quarta-feira, 13 de julho de 2016

O Reino Unido vai sair de Schengen?


 

 

Que pergunta tonta. O Reino Unido não está em Schengen como se pode sequer colocar a questão de saber se vai sair dele?

Todos concordam, todos os ingleses dizem que estão fora, os meios de comunicação social sabem com certeza absoluta que Schengen não inclui o Reino Unido.

A questão é a de saber que por mais esta via estamos numa comédia de enganos.

 


 

Foi o Reino Unido forçado a isto? Não. Fê-lo por sua única e exclusiva iniciativa.

 

Entendamo-nos. Faz parte de Schengen no que respeita aos poderes do Estado, mas não no que respeita aos direitos dos cidadãos. Absurda argumentação.

Os ingleses estiveram sempre orgulhoso por não terem os direitos dos outros europeus, quando estavam sujeitos às mesmas sujeições. Feliz sujeição que se orgulha da falta de direitos.

Comédia de enganos. E dizemos nós que vivemos uma sociedade cada vez mais transparente. Goebbels tinha razão, uma mentira mil vezes repetida torna-se verdade. Este o seu Reino. Os vencedores encontram-se sempre em cantos insuspeitos. Quando os actores têm baixo coturno na melhor das hipóteses temos comedia. Mais baixo ainda, apenas farsa.

 

 

Alexandre Brandão da Veiga.

 

 

 

 

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quinta-feira, 7 de julho de 2016

Fragilidades do islão V

 

Em sétimo lugar o islão foi fragilizado pela ideologia multicultural que imperou na Europa desde os anos 90 por influência britânica e americana. Precisamente o inverso do que queriam os cultores do multiculturalismo.

O primeiro passo desta ideologia foi o de marcar a alteridade absoluta, o de exigir o direito à diferença, à radical diferença. Hoje em dia, os mesmos que exigiam a radical diferença ao islão apresentam-se com um discurso mitigado, a típica estratégia do «sim, mas…». Sim, há crianças de nove anos casadas com homens maduros entre os refugiados na Noruega, mas…. temos de perceber as circunstâncias. Sim, é feio bater nas mulheres, mas… temos de perceber outras culturas. Sim, é feio lapidar pessoas, mas… temos de dar tempo ao tempo. O lobo colocou a pele de cordeiro para nos obrigar a compreender o inaceitável. A diferença radical passou a ser excepção a valores que se admitem comuns.

A questão é que esta nova estratégia deixou de ser credível. Perdeu-se o efeito de surpresa, a contradicção com o passado fica notória.

O filo-islamismo decorre de muitos factores. Tudo na vida decorre sempre de muitos factores já o sabemos. Interesses políticos eleitorais dos trabalhistas ingleses, socialistas franceses e verdes alemães, interessados em substituir eleitorado popular que se vira para direita, ignorância das culturas alheias, religiões irénicas de substituição, herança da ideologia colonial em que os nativos se mantêm nas suas culturas desde que a segurança não esteja em causa. Há de tudo. Mas em última análise o filo-islamismo na Europa resulta de uma visão uniforme do ser humano, em que as diferenças são irrelevantes, em que o homem é um produto industrial padronizado. A diferença é apenas uma marca comercial, que no fundo em nada afecta o produto. Comungando todos da mesma natureza, nunca podemos desenvolver diferenciações substantivas.

Ora foi precisamente esta ideologia multicultural de origem colonialista britânica que mais prejudicou a possibilidade da convivência pacífica do islão com a Europa, e dificultou um seu verdadeiro reforço. Tanto mais abespinhado quanto mais frágil, o islão faz a sua força na exacerbação… e a sua fraqueza. Se o menino faz birra é sinal de que tem razão. Até lha deixarem de dar de todo. A injustiça nesse caso começa a ficar do lado contrário, também ele agastado. Mas neste caso já é tarde demais.

Em suma, muitas as fragilidades do islão: divisões religiosas e étnicas e geográficas. Cultura sobre pressão no Oriente e em grau cada vez maior no Ocidente. Cristianizada internamente de modo inelutável no seu modo de pensar. Sem prestígio cultural. Confrontado com uma religião que sempre praticou a autocrítica como o cristianismo e sem ter armas próprias para responder ao ataque crítico. Escorregando cada vez mais para a alegoria, sempre sinal de religião em fenecimento progressivo. Vítima de conversões ao cristianismo religioso, prático ou ao ateísmo de base cristã. Fragilizado e desautorizado pelo multiculturalismo que lhe deu visibilidade pela primeira vez na Europa. Visibilidade que lhe mostra as fracturas.

Há uns simplistas que dizem que islão está a morrer. Por dentro, demograficamente, por a religião que mais cresce no mundo ser o cristianismo, sobretudo na sua versão evangélica. Desconfio de estatísticas apressadas. Mas se o islão nasceu também por ensinamento cristão mal assimilado está agora a forçar-se à mudança sem conseguir de novo assimilar a aprendizagem do cristianismo. Dilema trágico: ou o assimila dissolvendo-se, ou o recusa fragilizando-se ainda mais. O seu destino político, apenas político (desafio algum leitor a que em diga ter lido algum manual de teologia islâmica que o tenha esmagado pela sua grandeza cultural) é uma manifestação da sua fragilidade intrínseca. Sem a vitória política condena-se aparecer nu perante o espírito europeu. Aparece o que sempre foi. Deixo a valoração para o leitor.

 

Alexandre Brandão da Veiga

 

 

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segunda-feira, 4 de julho de 2016

Fragilidades do islão IV


A fragilidade religiosa agudiza-se pela pobreza da exegese islâmica não habituada a confrontar-se com a crítica. Dois exemplos.

Na tradição islâmica Cristo não morreu na cruz. Ora os testemunhos mais próximos dos factos são unânimes. Houve um Jesus que morreu na cruz. Bem sabemos: a ideia muçulmana terá vindo de uma heresia, o docetismo. Em geral, cada vez mais percebo que o islão e o cristianismo se comunicam apenas entre heresias. As suas vias de comunicação nascem de deformações geométricas. Os sufis geram a admiração na Europa, os dissidentes cristãos foram mais fundamentais para o islão. Apenas mostra a imensa diferença das religiões. As boas regras de crítica histórica indiciariam que a versão muçulmana é falsa. O risco de falsidade histórica inquina as suas fontes.

O segundo exemplo é mais intrinsecamente religioso: o caso das houris, o das setenta e duas virgens. Perguntamo-nos: porque se mantém virgens? Se são seres humanos, quer dizer que há seres humanos cuja vida é meramente instrumental para os mártires, que não é fim em si mesmo? Ou trata-se de bonecas insufláveis, de meros autómatos? E qual a recompensa das mulheres mártires? Deveriam tornar-se lésbicas para fruírem de tal recompensa? A questão não é caricata. Prende-se com toda a oferta escatológica. E são problemas que os próprios muçulmanos começam a colocar.

A versão do paraíso islâmico é muito terrena, bem o sabemos. Mas também bem sabemos, entra aqui a interpretação alegórica. O que se pretende com estas imagens é reflectir a felicidade no paraíso, etc. etc. Seja. Mas a interpretação alegórica é, como a experiência pagã o demonstrou, simultaneamente um sinal de apego e de fracasso. Os deuses do Olimpo, os episódios do Antigo Testamento carecem de interpretação alegórica. Não as parábolas do Novo. Necessitar de uma interpretação alegórica significa diluir o mito original na construção teórica, até a força original se dissolver. A interpretação alegórica pode resistir séculos. No caso grego resistiu mais de mil anos. É certo, mas com os custos de uma dissolução cada vez maior da religião grega sob o peso da interpretação. Porfirio, Jâmblico, Proclo e Damáscio são bons exemplos disso.

Podiam-se multiplicar os exemplos. Discutir num cenário de televisão durante horas as maravilhas de um profeta que se casa com crianças ou manda matar pessoas, ou os exemplos múltiplos de uma História islâmica que tem violências sem fim (todas as Histórias têm), mas que não reconhece a sua natureza violenta, ao contrário do que, por influxo cristão, a Europa reconheceu, são tantos outros exemplos de que a cultura islâmica passa mal por crivos civilizacionais mais exigentes, aos olhos europeus, pelo menos. Todas as culturas são violentas. A cristã reconhece que o foi e é. A islâmica não. Essa a diferença. Escolha-se entre as duas. Mas esses olhos europeus são olhos de pessoas que vieram de culturas muçulmanas também, e vivem na Europa ou alhures.

A isto se tem de acrescentar um sexto factor de fragilidade não muito referido, este no âmbito da sociologia das religiões. As conversões ao cristianismo, geralmente mais secretas, por força da pressão social em relação ao convertido, pressões que a Europa tolera com bonomia.

Há conversões de muçulmanos ao cristianismo que não são despiciendas. Não controláveis, sem estatísticas fiáveis, é um factor silencioso, que não pode ser descurado. O sincretismo prático também se observa, nomeadamente em regiões como Marselha, como é típico das sociedades que se vão tornando mestiças. E a este acrescenta-se a indiferença religiosa, o agnosticismo e o ateísmo. Também por influência da Europa. Perigosa estratégia o dos muçulmanos que querem uma invasão de muçulmanos na Europa. Correm o risco de criar novos cristianizados, ou mesmo cristãos.

O islão é fragilizado pela cultura europeia e não apenas na Europa. De natureza já está dividido religiosa e étnica e politicamente. Sob o ponto de vista geoestratégico é uma cultura sobre pressão, tanto quanto se pretende expansiva. Sob o ponto de vista religioso é marcado pelo cristianismo nas suas categorias e linguagem, dissolvendo em parte a sua identidade ou abespinhando-a. Sendo religião sem prestígio cultural e confrontando-se com a cultura mais criativa do mundo, tanto mais quanto menos se afirma com tal, o islão faz figura de parente pobre e subdesenvolvido do cristianismo. Sem História sólida de auto-crítica, sujeita-se a ser criticado por instrumentos que não criou nem domina e que têm um efeito dissolvente das suas bases. Fragmenta-se como crença, perde adeptos assim como os ganha, mas sempre num ambiente que tende a dissolver a sua força interior.

 

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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Fragilidades do islão III


 

Mas esta fragilidade cola-se a uma quinta a ela associada. A própria religião encontra-se em confronto com o cristianismo na Europa, sobretudo. A crítica ao cristianismo não foi importada. Não chegaram à Europa, muçulmanos, budistas ou hindus, e descreveram-nos as múltiplas contradições ao cristianismo. Se queremos ver uma análise profunda, e uma demolição estruturada do mesmo, é através do pensamento europeu que a temos de procurar. Essa é paradoxalmente a força do cristianismo. Sob o ponto de vista intelectual saiu bem mais forte dessa discórdia, até porque os principais críticos eram cristãos, não apenas de cultura, mas de igualmente de fé. Esse exercício de crítica permitiu libertar a fé do folclore, do traço etnológico que ainda sobrava, da marca histórica meramente acessória. A argumentação está preparada, é robusta, habituada a uma crítica que nasceu dentro do cristianismo. Se é ouvida ou não, é questão que tem mais a ver com a cultura de cada qual. Mas existe e é sólida.

O cristianismo não começou a ser criticado com a Reforma, ao contrário do que o vulgo pensa. O cristianismo já nasceu criticado. Celso ou Porfírio ou Juliano são anteriores à vitória do cristianismo. E são os mesmos que defendem o cristianismo que nos preservaram os que o criticaram. É através dos autores ortodoxos que podemos hoje em dia reconstruir as obras dos autores pagãos que criticaram o cristianismo. Mas, não menos importante, o cristianismo desde a origem conhece bem as suas fragilidades. Não é exemplo do grego perfeito, nem da cultura perfeita. São Jerónimo bem o sabia. O cristianismo desde o seu nascimento que sabe não ser expressão cultural perfeita.

Já o islão se critica a si mesmo apenas pelo confronto com a cultura cristã. Os muçulmanos vêem que se vive melhor na Europa que em qualquer país islâmico. Basta ver os que fogem através da Turquia e não querem nela parar, e tanto mais habilitados, mais esclarecidos, mais fogem da Turquia, grande país muçulmano e dito europeu por tantos, mas que afinal não ilude os mais capazes. Não sou eu a dizê-lo, mas outros muçulmanos que com convicção viram o traseiro à Turquia. O islão careceu da cultura cristã para aprender a auto-crítica. Não lhe inere, vive-a como postiça e modo trôpego.

 

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