ÓLEO PARA FRITURA…
Não sei se o cidadão ocidental tem noção do seguinte facto, a saber:
- está criada uma dinâmica, nos quatro cantos do Mundo, que põe em causa os valores fundamentais pelos quais nos regemos na Europa, no chamado mundo ocidental e restantes democracias;
- mais, esta dinâmica está claramente já fora do controle político, diplomático e militar do ocidente.
Convido-os a darem a volta ao mundo em 4 ou 5 parágrafos:
- na América, a Venezuela, a Bolívia, o Equador e o velho de Cuba, insultam os Estados Unidos e interferem desesperadamente na política interna das duas clássicas potências regionais, o grande Brasil e a Argentina;
- na “Euro-Ásia”, Rússia retoma a postura agressiva contra o Ocidente, bem patente nas declarações, bem como na “plástica” dos rituais, evidenciada nas provocações do líder local no discurso do estado da Nação Russa e nas comemorações na “Praça Vermelha” a propósito dos 50 anos do fim da II Guerra Mundial.
- no mundo Islâmico, da Ásia ao Magreb, é o que sabemos, pontificando o tremendo risco do Irão ansioso por reconstruir o mundo persa, anexando parte do actual Iraque, ao mesmo tempo que se dota de “apetrechos” atómicos;
- na pobre África Negra, Angola vem anunciar que pretende desenvolver o nuclear.
- a China aborda todos os regimes marginais do planeta, com recursos energéticos, oferecendo biliões e protecção, ao abrigo do seu estatuto de membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
É um curioso circo que reúne: ditadores da América, África e Ásia que enchem a cabeça dos seus servos com horas seguidas de discurso; os manicómios nacionais da Coreia da Norte, Irão, Sudão, Etiópia, Libéria, etc.; as cleptocracias de Angola, Venezuela, China, etc.; as Arábias Sauditas, Irões, Chinas, onde a execução de presos é espectáculo de estádio e praça principal.
Chegados a este ponto, tente o leitor descobrir o denominador comum deste quadro de aberrações?...
Eu digo-lhe: é o óleo, o crude, o maldito petróleo!
Esta “droga” do Ocidente representa centenas de milhares de milhões de euros que transferimos anualmente para criar monstros e alimentar estas realidades dantescas.
Ou paramos ou … estamos fritos!
O Ocidente, no âmbito da AIE (Agência Internacional de Energia), tem de prosseguir uma política muito voluntarista para por fim ao que o Sheik Yamani chama a Era do Petróleo.
Teremos de pagar mais caro pela energia? Sim, porque o petróleo é a “fonte “ mais barata.
Mas, qual é o “preço” da Liberdade e da Paz? O problema não é (só) para os nossos filhos. É já da “Geração de 60” que dirá, agora: Maldito óleo que roeste a minha alma!
4 comentários:
seja bem aparecido!
Concordo plenamente contigo Nuno, mas apenas saliento alguns aspectos:
a) A miopia histórica de quem achou que o Ocidente, o capitalismo venceram sem remissão
b) A estreiteza histórica de quem considerou a Europa como uma Europa NATO e apenas isso, e se esqueceu de fazer um plano Marshall para a Rússia. Humilhar um país é sempre injusto, humilhar um grande país é além do mais perigoso;
c) A cegueira de pensar que democracia e capitalismo são correlatos, quando a China está a demonstrar gloriosamente o contrário (mas já antes o Chile o tinha demonstrado nos anos 80)
d) A limitação dos políticos europeus dos anos 90, que não estabeleceram uma estratégia par a Europa nomeadamente energética (do lado os Estados unidos, já houve estratégia, mas pelos vistos, má).
Alexandre Brandão da Veiga
Há alguns problemas com a interpretação do Nuno, todavia. Um deles é que ela insere um contrafactual porventura errado que é o seguinte: se o "ocidente" baixasse o nível de importações de petróleo, o Mundo seria menos perigoso. É uma hipótese optimista. Há muito que move o Mundo para além do petróleo (tudo o resto).
Mas o texto remete-nos para uma verdade insofismável: é preciso alguma preocupação, na Europa, com o resto do Mundo, dados os perigos vários.
A lista de acções é limitada, mas há algumas possibilidades. Há gente nesses países de fora da Europa que gosta do velho continente e dos seus "valores", e há gente na Europa que compreende bem esses países. Uma das safas, porventura, é contribuir para que as pessoas estejam sempre contacto. Na história não tão remota e mais remota, um dos motores de contacto é o do comércio livre. Talvez seja uma área a que a Europa devesse prestar mais atenção.
Aliás, veja-se: a China da Organização Mundial do Comércio, a que aderiu recentemente, está muito mais próxima da Europa do que a China de Mao. Aqui há um enorme avanço. A Índia sempre foi mais ou menos amiga do Ocidente, sendo tradicionalmente um sub-continente aberto, e essa ligação não tem decrescido.
Enfim, umas notas de optimismo para um debate que é muito rico de incertezas!
A Intervenção de Nuno Ribeiro da Silva no programa de ontem (16-05-07)Clube de Imprensa foi muito positiva!
Essencialmente, porque apresentou um ponto de vista mais generalista, e menos voltado para as questões ambientais. Que apesar de importantes não são as únicas...
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