos das políticas pensadas e aplicadas no terreno, ao fim de mandatos de quatro anos . O mapa político transforma-se num tabuleiro em que as regras da democracia cedem ao imprevisto legalizado.
O eleitor, consultado depois do estrago, tende a refugiar-se na doca mais seca - com a naturalidade dos inseguros - sem questionar a natureza da intempérie que lhe toldou as velas. Podem, depois, os vencedores dizer que foram chamado[...]
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II. Les Négriers en Terres d'Islam. La Première Traite des Noirs, VIIe-XVI siècles, Jacques Heers, Perrin, Paris, 2004

Há vários argumentos que neste contexto são de somenos importância:

a) O islão levou 19 milhões enquanto os cristãos apenas 17 milhões de escravos. O cristianismo fê-lo em menos tempo porque foi mais eficaz. A incompetência não é mérito no que respeita ao islão, e os números nesta área são importantes mas sempre arriscados

b) O esclavagismo africano é endémico em África. Existia desde a mais remota antiguidade de dele participaram africanos, brancos e negros (egípcios, núbios, africanos da africa abaixo do Sahará).

c) As interpretações dos textos religiosos, que podem ser as mais variadas.

O qu[...]
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Sobre uma fotografia

Está científicamente provado que a divulgação de fotografias é uma forma eficente na busa de pessoas desaparecidas. O senso comum também consegue compreender que a atenção dos media é crucial para a eficácia das buscas e no recente caso de que se fala a estratégia que a família está a seguir é precisamente essa. A mobilização da sociedade é fantástica em países desenvolvidos como a Grã-Bretanha. Nós ainda estamos um pouco longe disso o que não significa que não se tente mesmo assim fazer algo. Não confundir a enorme atenção que a Sky-News está a dar ao assunto com a exploração de instintos básicos - é uma estratégia consciente. Esperemos que resulte.
http://news.sky.com/skynews/madeleine

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quinta-feira, 17 de maio de 2007

VARIAÇÕES SOBRE BLAKE, NUMBER TWO

Tiger! Tiger! Burning bright
In the forests of the night

Às vezes, entre a dor e o nada que Faulkner impõe como escolha no fim das “Palmeiras Bravas”, perpassa em nós o fulgor da imortalidade.

Tiger! Tiger! Burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

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VARIAÇÕES SOBRE BLAKE, NUMBER ONE

Não é medo. É apenas saber que nunca mais:

“I have no name:
I am but two days old.”
What shall I call thee?
“I happy am,
Joy is my name”

Nada hoje é pior do que ontem. Só o tempo, invísivel insecto, nos afastou das nossas canções de inocência.

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I. Les Négriers en Terres d'Islam. La Première Traite des Noirs, VIIe-XVI siècles, Jacques Heers, Perrin, Paris, 2004

Hoje em dia qualquer um que faça uma tese sobre História contemporânea (desconfio sempre que, quando não aprendeu latim e grego se dedicou à História contemporânea por a restante lhe ser vedada por falta de acesso às fontes) já se sente autorizado a falar em nome da Historia. Diz-se cientista e apela no espaço público para a sua qualidade de cientista. Quando no espaço público, caso seja cientista, não pode estar a defender uma tese ideológica. O seu ethos tem de ser diverso.

A verdade é que Jacques Heers pertence a outra lavra. É um historiador de grande competência, com trabalhos realmente importantes de investigação sobretudo sobre a Idade Média, e da longa Idade Média. Não a lei da[...]
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quarta-feira, 16 de maio de 2007

Ken Burns Jazz INTRO

Ken Burns é um dos mais geniais «documentaristas» americanos. Com ínumeras nomeações para os Óscares e para os Emmy, Burns notabilizou-se sobretudo pelo uso da fotografia como material base dos seus documentários. "The Civil War", "Baseball", "Brooklyn Bridge" e este fabuloso "Jazz" que estive recentemente a rever são algumas das suas obras mais emblemáticas. A ver e rever.

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III. Vangelo di un pagano. Testo greco a fronte, Porfirio, Bompiani, 2006

Ler Porfírio, apesar de a sua influência ter sido relativamente fraca na História é ler um imenso “ e se”. E se o mundo antigo tivesse seguido pela via neoplatónica, mística, desprezadora da carne? Se tivesse conseguido adequar as suas forças às invasões bárbaras sem ter nenhum dique sólido para as forças do elitismo pagão como foi o cristianismo? Se a Europa tivesse sido formada apenas de uma confluência de paganismos indo-europeus?

Nesse universo Nietzsche teria sido apenas mais um mandarim. E a sua opinião seria realmente maioritária ao contrário do que é hoje em dia, apesar das aparências. O seu sucesso seria a medida da sua irrelevância.

Ness[...]
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terça-feira, 15 de maio de 2007

Mulheres Nuas

Tenho andando lamentavelmente afastado da "Geração de 60". Hoje, o Pedro, a quem algumas vezes reprovei a ausência, atirou uma pedra aos meus telhados cristalinos. Um estrondo. Embaraçosamente apanhado de calças na mão, prometi-lhe um post sobre “mulheres nuas”. É com promessas destas que se arruína uma vida, mas se firmam, espero, reputações.
Dir-me-
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Uma Estratégia Nacional para o MAR

Desde o Dia Mundial do MAR, data escolhida para a presentação, não sem alguma pompa e circunstância, a Estratégia Nacional para o MAR do actual Governo, três questões estão por responder para que se possa afirmar existir, de facto, uma verdadeira Estratégia Nacional para o Mar:


- Está Portugal disposto a verdadeiramente defender e exercer os seus direitos sobre o Mar que é seu?

- Está Portugal disposto a verdadeiramente afrontar a União Europeia nesse particular?

- Tem Portugal uma verdadeira estratégia e consequente acção que justifique essa defesa?

Questões, até hoje, infelizmente, sem resposta. Hoje, dia em que o Instituto Europeu da Faculdade de Direito de Lisboa promoveu mais umas Jornadas Europei[...]
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II. Vangelo di un pagano. Testo greco a fronte, Porfirio, Bompiani, 2006

É mais um lugar comum distinguir a moral de prazer dos antigos da moral de culpa cristã. Tese arcaica de um Tilgher e um Brochard que fez sucesso na geração dos anos 1960, mas sem nenhuma consistência histórica para quem lê os originais. A moral dita antiga é muitas morais, variando com as épocas e os lugares.

O cristianismo não teve de se opor no momento da sua ascenção a uma moral devassa, epicurista, hedonista, mas bem pelo contrário a uma moral pagã ascética, martirizando a carne, odiando o corpo. Em alguns casos este movimento roça a histeria, em Porfírio contém-se dentro de uma racionalidade bem estruturada, sem prejuízo de merecer críticas.
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segunda-feira, 14 de maio de 2007

I. Vangelo di un pagano. Testo greco a fronte, Porfirio, Bompiani, 2006

A uox populi diz que o modernismo fez enfraquecer o cristianismo, que hoje em dia somos muito mais esclarecidos, que nunca houve tanta descrença. Vários erros de perspectiva e de presunção, porque há demasiadas épocas da História para se poder fazer essa comparação de forma tão simplista. Mesmo Nietzsche o suposto anti-cristão por excelência está bem longe de o ser no sentido popular.

Se bem virmos no longo prazo, e tudo ponderado, houve dois grandes anti-cristãos. Porfírio e Maomé. Símaco, Juliano o Apóstata, Hipácia e tantos outros são brincadeiras de crianças ao pé destas personagens. Plotino não deu grande importância ao cristianismo, confundindo-o muitas vezes com a sua vertente gnóstica, pelo que não pode ser bom exemplo.
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Um perigoso equívoco (parte II)

Ainda a propósito da saudável discussão que travei com o Gonçalo , socorro-me de uma crónica certeira assinada no DN de Domingo por Nuno Brederode Santos:
«Muitos dizem que, na política portuguesa, nada mexe, nada muda, tudo se arrasta. Falta-nos a cavalgada, os factos à desfilada. Carecemos do swing que nos faça arribar deste torpor. Mas os dias da queda da Câmara Municipal de Lisboa desmentem com estrondo esta ideia.Na quarta-feira, já quase no final do programa de fim de tarde da SIC Notícias Opinião Públic[...]

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domingo, 13 de maio de 2007

Fátima




Fátima toca-me. Sempre tocou. É uma experiência que vai para lá da explicação. Com a força própria das coisas profundas, é esperança de uma verdade que irmana e dá senti[...]
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sábado, 12 de maio de 2007

O número que marcou não está disponível

A minha mãe tem 89 anos e é surda. Quando lhe pergunto alguma coisa, responde ao lado. Protesto contra a sua surdez, ela afirma que “como” as palavras, No fundo, conversa de surdos. Traz-me triste, esta questão da incomunicabilidade. Percebo que a inteligência tem consigo, uma obrigação moral, tal como é expressa na parábola dos talentos. O que nunca ninguém diz, porventura com medo de parecer vaidoso, é que a inteligência tem um preço: a solidão. Dizia o meu amigo Jacques Brel, (nunca o conheci, entenda-se), numa entrevista que tive o privilégio de assistir: “recuso-me a ser inteligente”. Julgo perceber o que quis dizer, e no entanto…
Por favor não vomitem ao voltar ao assunto, mas a questão do aborto, parece-me exemplar. Pensei sobre essa questão dias a[...]
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sexta-feira, 11 de maio de 2007

Salazar, a Europa e... Caetano

Esta coisa de se escrever em blogs significa que devemos procurar a polémica, ou não? – Enquanto que espero pela resposta, permito-me pegar numa citação sobre Salazar e a Europa retirada de um texto de um dos mais reputados economistas portugueses, Luís Cabral, publicado em http://cachimbodemagritte.blogspot.com/2007/04/mal-agradecidos.html.

O pretexto com que faço isto é o da recente passagem do Dia da Europa (data da “Declaração de Schuman” de 9 de Maio de 1950, que levou à CECA) e da próxima comemoração dos 60 anos do anúncio do Plano Marshall, no famoso discurso que o Secretário de Estado norte-americano fez na Univesidade Harvard.

A [...]
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M - Fritz Lang

Realizado em 1931 por Fritz Lang e com argumento da sua mulher Thea von Harbou, M é baseado no caso verídico do «Vampiro de Dusseldorf» que aterrorizou a Alemanha dos anos 20. É a primeira aventura de Lang no sonoro e o filme conta com a inesquecível interpretação do fabuloso Peter Lorre no papel do pedófilo Hans Beckert.
Por razões óbvias, não tenho conseguido deixar de pensar na tão assombrosa quanto aterradora sequência do desaparecimento da pequena Elsie.
Poucos cineastas terão filmado o desespero de forma tão e[...]

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quinta-feira, 10 de maio de 2007

O tempo da justiça

Vale a pena voltar a discutir a crise na CML. Não tanto para fazer leituras políticas e muito circunstanciadas da decisão de Marques Mendes (nesse plano, devo reconhecer que o líder do PSD, depois dos precedentes de Valentim Loureiro e Isaltino Morais, não tinha muitas alternativas). Mas para reflectir sobre o que é verdadeiramente essencial.
E o que é verdadeiramente essencial tem, na minha opinião, o potencial para ser uma verdadeira bomba-relógio da nossa democracia.

Refiro-me à fundamental incompatibilidade entre o tempo da justiça e o tempo mediático. Que é exactamente a mesma incompatibilidade que existe entre o tempo da política e o tempo mediático. E todos sabemos que esta última incompatibilidade tem vindo a criar importantes rupturas num [...]
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ÓLEO PARA FRITURA…

Não sei se o cidadão ocidental tem noção do seguinte facto, a saber:

- está criada uma dinâmica, nos quatro cantos do Mundo, que põe em causa os valores fundamentais pelos quais nos regemos na Europa, no chamado mundo ocidental e restantes democracias;
- mais, esta dinâmica está claramente já fora do controle político, diplomático e militar do ocidente.

Convido-os a darem a volta ao mundo em 4 ou 5 parágrafos:
- na América, a Venezuela, a Bolívia, o Equador e o velho de Cuba, insultam os Estados Unidos e interferem desesperadamente na política interna das duas clássicas potências regionais, o grande Brasil e a Argentina;
- na “Euro-Ásia”, Rússia retoma a postura agressiva contra o Ocidente, bem patente nas declarações, be[...]

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quarta-feira, 9 de maio de 2007

Giovanna I d’Angiò, Regina di Napoli, Ciro Raia, Tullio Pironti Editore


Os que dissertam sobre a Europa e sabem tudo sobre o que a Europa é, não é, deve ser e não deve ser geralmente têm uma visão escolar e mal aprendida do que seja a Europa. Saltam entre meia dúzia de conceitos, repetidos até à exaustão, os mesmos e os poucos que se fixaram nas suas parcas memórias.


Felizmente a Europa é bem mais rica que muitos dos seus actuais componentes, e oferece uma diversidade de experiência[...]
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terça-feira, 8 de maio de 2007

Annus Mirabilis

Já não sei quem dizia que não se podia confiiar, e eu não saio bem no retrato, em pessoas com três nomes (era o Bogart ou o velho Hitch?). Bogart desconfiava de pessoas que não bebiam. Eu desconfio ainda mais de quem não se ri de si próprio.

Gosto de Philip Larkin porque só tem dois nomes. Gosto de Larkin por causa do humor cáustico deste Annus Mirabilis com que, de si mesmo, sinceramente se ri. A pontinha de amargura fica-lhe a matar.

Annus Mirabilis
Sexual intercourse began
In nineteen sixty-three
(which was rather late for me) -
Between the end of the Chatterley ban
And the B[...]
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Portugal - a nossa urgência


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Cavalgada heróica


Se a moda pega por cá ainda vamos ter de gramar o Paulo Portas vestido de campino...

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segunda-feira, 7 de maio de 2007

Auto-Retrato


Detesto lugares-comuns. São uma espécie de “outlets” da inteligência, onde por preços muito mais baratos, se compram imitações do pensamento.

Exemplo 1: “Portugal – País Pequeno e Periférico”. Dou de barato o pequeno, embora por razões que todos suspeitarão, seja adepto fervoroso de que o tamanho não importa. Quanto a periférico…onde fica a cabeceira numa mesa redonda? É o Japão “central”? (ou os EUA, ou a Índia, ou a China). As cidades principais dos EUA não ficam no centro do seu território, antes na “periferia” do mesmo, i.e. na costa Ocidental e Oriental. Que ninguém diga que eu vivo longe, porque, na verdade, estou perto do meu vizinho, e se alguma vez a minha casa se tornar relevante, o centro passará por onde eu moro. Faz-me lem[...]
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