tag:blogger.com,1999:blog-141573821268428522024-03-07T12:08:08.375+00:00Geração de 60Sofia Galvãohttp://www.blogger.com/profile/15699338974316145917noreply@blogger.comBlogger1961125tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-75550628064893737892024-03-07T12:07:00.004+00:002024-03-07T12:07:29.464+00:00Ser e dever ser <p> </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Quando andava na faculdade ouvia uma ladainha sempre
repetida que opunha o mundo do ser ao do dever ser. O mundo do ser era
descartado e dedicávamo-nos ao mundo do dever ser. Esta obnubilação da
ontologia era apenas o primeiro problema. Bem maior era o de pessoas que se
diziam cristãs sentarem os seus pouco estéticos traseiros sem pensar o que
tinha de artificiosa a distinção. Para um cristão o auge do ser e do dever ser
é Cristo. Mas esta era uma ideia que não lhes passava pela cabeça.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A ideia de dever pode existir em várias gramáticas. Mas
entre os gregos e os romanos era bem mais difusa. «Officium» em Cícero, sem
dúvida. Mas o verbo é usado sobretudo no latim medieval. No latim clássico
usa-se o gerundivo, que se traduz como dever. Em vez do medieval «distinguere <i>debemus</i>»
surge o muito mais elegante «distinguendum <i>est</i>». A própria construção
verbal com o verbo «esse», ser, mostra que a visão romana é antes do mais
ontológica. Está-se a falar do que é. Em vez de se falar em dever talvez se
devesse falar de tarefa. É tarefa distinguir. Muito melhor assim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Uma coisa é uma tarefa que está à nossa frente e parte da
nossa essência, outra coisa é um dever que se pode mesmo colocar no centro da
alma, mas que se opõe à realidade. Uma tarefa é uma realidade que decorre do
que somos, um dever opõe-se ao que o mundo é.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Não faço jogo de palavras. Não é por mera ocasião que quem
mais teoriza essa distinção é Kant. Kant é um imenso génio ao estilo medieval, que
faz obras de grande relojoaria como os escolásticos, em que da primeira à
última palavra tudo está concatenado. O vulgar não percebe até que ponto ele é
medieval na sua consistência lógica e por isso sente-o como moderno. E sente-se
moderno quando o lê. Ora, o que se chamavam a si mesmo os medievais? De
medievais? É evidente que não. Chamavam-se a si mesmos de... modernos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Kant permite aos seus leitores serem medievais sob a
condição de abdicarem da ontologia. De início como modo de pensamento. De
seguida, nos seus sequazes, mesmo como aspiração. E ainda mais os seus leitores
se sentem modernos por terem sido desapossados. Mas tiveram alguma vez posses?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As obras éticas de Aristóteles mostram a mesma frescura. Não
se diz: deves fazer isto. Mas: olha o que fazes e vê as consequências. As
acções vêm do seu autor, são expressão do que ele é, as suas consequências são
postas no mundo. É evidente: Aristóteles não é um simples moralista. É um homem
com uma gigantesca capacidade ontológica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Quando vejo alguém que só fala de moral e valores penso que
é sempre um duplo sinal. De amputação intelectual. Incapaz de ontologia, escuda-se
no dever ser. De reles origem, quer primar por uma nobreza interior
insindicável. Sou melhor que os outros apesar de ser um esfacelo e um burgesso,
é o que está a dizer. O mundo moral é invisível e insindicável, bom refugio
para os desgraciosos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Não é por coincidência que segue, mesmo que não queira, os
pós-modernismos. O exercício de dissolução do ser que lhe impõem não lhe dá nem
trabalho nem sacrifício. Pronto a vestir é o seu mundo. Já tem tão pouca
substância e de tão pouco valor que lhe é fácil abdicar de coisa tão ligeira e
de tão escassa valia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O grau mais reles deste pensamento é o dos que dizem que não
têm identidade, que são cidadãos do mundo, que as fronteiras são apenas as dos
direitos do homem. Como acham que o mundo do dever ser se configura livremente,
acabam por achar que o mundo realmente importante é o da sua fantasia. E como
também esta é fraca, tudo o que lhe agrada à primeira impressão é colocado
neste mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A questão é que nada nesse seu mundo de fantasia tem
consistência. Diz não ter identidade, mas passa a vida a defender a identidade
de outras culturas religiões e modos de vida. Presunçoso, considera-se superior
aos outros, enraizados, e ele sem raiz. Os que vê como seus concidadãos são os
que falam um inglês sem Pope nem Donne como ele, como ele usam a Internet, e
como ele defendem causas ambientais. Incapaz de pensar uma real diferença,
julga-se universal porque vê o mundo à sua medida: chão e uniforme. E as
fronteiras delimitadas pelos direitos do homem consolam-no por lhe permitirem atingir
uma universalidade sem ontologia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um mundo moral, o mundo da sua fantasia, um mundo em que
aceita que nada é perene. Como ele, é tudo caduco, previsível, enfadonho, sem
aventura. A sua leitura não é a epopeia nem o texto sagrado. Mas o hipertexto. Ou
seja, um texto prenhe de possibilidades nunca realizadas, mas de conteúdo nulo.
Celebra-se. E é bom que se celebre. Que depois da sua morte ninguém o vai
fazer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-20351004196905912942024-02-15T12:01:00.007+00:002024-02-15T12:01:56.982+00:00Devemos desprezar Mandela?<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">A resposta é obviamente positiva e não sou eu a dizê-lo, é a
nossa época em coro unânime.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Dizer que a África do Sul se transformou num país corrupto e
violento, ou que perdeu importância relativa na economia africana não é
argumento. Muitos homens grandes deixaram bem menores depois da sua morte. Não
são os chefes menores da Academia que diminuem a grandeza de Platão. A questão
é bem diversa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A nossa época diz-nos que devemos desprezar Mandela, Gandhi
e Martin Luther King. Di-lo, mas não sabe que o diz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A resistência pacífica é algo de precioso? Não, diz-se hoje
em dia. Não foi Gandhi o criador da resistência pacífica, mas antes os mártires
de Córdova do século IX. Cristãos sob o domínio muçulmano revoltaram-se contra
ele. Com armas? Não. Saindo à rua e dizendo que eram cristãos. Como os trata a
historiografia liberal? Como provocadores que no fundo mereceram ter sido
mortos pela espada, e outros crucificados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alguém os invoca hoje em dia? Não. A resistência pacífica
não interessa ninguém hoje em dia. O importante é ter lutado contra os impérios
europeus. Os argelinos que castraram e mataram europeus são vistos como heróis,
tanto quanto Gandhi. A invocação da resistência pacífica é apenas um pretexto. Com
ou sem violência, alguém é bom apenas se se tiver oposto aos europeus. A
originalidade de Gandhi é assim nula, como mostrei, e irrelevante, como a nossa
época pensa, mas não diz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Sim. A admiração por Gandhi destruída pela nossa época. Mas
Mandela, e Martin Luther King? A nossa época não os admira? A resposta é
negativa. Apenas lhes dá uma caução provisória, até arranjar outros que os
substituam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Como posso afirmar isto? Como não percebo a admiração tão
sincera e tão proclamada em relação a eles?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Também aqui a demonstração é simples. Quando era criança
lembro-me bem de quem eram os heróis do humanitarismo. Florence Nightingale e
Albert Schweitzer. Eram sempre dados como exemplos máximos dele. E agora? Quem
cita Mandela, King e Gandhi nunca refere os primeiros. Porquê? É que se admira
o humanitarismo deveria não esquecer os grandes humanitários. E, no entanto...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A época quer mortos frescos, prontos a admirar. A substância
do que alguém fez, o seu mérito não tem importância. A sua admiração tem um
prazo de validade. É pela mesma razão que é indiferente aos mártires de
Córdova, a Florence Nightingale e a Albert Schweitzer que a sua aparente
admiração por novos heróis se mostra oca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No século XXII irão admirar a Kakaká e o Lelelé e se alguém
lhes falar em Mandela vão mostrar a total indiferença que sentem por Mandela. A
sua admiração é de consumo, como um iogurte: caduca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nesse século XXII será o meu equivalente que lhes vai
lembrar Mandela e os mártires de Córdova. E lhes vai lembrar que, nada
admirando de perene, deixam a nu o vazio da sua admiração. E nessa altura quem
falar de Mandela vai ser desprezado. Precisamente: pelos defensores do
humanitarismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Eis como esta época me ensinou que Mandela, King e Gandhi
são desprezíveis. Porque só os admira sob a condição de os poder livremente
substituir na sua memória. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-23427112895546883682024-01-30T13:29:00.002+00:002024-01-30T13:29:23.289+00:00A questão judaica<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Vamos
por partes. Só vendo os vários efluentes podemos conhecer bem o rio. Bem sei
que é tema perigoso. Os hábitos tribais e provincianos dos europeus
transformaram em tabu a questão. Época estreita esta. Rasguemos um pouco os seus
antolhos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Primeiro
curso de água: uma ou outra série de televisão, filmes de Hollywood, uns
documentários e, para os que se julgam mais dotados, alguns livros. O
holocausto foi um horror, o anti-semitismo um outro horror. Sem qualquer margem
para reflexão. Num nível mais presunçoso há mesmo os que vão mais longe no
tempo e dizem que o anti-semitismo é de origem cristã. Neste caso, e só quando
tem defeitos, a nossa civilização deixa de ser por milagre judaico-cristã e
passa a ser apenas cristã. Caprichos...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Este
quadro acabou de vez com o anti-semitismo? É que se o diagnóstico fosse
profundo e certeiro não teríamos dados largos passos no caminho da terapêutica?
Uma árvore conhece-se pelos seus frutos. E os desta são escassos e de pouco
alimento. O anti-semitismo pulula na nossa época.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Segundo
curso do rio. Dois livros. Em 1844 um de Marx. Em 1944 um de Sartre. De comum
um e outro: contra a ideia da Revolução Francesa do homem universal. O problema
judaico só se resolve com o homem concreto na sua situação concreta. Esconder
que há um judeu, em suma, esconder a essência (sim, a essência, os marxistas
clássicos têm uma metafísica) é eludir o problema. Esta é a boa tradição
marxista contra a visão burguesa do homem universal, a de Marx, a de Labriola e
mesmo Sartre. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Este
segundo curso tem os seus méritos. Não é por o judeu ser integrado na cidade e
tratado igualmente com os outros cidadãos que desaparece o problema judaico. Nisto
os marxistas tinham razão. Não tinham o fetiche da lei. Ainda hoje em dia um
ministro pode ser igual perante a lei mas de reles semblante visível a todos. A
lei nada cura. E nisto o judeu não é diferente dos outros. A lei apenas nivela
o que pode. Não destrói as desigualdades naturais. E é evidente que há graus de
honestidade diversos. Labriola, o mais aberto, não pode ser comparado ao
oportunismo de Sartre. Marx omite muito, mas ao menos não encobre com fórmulas
mágicas como Sartre.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
outra corrente é a popular. E como tudo o que é de baixo nível faz encontrar os
extremos pelo lado errado. Um dos extremos é o do filo-semitismo popularucho. O
das séries de televisão e quejandos. Os judeus são vítimas, foram sempre
vítimas e são credores eternos em relação ao resto do mundo. O outro extremo é
o do anti-semitismo popularucho. Os judeus são eternos culpados façam o que
fizerem. Entre turcos e muçulmanos em geral prevalece este movimento. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nem
uma nem outra força acabaram com o anti-semitismo. Declarar que um povo é
isento de pecado original é tão perigoso quanto afirmar que dele tem o
exclusivo. Porque de uma forma ou de outra cria uma ligação especial entre esse
povo e o pecado original. Teria sido bem mais sensato ver o que de trivial tem
esse povo para se dissolver da trivialidade da História. O problema é que
ninguém parece querer que seja trivial. Tanto quem gosta como quem não
gosta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Uma
outra corrente assenta numa dimensão algo intelectual, mas em modo menor. A do
sionismo e do anti sionismo. Algo menor porque criada por intelectos bem
inferiores a Marx ou Labriola. Por jornalistas políticos, para dizer tudo. Theodor
Herzl é uma personagem bem curiosa, com todos os clichés contra os judeus -
tanto ele como Sartre falam da fealdade dos judeus, e Sartre bem sabia de
fealdade. O criador do sionismo não achava que o povo judeu fosse belo ou
particularmente inteligente, mas queria um lugar seguro para ele. E conseguiu a
simpatia do Kaiser Guilherme II da Alemanha e do rei da Itália. De certa forma
quem mais banalizou o povo judeu foi quem mais efeitos obteve no longo prazo. O
anti sionismo alimenta-se, enquanto mero anti sionismo e não mero disfarce do
anti judaísmo da mesma ideia de que o povo judeu é banal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Uma
forma especial desta corrente popular é também dupla. A extrema-esquerda e o
islamismo parecem ser completamente opostos. Afinal, a extrema-esquerda não
odeia a religião? Sim. Odeia a religião. A única que consegue ver como
verdadeira. A cristã. As outras são deliciosas expressões de outras culturas. Vazias
de sentido, mas ao menos formas legítimas de existência. O que os une é muito
mais. Um pensamento plebeu que nega toda a forma de aristocracia, uma obsessão
com a violência verbal e física, com a expressão universal absoluta e ao mesmo
tempo destruidora. Uma baixa origem e baixos intentos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Sendo
ambos filhos do folclore urbano tendem ambos a ficar satisfeitos com a ideia de
que os judeus são todos capitalistas, actuando por detrás da cena. Não é por
acaso que em países asiáticos como a Turquia o protocolo dos sábios de Sião faz
desde há muitas décadas sucesso. Não tendo participado dos arcanos do poder
acham que todo o poder é arcano. O que os separa é no fim absoluto e bem se
sabe que num dia em que os islamistas tiverem poder os primeiros a ser mortos
serão os de extrema-esquerda. Mas é o Estado liberal que permite a sua união. Precisamente
por não permitir que se matem uns aos outros e esconder o facto de que essa é a
história final. Triste comédia de enganos, como todas terminará em tragédia...
ou farsa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
fundo da questão judaica é eludido por quem detesta e por quem adora os judeus.
A Europa é o único continente que corresponde a uma cultura. Não há uma cultura
africana. Um egípcio não se sente irmanado com um quimbundo. Não há cultura
asiática. Um turco e um chinês não têm a mesma cultura. A Europa era o único
continente mono religioso. Toda a Europa era cristã até que há trinta anos se
decidiu que devia ser multicultural.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
questão judaica na Europa só tem acuidade secular porque os judeus
tradicionalmente são o único elemento de multiculturalismo na Europa. Irrelevantes
sob o ponto de vista demográfico, e até ao século XIX irrelevantes sob o ponto
de vista económico político e cultural. Não há sinagogas nas praças principais
das capitais europeias, não há famílias reais judias, nem famílias nobres
judias. As nobilitações do século XIX nunca geraram dinastias reconhecidas pela
nobreza de sangue. E ainda hoje em dia a antiga nobreza inglesa, de origem
franco-normanda não reconhece as raras famílias judias nobilitadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Enfim,
longa demonstração a fazer noutro lugar. A questão no caso é outra. A questão
judaica é o único sintoma secular multiculturalismo na Europa. Todos os
sistemas multiculturais em todas as épocas em todas as civilizações foram de
violência cíclica e de reserva mental. O que a Europa está habituada a pensar
em relação aos judeus já a Hispânia muçulmana, os impérios árabe e turco e o
sassânida conheciam em relação aos judeus e aos cristãos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre
Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-9678872786299129812023-12-14T11:51:00.003+00:002023-12-14T11:51:13.637+00:00 Ho fame <p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alessandro
Manzoni é um dos meus autores preferidos. Para explicar a razão levaria aqui
muito tempo. O que importa é que, por uma ligação de afecto ou o que se queira
chamar, gosto de atravessar sempre que possível a Via Alessandro Manzoni em
Milão. Sai-se da Galeria de Victor Emanuel e vê-se em frente o Teatro della
Scala. Quem gosta de ópera já sabe do que falo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">É
uma rua rica numa zona rica numa cidade rica. Mesmo no início da rua, do lado
direito, vi por quatro dias um homem que dormia na rua e parecia não sair de
lá, de dia ou de noite. Sempre coberto com um édredon, deitado quase sempre, uma
vez vi-o sentado a olhar com concentração um ponto, não sei o quê. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As
palavras que com ele troquei são agora irrelevantes, e que Deus me julgue por
que só Ele pode conhecer. Mas das várias vezes que passei por ele vi o seu
olhar vazio, talvez sem motivação, ou sem estímulo. Ao seu lado uma cartolina
que dizia em capitulares a frase mais simples: HO FAME. Tenho fome.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Numa
rua rica num bairro rico num país rico num continente rico. Tenho fome. Notoriamente
italiano, portanto europeu, portanto responsável pelo colonialismo e pela
exploração dos outros povos. Um porco explorador sem redenção. Tenho fome. E
pensei como uma Europa rica acha que já resolveu o problema da sua pobreza e
pode abandonar-se às delícias da miséria alheia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Tenho
fome... Chesterton dizia que se queríamos ver real diversidade devíamos apanhar
o metro e sair na estação seguinte e não ir à outra ponta do mundo. Compreende-se.
Quem precisa de andar centenas ou mesmo milhares de quilómetros para ver a
diversidade apenas mostra que não tem subtileza. Só lê o que aparece em letras
garrafais. Não percebe a importância fundamental das diferenças subtis. Precisa
do tamanho gigante para ler um texto. É um destituído, em suma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Tenho
fome... A mensagem cristã é a de amar o próximo, não a humanidade. A primeira é
de Cristo, a segunda é de Victor Hugo. Alguém que não veja a diferença entre um
e outro mais uma vez mostra que não é subtil. Curtius dizia que Hugo era uma
cascata de banalidades e em parte tem razão. As suas proclamações são actos de
teologia definhada em alma de merceeiro. Não era um génio do pensamento. E por
isso é fácil de seguir por definhados do pensamento como ele. De novo, os bons
sentimentos...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">HO
FAME. Os que se ocupam do Terceiro Mundo e não vêem a miséria à sua volta, os
que se consideram globais, ou seja, e em confissão plenária, rotundos, são
apenas os descendentes de pensadores de taberna, para quem o destino do seu
próximo é irrelevante, e a defesa dos fracos apenas prevenção contra os ataques
legítimos ao que são. Afirmando-se defensores dos fracos, pavoneiam uma
santidade que não têm e afirmam ninguém ter.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Tenho
fome... O que não perdoam ao próximo que tem fome concreta e não faz parte dos
seus pobres quadros conceptuais é que exista e que seja ao mesmo tempo uma
metáfora do que são. Uma miséria indiferente à miséria alheia que precisa criar
o espectáculo da preocupação quando a sua verdade é apenas a de destituídos. Já
não de pão, mas de espírito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre
Brandão da Veiga</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-1069399586825912342023-11-10T18:38:00.005+00:002023-11-10T18:38:28.779+00:00O paraíso platónico<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Quem
confia nos deuses? Sendo incomensurável, quem pode ter a certeza do que nos
desejam e, pior ainda, das suas limitações? Que promessas nos fazem? Que promessas
podem cumprir? O homem moderno já superou isto tudo porque usa telemóvel, telecomando
e televisão, tudo com o prefixo de «longe», porque para ele tudo está longe como
o pensamento, e em consequência desencarnado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">A imaginação
humana, raramente consoladora, se lhe vemos a face insuficiente, dá-nos consolações
coxas. Ou há paraísos para homens, em que as mulheres têm como destino estar de
pernas abertas para os satisfazer, ou andamos todos aos saltinhos a pular uns
com os outros e passamos a ter o arcaboiço intelectual de cabritinho, enquanto
entoamos laudas aos direitos do homem, ou somos atirados à frigidez das
estrelas. É o que homem pode em geral, e é bem pouco, porque o muito que podem
alguns poucos não sobra para atingir os céus impunemente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">E eis
um dos muito poucos que ousa dizer coisas sobre o paraíso. Ou melhor, sobre a
sua entrada e os sinais que dele conseguiu receber. Não entrou no paraíso, nem descreveu
a eternidade porque esta levaria uma eternidade para o fazer. Esse mesmo: Platão.
Um dos raros chamados de divino, seja por hábito, seja por real admiração, seja
por uma lucidez que chama os nomes que podemos chamar a alguém que soube dar nomes
a muitas coisas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Não se
pode exigir mais da perspectiva humana. Buda fez algo muito diferente, e era também
apenas humano. Mas a sua opção foi não descrever, ou fazer-nos ao menos acreditar
que não descrevia. Aristóteles não descreve, mas apontou com conceitos, ou seja,
com filhos do sentimento, o que seria o mundo da divindade. E outros fazem genealogias,
como Plotino, e em excesso Proclo. Veja-se onde pode ir a imaginação humana. A dos
grandes, dos muito grandes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">A entrada,
porque não é do seio paradisíaco que fala, a entrada é um grande julgamento. Faz
sentido. Também as punições e as recompensas. A mitologia grega já as tinha e muitas
religiões as tinham. É de filósofo não ter medo da religião. E dessa entrada vêm
sinais do que é o paraíso. Quais são esses sinais?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">«Ardieu
não veio, nem virá mais aqui. Entre os espectáculos terríveis a que assistimos
também este nos tocou» (<i>Rep</i>. 615d) (PLATONE, <i>Repubblica</i>,
Bompiani, Milano, 2019, pp. 1056-1057). Sem qualquer possibilidade de redenção.
Definitivo. Para quem sorrir perante esta possibilidade que pense o que seria
arder num inferno destes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">No
mito de Er (<i>Rep</i>. 621b) (PLATONE, <i>Repubblica</i>, Bompiani, Milano,
2019, pp. 1074-1075) há um rumor e um terremoto. Platão não o quer dizer, mas é
o que diz: o céu não é um local absolutamente seguro. Não o queria dizer, mas
disse-o. Não conhece um céu sem possibilidade de fissuras, senão de crepúsculo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">O paraíso
platónico é contado desde a Renascença pelo menos, e pela filosofia clássica alemã
de Oitocentos, como o reino da serenidade, da compleição, da satisfação de si,
do saciamento. Tudo isto contra a inquietação cristã, essa insidiosa malandra
que quando é contada por Pessoa é excitante, mas quando se vê cristã é sinal de
espírito masoquista e indiferenciado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Eis-me
indiferenciado. Contra todas as possibilidades humanas, contra a imaginação
humana, contra a insipidez humana que se julga aventurosa apenas por achar que
supera não se sabe bem o quê, contra tudo isso, percebo que Platão mostra a sua
grandeza que o leva até onde foi, e a sua grandeza meramente humana, quando
mostra que não consegue conceber um paraíso que não seja defectivo, que não perca
pessoas, que não tenha fissuras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Foi o
mais longe que um ser humano poderia ir com as suas forças. Buda calou, pelo menos
em algumas das suas versões, Platão disse algo. E disse por isso algo mais que Buda.
Falou das brechas do maior dos bens que conseguia imaginar, porque esse maior
bem era imaginado por um ser humano, ou seja, com brechas. Foi até o mais longe
que podia e viu um abismo, ao menos suspeita dele. E não o calou. Que os seus comentadores
não o refiram é problema dos comentadores, não seu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Porque
quando vai ao fim de si mesmo o ser humano apenas encontra um espelho, e o retrato
de si mesmo. Para ver algo mais tem de aceitar um encontro com alguém que partilha
a sua natureza e a transcende ao mesmo tempo. Os paraísos que o ser humano
consegue imaginar acabam sempre em pesadelos, ou pior ainda, anunciam-nos ao
longe. Onde está Ardieu, o que farão os terremotos? Que anunciam os rumores? Os
que esperam do paraíso uma consolação de remendo e não a verdade acabam na ilusão
e no tremor. E esta ilusão só a revela Quem é em si mesmo a Verdade, mas essa será
dita noutras <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ocasiões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Alexandre
Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-60471610159616824662023-11-06T12:35:00.006+00:002023-11-06T12:35:44.510+00:00Os europeus são exploradores?<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Já
sabemos que os europeus são a pior raça que existe na Terra e isto é mesmo
verdade mesmo que não existam raças. Os europeus exploraram o resto do
mundo, que não conhecia a exploração antes de os europeus a terem criado. Mais
ninguém explora ninguém.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas
há uma relação entre três factos, público declarados e evidentes que não vejo
ser feita.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">1)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Cada vez há menos europeus a emigrar
para o Reino Unido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">2)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Cada vez há mais emigrantes não
europeus a migrar para o Reino Unido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">3)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Há falta de mão de obra em sectores
muito consumidores de trabalho como a hotelaria, a restauração, os serviços
médicos, o apoio a velhos e deficientes, as colheitas na agricultura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Estes
trabalhos que são muito exigentes em trabalho não são, em consequência, realizados
por trabalhadores não europeus.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Por
isso temos de chegar a algumas conclusões:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l1 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">1)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">São trabalhos fáceis e pouco
exigentes. Por isso, são tipicamente realizados por europeus.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l1 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">2)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os paquistaneses e africanos que
emigram não se dedicam a estas actividades porque são todos doutorados e vêm
fazer revoluções na ciência inglesa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l1 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">3)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ou os não europeus vêm realizar
trabalhos menos exigentes ou vêm parasitar os bens e serviços públicos
britânicos que, por mais medíocres que possam ser numa perspectiva nórdica, são
um paraíso para gente vinda do Terceiro Mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Temo
bem que os jornalistas e os académicos já tenham dado o seu veredicto: os
milhares de migrantes não europeus são todos doutorados, sobretudo em física
atómica e topologia. E todos eles vão contribuir para as revoluções científicas,
filosóficas e artísticas da Europa futura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ficamos
todos felizes. O mundo encontrou a sua coerência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre
Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-26770749143662956132023-10-23T10:59:00.009+00:002023-10-23T10:59:54.451+00:00O grande sonho crítico<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">É
bem conhecido o lugar-comum de Kant dizendo que se libertou do seu sono
dogmático lendo a obra de Hume. Vejo isto repetido, e pode ser mera ladainha,
ou importante premissa para um raciocínio mais escorado. Cita-se a frase, e
esquece-se o seu efeito encantatório.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">É
que uma coisa é dizer que Kant se sentia num sono dogmático, e como ele passava
as noites melhor ele saberia, outra coisa são as ilações que o leitor obediente
desta observação retira. A primeira: os sonos apenas nascem da dogmática. A
segunda: a dogmática conduz forçosamente a sonos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Comecemos
pela segunda, que é mais fácil de rebater. Toda a revolução científica foi
feita por dogmáticos, no sentido em que foi feita por cristãos convictos e que
aderiam muito conscientemente a dogmas. Galileu, Kepler e Pascal aos dogmas
católicos e mesmo o anti-trinitário Newton aos dogmas de um Deus criador etc.
Dogmáticos, porque o eram também na ontologia. Não eram medíocres como os pós-modernos
negadores de toda ontologia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
dogmática conduz a sonos? Cria o torpor? Onde? Onde Bach ou Pergolesi perderam
a lucidez é algo que terão de me explicar, que se me escapa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Vamos
então à segunda tese, implícita, como tudo o que é nebuloso: os sonos apenas
nascem da dogmática. A crítica nunca gera sonos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Primeira
fraqueza desta tese: a de acreditar que conseguimos ser plenamente críticos e
auto-críticos sem pressupostos implícitos. Puro irrealismo e infantilidade. Ignorância
da axiomática. Gente sem literacia matemática.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Segunda
fraqueza da tese: nem tudo o que se chama a si mesmo de crítico o é. Ser
crítico de tudo significa apenas não ter critério e ser destruidor. E mais uma
vez esta tese mostra o seu irrealismo. É impossível fazer crítica consistente
sem premissas sólidas, indemonstradas, sem as quais não há demonstração.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
que acha que a crítica nunca causa o sono vive ele num sono. A prova: vejam-se
quantos académicos dizem que não há verdade, e em tribunal dizem que foram
acusados por mentirosos, quantos dizem que a ciência europeia é ficção mas vão
à urgência médica e não ao marabu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Tartufos?
Mentirosos? Adormecidos? Que importa? No mundo de torpor que celebram, entre a
vigília e o sono não há fronteiras, como não há fronteiras, e os povos e o que
são e os outros nada é. E por isso já vemos os seus argumentos dissolverem-se
como uma pasta informe. Dormem? Como o saber? Não muda a sua justiça acordados
ou em pesadelo. Putrefacto o seu sentido crítico, gangrenam até na sua respiração.
E não digo paz à sua alma, porque afirmam não a ter. Já o tínhamos visto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre
Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-87311846609014139792023-10-16T10:27:00.001+00:002023-10-16T10:27:21.226+00:00Atlântida e Atenas<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
história que vem contada as crianças é a de que um sacerdote egípcio teria dito
ao ateniense Sólon que:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l1 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: 12pt;">1)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;">1) </span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os gregos seriam sempre crianças;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l1 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: 12pt;">2)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> 2)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Tinha havido uma grande civilização
a Atlântida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ambas
são verdade. O problema são as ilações que os literatos delas retiram:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l0 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: 12pt;">1)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> 1) </span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os gregos são bem mais recentes que
os egípcios;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: 12pt;">2)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> 2) </span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A sua memória é mais curta;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l0 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">3</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> 3) </span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Só fora da Grécia houve uma
civilização que pôde confrontar-se com a egípcia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
sorriso masoquista da maioria dos leitores aparece aqui. Veja se como a Europa
é nova-rica perante as grandes civilizações orientais. Como o <i>Ex Oriente lux</i>
faz suspirar os laicos, como se sentem em casa se a civilização vier de terras bíblicas...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas
esta ideia é destinada a vários descalabros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Que,
falando da Grécia, se pense na Europa é acto falhado para quem acha que a
Europa é bem mais recente e só começa com o cristianismo. Está a confessar que
para si a Europa é bem mais antiga do que proclama. Que para lhe dar um
estatuto de nova-rica tenha de ir a tempos cristãos, quando ao mesmo tempo diz
que o cristianismo não é constitutivo da Europa outro seu fracasso intelectual.
Cabeças cheias de contradicções.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Que
a memória do grego seja mais curta que a egípcia resulta claro do texto. Do
próprio Aristóteles há textos de que resulta que os gregos tinham noção de que,
poucos séculos antes, tinham vindo de uma época turva, convalescente. Mas
memória mais curta não significa História mais curta. Significa apenas que não
se tem memória da sua História.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
que diz o sacerdote egípcio? Vocês atenienses esqueceram-se da vossa grande
História, quando Atenas era poderosa e muito desenvolvida. O vosso problema não
é vir de baixo, mas o de se terem esquecido que vêm de cima.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Se
os gregos serão eternas crianças, não é por estarem na infância da civilização,
mas por se terem esquecido que vieram do contrário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
Atlântida era um grande civilização, mas Atenas também, e houve mesmo uma
guerra entre elas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As
ilações dos literatos, salvo a da memória curta são, pois, todas falsas. O
problema dos gregos não é de terem uma História inglória ou curta mas de se
terem esquecido de quão antiga e gloriosa era.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
masoquismo europeu fica aqui embaraçado. Porque o mito popular enleva a
Atlântida e não dá lugar à grande Atenas? Quer dizer talvez que os gregos
actuais, ou seja, os europeus, ainda são eternas crianças e se esquecem de quão
antiga e gloriosa a sua História tão ou mais antiga que a egípcia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Aqui
tinha razão Chateaubriand quando dizia que se os europeus vissem a sua História
como europeus se veriam mais antigos que a China.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Aqui
pode ter razão quem veja nesta História a marca da queda da civilização do
Bronze no fim do século XII a.C., em que, de todas as grandes culturas, a
helénica, micénica e cretense, a hitita, a mesopotâmica e a egípcia, só a
última resistiu, mesmo que pagando o preço de uma forte decadência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Que
os gregos dos séculos V e IV a.C. tivessem memória de um descalabro e negrume
histórico é inevitável. Ao contrário dos romanos, que se sabem de longa História
e migrantes, os gregos julgam-se de mais curta. A aristocrática Esparta vê se
descendente de migrantes dórios, a democrática Atenas vê se nascida da terra
autóctone, racicamente pura. Os nazis tinham tanto interesse na democracia ateniense
quanto na aristocracia espartana e com boas razões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Lido
o texto directamente (<i>Timeu</i> 21E-26E), sem as glosas das glosas que
satisfazem os literatos, revela-nos uma História bem diferente. E uma História
que choca o transeunte da cultura. Mas se esse europeu se sente confortável em
ser chamado de novo-rico, vindo de baixa cultura e sempre inferior a outros,
talvez esteja a ser justo. Mas consigo mesmo. Não com os seus parceiros de
civilização que gostaria de consigo arrastar na lama.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre
Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Atlântida
e Atenas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
história que vem contada as crianças é a de que um sacerdote egípcio teria dito
ao ateniense Sólon que:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l1 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">1)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os gregos seriam sempre crianças;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l1 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">2)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Tinha havido uma grande civilização
a Atlântida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ambas
são verdade. O problema são as ilações que os literatos delas retiram:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l0 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">1)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os gregos são bem mais recentes que
os egípcios;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">2)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A sua memória é mais curta;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l0 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">3)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Só fora da Grécia houve uma
civilização que pôde confrontar-se com a egípcia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
sorriso masoquista da maioria dos leitores aparece aqui. Veja se como a Europa
é nova-rica perante as grandes civilizações orientais. Como o <i>Ex Oriente lux</i>
faz suspirar os laicos, como se sentem em casa se a civilização vier de terras bíblicas...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas
esta ideia é destinada a vários descalabros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Que,
falando da Grécia, se pense na Europa é acto falhado para quem acha que a
Europa é bem mais recente e só começa com o cristianismo. Está a confessar que
para si a Europa é bem mais antiga do que proclama. Que para lhe dar um
estatuto de nova-rica tenha de ir a tempos cristãos, quando ao mesmo tempo diz
que o cristianismo não é constitutivo da Europa outro seu fracasso intelectual.
Cabeças cheias de contradicções.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Que
a memória do grego seja mais curta que a egípcia resulta claro do texto. Do
próprio Aristóteles há textos de que resulta que os gregos tinham noção de que,
poucos séculos antes, tinham vindo de uma época turva, convalescente. Mas
memória mais curta não significa História mais curta. Significa apenas que não
se tem memória da sua História.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
que diz o sacerdote egípcio? Vocês atenienses esqueceram-se da vossa grande
História, quando Atenas era poderosa e muito desenvolvida. O vosso problema não
é vir de baixo, mas o de se terem esquecido que vêm de cima.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Se
os gregos serão eternas crianças, não é por estarem na infância da civilização,
mas por se terem esquecido que vieram do contrário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
Atlântida era um grande civilização, mas Atenas também, e houve mesmo uma
guerra entre elas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As
ilações dos literatos, salvo a da memória curta são, pois, todas falsas. O
problema dos gregos não é de terem uma História inglória ou curta mas de se
terem esquecido de quão antiga e gloriosa era.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
masoquismo europeu fica aqui embaraçado. Porque o mito popular enleva a
Atlântida e não dá lugar à grande Atenas? Quer dizer talvez que os gregos
actuais, ou seja, os europeus, ainda são eternas crianças e se esquecem de quão
antiga e gloriosa a sua História tão ou mais antiga que a egípcia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Aqui
tinha razão Chateaubriand quando dizia que se os europeus vissem a sua História
como europeus se veriam mais antigos que a China.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Aqui
pode ter razão quem veja nesta História a marca da queda da civilização do
Bronze no fim do século XII a.C., em que, de todas as grandes culturas, a
helénica, micénica e cretense, a hitita, a mesopotâmica e a egípcia, só a
última resistiu, mesmo que pagando o preço de uma forte decadência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Que
os gregos dos séculos V e IV a.C. tivessem memória de um descalabro e negrume
histórico é inevitável. Ao contrário dos romanos, que se sabem de longa História
e migrantes, os gregos julgam-se de mais curta. A aristocrática Esparta vê se
descendente de migrantes dórios, a democrática Atenas vê se nascida da terra
autóctone, racicamente pura. Os nazis tinham tanto interesse na democracia ateniense
quanto na aristocracia espartana e com boas razões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Lido
o texto directamente (<i>Timeu</i> 21E-26E), sem as glosas das glosas que
satisfazem os literatos, revela-nos uma História bem diferente. E uma História
que choca o transeunte da cultura. Mas se esse europeu se sente confortável em
ser chamado de novo-rico, vindo de baixa cultura e sempre inferior a outros,
talvez esteja a ser justo. Mas consigo mesmo. Não com os seus parceiros de
civilização que gostaria de consigo arrastar na lama.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre
Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-12357816422361791762023-09-29T16:52:00.003+00:002023-09-29T16:52:29.529+00:00Os cristãos destruíram a cultura pagã?<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Recentemente saiu mais um livro a queixar-se dos malandros
cristãos que destruíram a cultura pagã. Para fazer propaganda do livro diz-se
que a autora tem uma grande erudição e que faz novas revelações. Comecemos pelo
princípio. Tudo o que ela diz já era dito por alguma da erudição inglesa do
século XVIII, alguma alemã do mesmo século e do seguinte. Para não ir mais
longe: Gibbon no século XVIII. Este ao menos era original e bom escritor, não
um trauliteiro que queria fazer negócio com as fantasias da plebe. A ironia é
que, e isto os seus admiradores omitem geralmente, no fim da sua vida
converteu-se... ao cristianismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O primeiro problema é que a plebe quer ter novidades quando
é de sua natureza ser redundante. Mas surge um segundo problema. Os leitores da
rapariga ficam indignados e dizem: vejam como os cristãos destruíram a cultura
grega e latina. Seja. Mas esses leitores já algum dia se ocuparam do ablativo
ou do aoristo? Apostemos que não. Se dão tanta importância a culturas
destruídas, porque nunca as estudaram? Estão horrorizados com a morte de quem
lhes é indiferente. Não diz isto algo das suas verdadeiras motivações? Não é a perda
da cultura clássica que os choca, porque dela nada sabem. É o ressentimento
contra o cristianismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Terceiro problema: os cristãos destruíram muitas obras
pagãs. Sem dúvida. Quando durante mais de quinze séculos mais ninguém pode
cuidar das obras pagãs senão os cristãos, o poder total da sua preservação está
nas mãos de cristãos. O que sobra e o que não sobra está nas suas mãos. É uma
inevitabilidade a que enunciam. A crítica plebeia basta-se pois com
trivialidades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um quarto problema surge. O facto de alguém destruir
retira-lhe automaticamente a legitimidade? É que se assim for, um dos grandes
destruidores recentes de obras clássicas foram os Aliados durante a II Guerra Mundial.
Deveríamos insistir sobre este aspecto, e dizer que era melhor Hitler e
Mussolini governarem mais uns anos? A minha experiência é que os neopaganismos
de pacotilha se anunciam de esquerda mas têm muitas afinidades com o nazismo e
o fascismo. Mas é por um misto de ignorância e má-fé que não fazem esta
ligação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E eis um quinto. Grande parte das obras antigas foram
perdidas antes do domínio cristão por esquecimento e desinteresse. Um dos
outros motivos da perda de obras pagãs é técnico. Com a passagem do rolo para o
códice nem todas as obras foram recopiadas. As obras perdem-se porque não são
lidas nem reeditadas. Um país que não faz una única edição bilingue contribui
para a perda de todas as obras clássicas na sua língua original. Portugal é dos
países que menos ar de escândalo pode mostrar quanto a esta perda. <i>Vide</i>
o que diz Giorgio Pasquali ou Alline. Mas os leitores de obras de divulgação
nem conhecem estes nomes e vão estrebuchar muito antes de as lerem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Podemos partir para um sexto problema. Quem preservou todas
as obras pagãs que nos restam? Todas. Precisamente: essas obras que os leitores
da rapariga nunca leram. Quem preservou? Monges cristãos. Gregos e latinos. Querem
ler poesia erótica, obras blasfemas, obras que criticam os cristianismo, como
as de juliano, Libânio, Proclo, Plotino, ou Símaco? Quem as preservou? Monges
cristãos. Ao ponto de o grande filólogo clássico, von Wilamowitz-Moellendorf
ter dito que não podia ser bom classicista quem não for bom medievista. Acham
os leitores desta rapariga que lemos os papiros escritos por Platão? Não. Em
geral o que lemos são manuscritos medievais escritos por... cristãos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E chegamos a um sétimo. Diz o leitor de raspão, agora que se
julga com ideias: seja, foram monges cristãos a preservar as obras antigas que
nos chegaram. Mas isso é uma inevitabilidade. Nada há de meritório nisso. Revela
aqui o leitor do povo dois problemas. O primeiro é que a inevitabilidade
atravessa a sua vida. Para desmerecer o adversário tem de o achar trivial: como
ele mesmo. O segundo é que nenhuma inevitabilidade existe. Da antiga
civilização persa os mais antigos testemunhos literários que nos sobram não são
persas, mas gregos. E quem os preservou? Os monges cristãos. O islão destruiu
esse sim destruiu totalmente os monumentos literários históricos do irão pré-islâmico.
Aqui está. O escândalo que o leitor de obras baratas pode sentir deve senti-lo
em relação aos eruditos muçulmanos. Se acha condenáveis os destruidores
absolutos eis aqui os seus verdadeiros inimigos. Ou o seu escândalo é só
pretexto?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As perguntas a colocar são simples para os leitores
destituídos de livros indigentes. Mas fiquemo-nos por uma simples: quantos
autores clássicos leu? Quantas vezes se perdeu no humor melancólico de Menandro
ou nas tríades de Proclo? Se a resposta for: nem sei do que falas já ficámos a
saber que não são os supostos crimes dos cristãos que o chocam, não é a justiça
que o motiva, mas vontade de acusar os cristãos de seja o que for. Lembre-se,
no entanto, que o seu argumento o vincula. Se lhe causam indignação os selvagens
que destroem obras de cultura superior será um dia advertido: olha estes
selvagens que destroem igrejas, pinturas e preferem a música dos selvagens a
Bach. O seu embaraço só porá a nu que a única coisa que o choca não é a
destruição da grandeza, mas a vitalidade da única religião que o chamou de
gente e lhe deu dignidade: o cristianismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; line-height: 107%;">Veja-se o efeito
desastroso que teve a II Guerra Mundial para os arquivos em Itália (BELLI,
Carolina, «Storia e Feudi. Rileggere le Fonti», in BRANCACCIO, Giovanni (cur.),
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Il Feudalesimo nel Mezzogiorno Moderno.
Gli Abruzzi e il Molise (Secoli XV-XVIII)</i>, Biblion Edizioni, Milano, 2011,
p. 367). A II Guerra Mundial provoca destruição de arquivos também em Milão. 55
mil tomos foram destruídos na Biblioteca Ambrosiana (PAGLIUGHI, Paolo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Il Cardinal Federico Borromeo</i>, Marietti
1820, Genova-Milano, 2010, p. 263). Destruição de manuscritos alemães pela RAF
durante a II Guerra Mundial (TILLIETTE, Xavier, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vita di Schelling</i>, Bompiani, Milano, 2012, p. 530, p. 886). A II
Guerra Mundial como grande destruidora de documentos (DUNNINGTON, G. Waldo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gauss, Titan of Science</i>, The
Mathematical Association of America, New York, 2004, p. x). </span><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR;">En 1944 um manuscrito destruído em Chartres (RICHÉ,
Pierre, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gerbert d’Aurillac. Le Pape de
l’An Mil</i>, Fayard, Paris, 2006, p. 236). </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; line-height: 107%;">Na II Guerra Mundial o
papiro de Iena sofreu grandes danos (ROUSSEAU, A., «Introduction. </span><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: FR;">Le Papyrus d’Iéna», in IRÉNÉE DE LYON, <i>Contre les
Hérésies</i>, Livre V, Tome I, Éditions du Cerf, Paris, 1969, p. 122). </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; line-height: 107%;">Em
15 de Setembro de 1945, um soldado americano mata Anton Werbern, porque este se
tornou visível ao fumar um cigarro (CHANTRE, Benoît, <i>Le Clocher de Tübingen</i>,
Grasset, Paris, 2019, p. 48), cumprindo assim ironicamente um ensejo de Hitler,
de aniquilar artistas degenerados, e repetindo o destino de Arquimedes, morto
pelo soldado romano.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -7.1pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">A destruição de
manuscritos durante as invasões francesas dos anos 90 do século XVIII na
Alemanha (BOYLE, Nicholas, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Goethe. </i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; mso-ansi-language: EN-US;">The Poet and the
Age</span></i><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; mso-ansi-language: EN-US;">, Volume II, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Revolution
and Renunciation</i>, Clarendon Press, Oxford, 2003, p. 158). </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">É durante as
invasões francesas de Itália que um revolucionário destrói o famoso Terêncio de
Bembo (DAIN, Alphonse, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Les Manuscrits</i>,
Les Belles Lettres, Paris, 2014, p. 190). Em 1870 o bombardeamento de
Estrasburgo destruiu manuscritos preciosos (PASQUALI, Giorgio, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Storia della Tradizione e Critica del Testo</i>,
Casa Editrice Le Lettere, Firenze, 2015, p. 44). Em 1792 o bombardeamento da
biblioteca de Mainz destrói manuscritos (p. 51). Comte dizia que todos os maus
livros deveriam ser destruídos, assim como as poesias medíocres, e extirpados
todos os animais e plantas sem utilidade (GOMPERZ, Theodor, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pensatori Greci. Storia della Filosofia
Antica dalle Origini ad Aristotele e alla sua Scuola</i>, Bompiani, Milano,
2013, p. 1551). A Capella Ovetari agli Eremitani destruída por um
bombardeamento de 11 de Março de 1944 (VASARI, Giorgi, <i>Le Vite de’ più
Eccellenti Architetti, Pittori, et Scultori Italiani, da Cimabue, insino a’
Tempi Nostri</i>, Volume Primo, Einaudi Tascabili, Torino, 1991, p. 495). Obras
sobre homossexualidade foram destruídas por Hitler ou durante bombardeamentos
aliados (TAMAGNE, Florence, <i>A History of Homosexuality in Europe. </i></span><i><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; mso-ansi-language: EN-US;">Berlin, London, Paris. 1919-1939</span></i><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; mso-ansi-language: EN-US;">, Volume I, Algora Publishing, New York, 2004, p. 10).
</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">Isto
mostra como obras escritas podem desaparecer por efeito de dois movimentos
opostos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -7.1pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">A hostilidade da
Igreja contra o helenismo teve alguma responsabilidade na perda de manuscritos,
mas de igual forma foram eclesiásticos que salvaram o património, como Fócio,
Aretas e Planudes; a falta de interesse e compreensão teve maior papel na perda
do património (MAAS, Paul, «Sorti della Letteratura Antica a Bizanzio», in
PASQUALI, Giorgio, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Storia della
Tradizione e Critica del Testo</i>, Casa Editrice Le Lettere, Firenze, 2015, p.
487). A maioria das destruições do manuscrito Arquimedes não foi feita por um
monge ignorante da Idade Média mas depois de 1932 (NETZ, Reviel; NOEL, William,
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Codex Arquimedes</i>, Edições 70,
Lisboa, 2007, p. 189). Em muitos sentidos a nossa época é mais de trevas que
outras, nomeadamente pela cobiça. Os autores dizem-se envergonhados por terem
acusado os monges do Metochion, porque «o Palimpsesto foi criação da religião,
não uma sua vítima» (p. 201). Foi graças à Igreja que sobreviveram muitos
manuscritos (p. 310), foi a Igreja Grega que protegeu o manuscrito durante um
milénio e foram proprietários privados durante o século XX que quase o
destruíram (p. 311). ROUSSEAU, Adelin, «Avant-Propos», in IRÉNÉE DE LYON, <i>Contre
les Hérésies</i>, Livre II, Tome I, Éditions du Cerf, Paris, 2013, p. 12, fala
da incúria dos escribas em relação ao texto de Irineu. Repare-se. Em relação a
um texto cristão, não pagão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -7.1pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">Foram os soldados
de César que queimaram pela primeira vez a biblioteca de Alexandria em 48 a.C.
(DAIN, Alphonse, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Les Manuscrits</i>, Les
Belles Lettres, Paris, 2014, p. 112). A destruição da biblioteca de Alexandria
em 47 a.C. (STRICKLAND, Joseph, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">La
Questione Omerica</i>, Carlo Clausen, Torino-Palermo, 1893, p. 36). Os
exemplares de Platão pertencentes à biblioteca de Aristóteles foram queimados
no incêndio da biblioteca de Alexandria de 47 a.C. (ALLINE, Henri, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Histoire du Texte de Platon</i>, Librairie
Ancienne Honoré Champion, Paris, 1915, p. 58). Canfora defende que a grande
destruição da biblioteca de Alexandria teria ocorrido na luta entre dois
pagãos, Aureliano e Zenóbia (CANFORA, Luciano, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">La Biblioteca Scomparsa</i>, Sellerio Editore, Palermo, 2017, p. 201),
e houve grande destruição do bairro onde ela se situava durante o saque por
Diocleciano (p. 96); não é claro quando à destruição pelo califa Omar (p. 108),
mas afirma que de certeza não foi César quem a destruiu, o que arderam foram
livros em armazém no porto de Alexandria e não a biblioteca (pp. 78, 102, 143),
nem sequer os cristãos, que atacaram o Serápion e não a biblioteca propriamente
dita. O propósito do iluminista Gibbon era apologético, queria atribuir a ruína
da biblioteca de Alexandria aos cristãos (p. 120). Teodósio I, imperador que
tem fama de intolerante, quando monges queimam uma sinagoga, o que era episódio
raro, manda o bispo pagar a reconstrução da mesma (MAGNANI, Alberto, <i>Serena.
L’Ultima Romana</i>, Jaca Book, Milano, 2002, p. 36). Em 399, da mesma forma
que se proibiam os sacrifícios às divindades pagãs na Hispânia, impunha-se o
respeito em relação aos templos pagãos (p. 53). O mesmo Teodósio I escolhe como
mestre de Serena o pagão Temístio (pp. 18-19).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -7.1pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">Os incêndios de
Roma sob Nero, Tito e Cómodo destruíram muitos manuscritos antigos (TIMPANARO,
Sebastiano, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Per la Storia della Filologia
Virgiliana Antica</i>, Salerno Editrice, Roma, 2002, pp. 36, 37). Arete, filha
de Aristipo, é filósofa, no início do século IV a.C., e mestre do seu filho
Aristipo o jovem (GOMPERZ, Theodor, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pensatori
Greci. Storia della Filosofia Antica dalle Origini ad Aristotele e alla sua Scuola</i>,
Bompiani, Milano, 2013, p. 1083). Um concílio de Elvira no fim do século III
recusou o título de mártir a quem foi punido por ter destruído altares pagãos
(MOFFETT, Samuel Hugh, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A History of
Christianity in Asia</i>, Volume I, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Beginnings
to 1500</i>, Orbis Books, New York, 2009, p. 166).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -7.1pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">O triunfo do códice
de pergaminho leva no século IV à transcrição de todas as obras antigas
(ALLINE, Henri, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Histoire du Texte de
Platon</i>, Librairie Ancienne Honoré Champion, Paris, 1915, p. 149). YOUNG,
Frances <i>et al.</i> (ed.), <i>The Cambridge History of Early Christian
Literature</i>, Cambridge University Press, Cambridge, 2008, p. 176: a perda de
autores antigos tem menos a ver com destruição que com falta de interesse, o
que os levou a deixarem de ser copiados. A perda de obras deve-se, muito mais
que à destruição dos homens e do tempo, à falta de cópias (DAIN, Alphonse, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Les Manuscrits</i>, Les Belles Lettres,
Paris, 2014, p. 123). Cícero já se queixa do desaparecimento de texto de Cúrio
no seu tempo (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Brutus</i>, xxxii, 122)
(CICERO, «Brutus», in CICERO, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Brutus.
Orator</i>, Harvard University Press, Cambridge, 2004, pp. 108-109). A perda de
manuscritos antigos deve-se também à passagem do rolo para o códice, e pelo
desinteresse em transcrever obras consideradas menos importantes (WARD, J. O.,
«Alexandria and its Medieval Legacy: The Book, the Monk and the Rose», in
MACLEOD, Roy (Ed.), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Library of
Alexandria, Centre of Learning in the Ancient World</i>, I. B. Tauris, London,
2010, p. 166). Mesmo na época dos Antoninos já havia muitos manuscritos
perdidos (p. 167). No incêndio de Roma do tempo de Nero foram perdidos muitos
documentos de homens de génio (presume-se, gregos) (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ann. </i>XV, XLI) (TACITO, <i>Annali</i>, BUR Rizzoli, Milano, 2018,
pp. 726-727). Já OLLERIS, Alexandre, <i>Cassiodore,</i> <i>Conservateur des
Livres de l’Antiquité Latine</i>, Imprimerie de M<sup>me</sup> V<sup>e</sup>
Dondey-Dupré, Paris, 1841, p. 7, sabia que os autores romanos se queixavam da
negligência dos copistas ao transcrever os seus livros. A perda de manuscritos antigos
deve-se pelo menos em parte à passagem do rolo para o códice segundo NUTTON,
Vivian, <i>La Medicine Antique</i>, Les Belles Lettres, Paris, 2018, p. 7.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -7.1pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">Os tratados
teóricos sobre retórica anteriores ao século I a.C. desapareceram quase todos,
eclipsados pelos sucessores que os usaram e afinal os substituíram (PERNOT,
Laurent, <i>La Rhétorique dans l’Antiquité</i>, Libraire Générale Française,
Paris, 2019, p. 83). Eis mais um mecanismo de perda de textos antigos: o seu
sucesso. É, aliás, muitas vezes o sucesso de uma obra que leva a que seja
copiada, transformada reutilizada até ao ponto de se afundar no seu próprio
êxito (p. 209).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -7.1pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">António, o avô do
triúnviro, já teria dito no início do século I a.C. que sobram poucas obras de
autores romanos sobre retórica e que alguns autores gregos eram apenas nomes já
para a sua geração (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">De Or</i>. </span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt; mso-ansi-language: EN-US;">II xxii, 92-93) (CICERO, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On the Orator. </i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">Books I-II</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 7.0pt;">, Harvard
University Press, Cambridge, 2001, pp. 266-267). Em meados do século XIX
acreditava-se que a maioria das corrupções dos textos antigos vinha da Idade
Média, quando se percebeu que a maioria das corrupções graves dos textos eram
muito antigas (ALLINE, Henri, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Histoire du
Texte de Platon</i>, Librairie Ancienne Honoré Champion, Paris, 1915, pp. 174,
183). No caso dos textos platónicos devem ter vindo do século que se seguiu à
sua publicação (p. 180). Os monges que transcreviam os manuscritos não merecem
a censura que lhes foi feita. A maioria dos textos gregos foram mais
correctamente transcritos que os latinos (pp. 180-181). A nossa tradição
manuscrita é excelente, no seu conjunto superior à que consta dos papiros e
citações (p. 188). O arquétipo das obras de Platão depende de neoplatónicos e
de clérigos (p. 196). Já na Antiguidade tinha começado o processo de
contaminação dos manuscritos (PASQUALI, Giorgio, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Storia della Tradizione e Critica del Testo</i>, Casa Editrice Le
Lettere, Firenze, 2015, p. XVIII). Boa parte das variantes que aparecem nos
códigos medievais foram transmitidas já pela Antiguidade (p. 123). Uma grande
parte das lições inferiores da nossa tradição medieval começa já nos últimos
séculos da Antiguidade (p. 193). As corruptelas são antigas (p. 255).
Corruptelas no texto de Platão vêm já do século II d.C. (p. 257), são da
Antiguidade, não dos textos medievais (pp 260-261). Da mesma forma, no texto de
Demóstenes (pp. 277, 289). No texto de Heródoto vêm já do século I d.C. (p.
310), em Tucídides as corruptelas mais profundas são antiquíssimas (p. 325). As
corruptelas do texto de Varrão e Festo são igualmente antigas (p. 349). As
«variantes de autor» são a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ultima ratio</i>
da crítica textual, não obstante (p. 419). Duas recensões de Terêncio vêem de
edições antigas (p. 428). GREGORIO DE NISSA, «Contro Eunomio», in GREGORIO DE
NISSA, <i>Opere Dogmatiche</i>, Bompiani, Milano, 2014, pp. 1170-1171, é dado
como uma das provas da pronúncia velar do «c» latino, que ainda existia no
tempo de Gregório de Nissa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-74743697810033640642023-09-15T14:50:00.000+00:002023-09-15T14:50:16.028+00:00 Quem pode invocar o nazismo?<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">A
colecta de grandes espíritos do nosso tempo gosta de acabar a sua argumentação
com um <i>finale </i>estrebuchante: lembrem-se do nazismo. Como tudo é racismo e os
nazis eram racistas aquilo que condenam está próximo do nazismo. Sentem que
fizeram uma brilhante demonstração e não são contraditados. Uns porque os acham
uns doidos furiosos outros porque se deixam convencer com argumentos tíbios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Para
sabermos quem pode invocar o nazismo temos de ver quem exploraram os nazis, quem
eles perseguiram, em suma a quem eles provocaram sofrimento. Não quem eles
desprezaram. Se fosse este o critério então os negros, mas também os
portugueses e os espanhóis teriam razões para invocar o nazismo. Mas também os
antigos germanos, cuja cultura nunca impressionou Hitler, apaixonado pela
civilização grega e romana e não pelos vestígios arqueológicos germânicos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Deixemos,
pois, os desprezados e vejamos quem não sofreu com o nazismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Os
africanos para começar. Os nazis desprezavam-nos, mas não os exploraram. Os
ingleses com a sua generosidade habitual estavam dispostos a devolver-lhes a
África alemã basicamente o Togo Land, mas também Angola, que já tinham
oferecido aos alemães antes da I Guerra Mundial e voltaram a oferecer antes da
II Guerra Mundial. Os nazis não queriam explorar os africanos. Os negros podem
ficar descansados, não podem invocar o nazismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Os
muçulmanos também não podem invocar o nazismo. Tanto turcos como árabes foram
sempre bem recebidos pelos nazis. Nas SS não havia capelães militares, porque a
ideologia nazi odiava o cristianismo. Mas havia duas divisões SS muçulmanas, a
Scanderberg e Handschar. E nestas por excepção havia imãs como capelães
militares. Os nacionalistas árabes eram conhecidos por adorar Hitler como um
dos seus ídolos e na Turquia o «Mein Kampf» desde sempre foi sucesso de vendas.
Os muçulmanos, seja árabes seja turcos, não podem invocar o nazismo, nomeadamente
quando se dedicam alegremente a discursos anti-semitas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Os
judeus podem invocar o nazismo? Os <i>askhenazis</i> os judeus da Europa
Central e Oriental, sem dúvida. De forma gritante. Quanto aos <i>sefaradis</i> ,
os que têm origem no Sul da Europa, a matéria já é mais turva. Houve vários
judeus holandeses que tiveram a condenação suspensa porque os nazis hesitavam
entre considerá-los judeus... ou portugueses. E devolvê-los a Portugal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Os
ciganos sem dúvida. De forma gritante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Os
católicos e muitos aristocratas também, porque foram perseguidos por serem o
que eram. Uma das acusações contra as ordens religiosa era a de que favoreciam
a homossexualidade e a pedofilia. Os nazis têm muitos herdeiros na nossa época.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Quem
mais pode invocar o nazismo? Quem exploraram os nazis, quem queriam ter como
mão de obra escrava que territórios queriam colonizar, que povos queriam ver
reduzidos em reservas tribais e de preferência ir extinguindo aos poucos? As
escolas não ensinam e os jornalistas não percebem. Mas do que não percebem os
jornalistas é um vasto campo, como dizia Fontane.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Quem?
Povos louros de olhos azuis, arianos de raça e de língua. Os eslavos. Os
projectos de colonização não se dirigiram contra a África, a Ásia, seja a
Turquia seja a Índia ou a China. Mas contra a Europa de Leste, até à Rússia
incluída. Quem pode invocar o nazismo são os muito louros e arianos eslavos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Deixemos,
pois, repousar os que invocam o nazismo quando não o podem. Alguns seguem mesmo
ideias nazis sem o saberem. Deixemo-los descansar em paz porque o seu cérebro
já se nos antecipou no ensejo. E quando os virmos invocar o nazismo em conjunto
com o racismo fiquemos consolados em perceber que estes não são os piores males
do mundo, mas antes a estupidez.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";">Alexandre
Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "DengXian Light";"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-17829764504280289152023-08-28T11:10:00.001+00:002023-08-28T11:10:11.779+00:00Contra o pequeno burguês VIII<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No mundo em que nasci o pequeno burguês era visto como
inferior e via-se como inferior. Foi o momento de glória da sua coerência. Hoje
em dia diz que não há verdades e não tem identidade, o que quer dizer que só
admite as falsas ou que vê como tais. O mundo em que eu nasci revoltava-me pela
sua injustiça. Esse foi o meu erro. O mundo em que eles nasceram foi o da sua
humilhação. Esse foi a origem das suas ilusões. Uma classe que passa a
dominante por inadvertência, que descobre que a sua verdade é a de não a ter, e
de ontologia apenas ter uma coxa antes suscitava-me a comiseração e algum
constrangimento. Depois de ter conhecido o mundo à sua imagem percebi que dele
fui expulso para ninguém em compensação entrar. É um mundo do vazio, que se
compraz em anunciar o seu vazio e absurdo, agora não como uma fatalidade, mas
como uma pena para quem dele não participa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A finalidade era a de integrar todos e eu fui excluído. E a
vontade de integrar aplica-se apenas a um estranho tipificado, a um exótico
definido por guias turísticos. Seja. Porém, o resultado é um mundo em que o
primeiro que se sente estranho é o pequeno burguês. Faz mesmo propaganda disto
nas universidades de que se apossou. Ninguém está na sua terra. Os antigos
senhores que já não existem, os exóticos que existem apenas na sua imaginação e
os próprios pequenos burgueses que se sentem sem substância, sem essência, sem
existir. No mundo que construíram só há estranhos, não há esperança e apenas
ilusão. É o que o pequeno burguês ensina nas faculdades sobre o mundo. Apenas
se esquece de dizer que fala do mundo sim, mas do que criou. Sem grandeza, sem
verdade, sem ambição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Podem julgar que insulto gratuitamente o pequeno burguês.
Mas bem pelo contrário. Apenas faço compilação. Mera suma. Do que ele diz sobre
o mundo, ou seja, sobre si mesmo. A artimanha do pequeno burguês é praticar o
insulto e partir do princípio de que não percebemos que só pode ser a ele que
se refere. Como em massa se dirige a pequenos burgueses, a estratégia funciona
e deixa todos felizes, na medida que o possam ser. Sintetizá-lo, algo que o assusta.
Fazer-lhe justiça, o que para ele é inesperado. Mostrar na sua nudez a sua essência,
o que ele não deseja. Mas façamos-lhe jus. Ou seja, oponhamo-nos e insultemos.
Mostremos-lhe que o mundo que nos apresenta é apenas um espelho, e até nisso é
trivial.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Gostava de me despedir do pequeno burguês. Sem ressentimento.
Mas em boa verdade já sem comiseração. E sem interesse. Mas não tem morada, nem
identidade, nem mesmo face. Acha que depois de morrer vai ser apenas um saco de
flatulência e num resto de piedade tendo a dar-lhe razão. Os seus vários
esfíncteres são indistinguíveis. O seu mundo não acaba no Juízo Final, nem num
crepúsculo dos deuses ou num acorde final. O seu mundo começa e acaba da mesma
forma. Num flato. Bendito seja, que me fez perder tempo. Leve, pois, os seus
bons sentimentos e os seus direitos do homem para onde lhe der mais utilidade. O
seu mundo sem grandeza tem o defeito de não ser microscópico. E já com ele
gastei mais poesia do que era de seu merecimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-48423046360131623472023-08-24T13:44:00.002+00:002023-08-24T13:44:14.310+00:00Contra o pequeno burguês VII<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O pequeno burguês é sempre «pós» qualquer coisa. Pós-moderno,
pós-crítico, pós-estruturalista, pós-cristão. Com «pós» significa que vem
depois de um mundo com uma identidade que não sabe definir - não acredita em
essências afinal - e para justificar o mundo em que vive tem de mostrar como
era má essa identidade. Não percebe - mas o que percebe ele? - que a designação
de «pós» é a confissão de um beco sem saída. Depois do «pós» o que poderá vir? O
«pós-pós»? Esta concepção do futuro mostra que não vê futuro, que é o burguês
sem esperança. Chama-se de «pós» na ânsia de não haver um «pós» que após ele o
negue. Tudo nele é confissão contrariada. Diz-se vindo do nada, apenas aceita
um mundo feito do instante sem substância, e cria teorias cuja condição é não
ter futuro. Por isso abdica do tempo, da realidade e da carnalidade. Prefere os
direitos humanos e a tolerância, embora negue as essências e portanto também a
humana e já não sabe o que mais há-de tolerar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Está habituado ao escárnio. Do nobre pelo seu reles
nascimento, do burguês pelos seus fracos feitos, do proletário pela presunção
de se elevar acima de si. Esse escárnio antigo é-lhe insuportável, porque
substantivo. Mas, eterno saudoso do escárnio, prefere ser gozado pelo miserável
do terceiro mundo que não respeita as ordens de expulsão que os Estados pequeno
burgueses emitem, lhe come os subsídios. O que é lixo para os Estados
subdesenvolvidos e corruptos é para ele uma oportunidade de futuro. O mesmo em
que não acredita. O futuro, desde que seja dos outros, é prometedor. O escárnio,
desde que seja de nova fonte, é refrescante. Ele, que não acredita em
identidade salvo a dos outros está condenado pela sua natureza em nada a mudar.
De chacota da sua raça torna-se chacota das outras. E assim se sente em casa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Espantam-se uns que nesta época haja tanto livro hermético, com
uma linguagem arrevesada, definições contra o costume, línguas novas criadas
para iniciados. Nenhum espanto pode haver. O pensamento sempre foi opaco para o
pequeno burguês, por isso para ele produzir pensamento não é desvelar, tornar
claro e evidente. É bem pelo contrário tornar opaco. Só a opacidade lhe cheira
a pensamento. Por isso, se é pretensioso na sua linguagem, ao mesmo tempo está
a ser sincero, a seguir a sua natureza, mais uma vez. Se ele percebesse, se ele
fizesse perceber, não seria para ele pensamento. O seu estilo barroco e cheio
de pretensões é apenas sinal da sua essência. É novo-rico. Ou peca por
sobreabundância ou por escassez. Ninguém em casa lhe ensinou o sentido das
proporções, e vai para a escola aprender com outros novos-ricos que proporções
é coisa que não existe.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-1272955272345294072023-08-22T10:28:00.005+00:002023-08-22T10:28:48.197+00:00 Contra o pequeno burguês VI<p> <span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">Para o pequeno burguês subir ao poder foi a oportunidade de
desprezar livremente o pequeno burguês. E pode fazê-lo em boa consciência
porque lhe faltam duas: a de que subiu ao poder, e a de que é a si que está
desprezando. Sente que é de justiça ter nojo do que é, porque não percebe que
começa a ser nojo exactamente por ser tão pouco e por isso impor ao mundo
claudicante ontologia. Dilui o ser, e a partir desse momento pode dizer tudo e
o seu contrário, rindo da moral enquanto apenas sabe moralizar. Quando se vem
de um mundo latrinário toda a origem parece porca. E não compreende que não são
porcas as origens por definição, mas apenas a sua.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Como burguês, é puritano. Não pode ter ao mesmo tempo Deus e
sexo. Mas a pureza para o grande burguês está associada a uma disciplina. Ou o
percurso kantiano, ou o livro de etiqueta e bons modos que supre a deficiente
educação que teve em casa, ou o ordinário da missa. O pequeno, como é sem
esperança, perde a noção de prudência. A pureza acaba por ser entendida
literalmente como «pur», fogo. Tudo tem de acabar numa pira, no limite
funerária, em geral de auto da fé, em que são destruídos livros, apagados
autores, destruídas tradições. Apenas sobram as culturas exóticas, porque só
elas podem ter substância. Não as percebe, e isso salva-as. O mundo de origem
do pequeno burguês, o instituído pela nobreza cristã, tem de desaparecer porque
o insulta, e é o único em que vê substância, é o único em que acredita. Diz-lhe:
vens de baixo e nunca sairás do baixo. Queimando esse mundo aparece-lhe um
outro que também o irá condenar como branco, de origem cristã e reles. Mas as
condenações pretéritas têm mais peso para o pequeno burguês. Homem sem
esperança está preso ao passado. E tudo é melhor que o inferno de ser quem é. O
seu delírio de pirómano vai-o levar a ser queimado por outras culturas. Mas
esse é o seu futuro. E do futuro o pequeno burguês nada tem e nada percebe. Não
se sente perdedor de grande coisa, porque o futuro nunca lhe pertenceu. Por
isso, e sem passado, come desesperadamente o presente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os tiranos da época contemporânea eram pequenos burgueses. A
sua base de apoio pequeno burguesa. Não me interessa saber se as ditaduras são
de esquerda ou direita. A grosseria, a crueldade, a falta de liberdade vêm da
mesma cloaca. O Mussolini socialista não foi substituído por um aristocrático
fascista. A origem, o aspecto, os modos são os mesmos. O seu nojo da liberdade
revela-se nas suas teorias, que dizem que somos dominados pela linguagem, pelo
contexto social ou sexual, vítimas tanto quanto destituídos de autonomia. No
fundo, as subtis destrinças entre as várias teorias são de somenos importância.
O pano de fundo é a escravidão em relação a algo. Se a União Soviética, o
mercado, a China, o islão é irrelevante. O pequeno burguês só está em casa numa
prisão. Qual é, só folclore. E se ele se apega ao folclore diz apenas de onde
vem. Quando doutorado perora, vemos-lhe a anca a descair para um vira ou um
corridinho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-8584487467749151682023-08-21T11:56:00.000+00:002023-08-21T11:56:01.204+00:00 Contra o pequeno burguês V<p> </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um mundo escasso ontologicamente apenas podia produzir um
efeito: um mundo de moralidade. O pequeno burguês vê tudo na perspectiva da
moral porque não tem substância. A própria natureza é para ele moral. Moralmente
perfeita e atacada pelo ser humano, que mais não é que um piolhoso. Lembra-se
assim sempre dos seus antepassados quando quer caracterizar o humano. Não há
uma essência humana, mas direitos do homem. Diz-se para além de bem e mal, mas
a sua linguagem trai o seu pensamento exclusivamente moral: «é indecente»,
devemos ser solidários (conceito repelente se o há), temos dívidas em relação
às outras culturas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Uma parte de si sente-se excitada por usar uma linguagem
heróica, mas acaba sempre no discurso da moral e dos bons costumes. Dar o seu
sangue como os heróis? Nem pensar. Byron dá o seu sangue, os filósofos de salão
dizem que devem ser os filhos dos outros a dar o seu. Porque não quer dar o seu
sangue? Porque é cobarde, mas também porque é lúcido. Sabe que iria dar algo
sem valor, mas é o único tesouro que tem. Como pequeno burguês tem um pé-de-meia:
é o que vale a sua vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O seu sucesso é secreto. E de novo não há cabala. Com a
vitória da democracia governa o povo. O pequeno burguês sabe-se povo. Tudo faz
sentido. Mas desse povo em sentido jurídico também faz parte o proletariado, o
grande burguês... e o nobre. Isso ele esquece. Tornando-se a maioria do povo,
por a maioria ser pequeno burguesa, assume um poder sem disso ter consciência. Como
Monsieur Jourdain, fala em prosa e não o sabia. Passou a ser soberano e julga
que é uma abstracção chamada povo que o é. O mundo passa a ser moldado pela sua
pequenez e nem se apercebe. Reina por descuido, decide sem saber.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O pequeno burguês é obediente. Aceita qualquer submissão
desde que velada. Porque é velada a sua vida. Escondida, coberta, por isso sem
mistério. É aliado dos Estados Unidos. Aliado, ou seja, obediente. Há bases
americanas na Europa, não há bases europeias nos Estados Unidos. A assimetria
não o alerta. Vive obediente desde que mudem as palavras. Submisso em relação à
China que merece ser mais poderosa que a Europa. Porquê? Porque teria um
privilégio aristocrático: a de ter sido potência antes da Europa. É tudo falso
nisto, mas mais uma vez está disposto a aceitar todas as aristocracias, salvo a
única que acha verdadeira, a dos nobres que o dominaram.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Desde a II Guerra Mundial começámos a ouvir uma
intensificação da crítica ao pequeno burguês. Crítica? Sejamos francos.
Desprezo, declaração de nojo. Da parte de quem? Sartre, Kerouac, Lacan, Barthes,
Foucault, depois Derrida, Deleuze. Mudam os nomes dos movimentos, existencialista,
<i>beatnik</i>, estruturalista, pós-moderno. De comum uma coisa, e já é muito.
O desprezo do pequeno burguês. Mas eram porventura aristocratas, proletários?
Nem de propósito: são todos pequeno burgueses. Como o apogeu do burguês
coincide com o cume do seu desprezo, o pequeno burguês sobe ao poder sem disso
ter consciência e não sob um banho de flores, mas de tomates podres.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-2390750723028201442023-08-17T15:19:00.004+00:002023-08-17T15:19:29.484+00:00Contra o pequeno burguês IV<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Que pode fazer o pequeno burguês? Sem o passado do nobre,
sem a glória presente do burguês, sem as promessas de futuro do proletário, que
se pode dar a si mesmo? Tem de se construir um mundo de passado sem valor, um
presente que é mera promessa, e um futuro que será sempre equívoco. O seu mundo,
fá-lo à sua imagem e semelhança. E enche as escolas, as universidades, os
jornais dos seus representantes. É vencedor pelo número e pelas regras
democráticas, falta-lhe construir o seu triunfo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Não o vejo referido. Mas toda a ontologia nasce de uma
antropologia. Nos diálogos platónicos o «prepon», o conveniente, é usado como
critério, na metafísica aristotélica os critérios homéricos são usados para desembocar
no princípio da parcimónia: é melhor que seja um só a governar... O mundo do
pequeno burguês é sem ontologia ou com fraca ontologia. Não tem materiais para
a construir e por isso nega que seja possível a construção. O Maio de 68, o pós-modernismo
e pós-estruturalismo estão cheios dessa ontologia oca, sifilítica, pronta a
colapsar ou já em escombros. Não um relativismo, porque essa é uma atitude
aristocrática, mas uma fúria perfuradora, uma vontade de destruição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">«Destruktion» dá desconstrução. Dosse bem o mostrou: o
conceito de desconstrução vem do muito nazi Heidegger. Não se quer alargar
horizontes, quer-se abater as torres que os permitem amplos. Um mundo à imagem
do pequeno burguês não tem essência porque esta assenta numa antropologia aristocrática.
Se virmos todos de baixo ficamos todos iguais. Não há quem tenha o privilégio
da hierarquia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O pequeno burguês é o burguês que perdeu a esperança da
grandeza. O burguês pode não ter o sangue nobre das epopeias, mas pode ao menos
aspirar à superioridade filológica da sua análise. O proletário pode sonhar ser
o próximo herói. Com um custo: só colectivo. Nenhum pode ser Aquiles, mas há a
ambição que todos o sejam. Tendo perdido a esperança da grandeza, a sua grande
inimiga é a hierarquia. Corrijo: não todas as hierarquias, apenas as que o
condenam nativamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Que haja hierarquias que condenem sobretudo a nobreza, a
única que no fundo tem por verdadeira e por isso quer apagar, é algo que lhe
agrada. O ritual do chá japonês é profundo, o europeu vácuo. A personagem
dravídica sente-se igual aos europeus mesmo se baixa os olhos perante o
brâmane. Que um muçulmano espanque a mulher faz parte de uma intimidade que não
podemos violar, que um príncipe europeu traia a mulher, sinal da sua
menoridade. Não são todas as hierarquias que condena, mas apenas as que o
condenam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Não são outras culturas que respeita. E está mesmo disposto
a ser por elas desprezado. Porque no fundo não dá importância ao seu juízo. Quando
lhe dizem que a Europa é nova-rica perante o antiquíssimo Oriente aceita a
ideia com alegria, não por humildade, mas por ressentimento. O importante é que
a nobreza que sempre o desprezou seja ela mesma chamada de nova-rica. Quanto a
si sabe que não tem redenção, ninguém irá incensar o seu ilustre nascimento. Que
possa dizer que a nobreza que o dominou é ela mesma de fresca data, baixo preço
a pagar pelo desprezo que suscita noutras culturas. Ao desprezo está habituado.
Prefere o de criaturas a que não dá importância ao dos seus antigos senhores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A sua relação doentia com as hierarquias torna o pequeno
burguês arredio a toda autoridade ou submisso a qualquer uma. É o mesmo que
dotado de espírito democrático aceita o fascismo ou Mao ou diz que é proibido
proibir. Foi-lhe dada a soberania pelas constituições e não pelo nascimento e
está pronto à submissão porque ser soberano significa hierarquia. É contra a
clara separação entre os direitos dos nacionais e dos estrangeiros porque não
se acha merecedor de tratamento especial e está pronto a manter a tradição da
sua família: a de obedecer a outros. Só deseja que os outros não sejam os
mesmos. Ou seja, a antiga nobreza que o senhoriou ou a grande burguesia que o
explorou. Se os outros forem antigos escravos dos seus antigos senhores está
disposto, não a confraternizar, mas a obedecer. É de sua natureza estar
submetido, é esse o seu estado natural.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-56882547269527162122023-08-14T11:28:00.006+00:002023-08-14T11:28:36.802+00:00Contra o pequeno burguês III<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Bem o sabemos: é muito arriscado indicar inícios e em última
análise ocioso. Mas inevitável. E há pelo menos um início e um sintoma de que
algo mudou. O início, o termo da I Guerra Mundial. O sintoma, o «Ensaio sobre o
Dom» de Marcel Mauss.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Com o fim da Grande Guerra logo em 1919 em vários países
ganham as eleições os candidatos dos pequenos burgueses. O condomínio entre a
nobreza e a grande burguesia mostrou-se falho. Um mundo governado em condomínio
mata-se a si mesmo. O pequeno burguês tem medo dos grandes movimentos da
História. E entre o proletariado que o torna irrelevante ou os senhores que
lhes comeram os filhos prefere soluções pacatas, razoáveis, acomodadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mauss é um sintoma. Mauss e o seu comentador oficial, Lévi-Strauss.
Qual a grande novidade do «Ensaio»? As ciências humanas não podem ter a
objectividade da física. É um tique de quem não estudou física dizer o que ela
é para depois dela se distinguir. E o que resulta desta ausência de uma
absoluta irrevogável objectividade? A subjectividade é inevitável. Já que assim
é, vamos reconhecê-la, e vamos usá-la. É o que pomposamente se chama de
integração da subjectividade. O cientista traz-se consigo, ao menos que diga
quem é.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em si a ideia pode ter algum assento. O maior problema surge
quando se começa a descrever essa subjectividade. Não. O maior problema começa
quando em vez do dito cientista dizer que é a sua subjectividade e apenas ela,
decide universalizá-la. E diz: esta é não a <i>minha</i> subjectividade mas a <i>nossa</i>.
E dá mais um passo: é nossa, e ela mesmo inevitável.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A partir deste momento tudo passa a ser perigoso. Porque em
vez de descrever as suas desgraças, o seu discurso passa a ser uma censura de
desgraças colectivas. Qual o seu conteúdo em Mauss? Nós, resta saber que nós, com
a nossa mentalidade mercantil e materialista, nunca perceberemos o dom gratuito,
e como toda uma sociedade se pode construir com base nele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Eu tinha quinze anos. Não vinha do mesmo passado que Mauss.
E graças a Deus tinha uma formação histórica ou que ele não tinha ou esqueceu.
Como? Disse eu. Nós? Que nós? Os burgueses? Seja. Mas o pobre Mauss não
percebeu que em passado pagão e em dois mil anos de cristianismo o dom é
fundador das nossas sociedades? Dá o nobre, o rei e a Igreja. Quando não dão
perdem o seu estatuto social. Violam os seus deveres. Quem é este nós de Mauss?
Ele? A família dele? A sua classe. Aceito. Mas não fala por mim e pela minha
gente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Aos quinze anos mostrei a minha repulsa por esta ideia. À
minha volta os meus colegas anotavam obedientemente. Seriam eles também como
Mauss. Este foi apenas um início. Depois diziam-nos que somos uma sociedade
binária, que nunca iria compreender outras estruturas de pensamento. Realmente?
Como podia uma cultura que há dois mil anos assenta na Santíssima Trindade ser
incapaz de ir além do binário? Fez-se silêncio. Eu tinha cometido o crime de
falar de teologia como antes tinha praticado o delito de referir a História.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-6510632993286224902023-08-11T11:06:00.005+00:002023-08-11T11:06:26.716+00:00Contra o pequeno burguês II<p> </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O burguês, para se fundamentar, procura desesperadamente um
valor universal que lhe diz ser mais que um plebeu. É inglês, ou de raça branca
ou civilizado. E pertencendo a uma nova casta nobre pode avançar pelo mundo
certo da sua legitimidade. Ou não. O nobre continua ao seu lado mostrando-lhe
que é menos, como reconhece Mann nos Buddenbruck, mas convence-se que no fundo
essa inferioridade é inofensiva e se dilui no grande plano da providência
universal. É burguês, é certo, mas antes é inglês ou branco ou civilizado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O problema do pequeno burguês é que reúne dois estigmas: é
burguês e é pequeno. O burguês resolveu essa equação nobilitando-se. Aprende
bons modos, faz grande cultura, assume os heróis aristocráticos como seus. Os
heróis de Ariosto e Camões não foram depostos com o advento da burguesia. Apenas
se estendeu a sua vigência. Herói podia ser não apenas o nobre, mas o burguês
que o tomasse por modelo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Solução talvez não muito durável, ilusão talvez. Mas o
paradigma não muda. A estabilidade da civilização parece assegurada, mesmo que se
tenha alargado o universo dos seus herdeiros maiores. Todos são iguais pelo
nascimento para todos poderem ser heróis. Mas ninguém se ilude: nem todos o
serão. O plebeu satisfaz-se com a possibilidade desde que lhe deixem fazer o
esforço. A transmissão da virtude, o velho conceito aristotélico da nobreza,
está garantida, não por sangue selecto, mas por uma vida exigente. Teve alguns
bons resultados. Não por muito tempo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E compreende-se. É que se o burguês exige a igualdade das
possibilidades carece da desigualdade dos resultados. No final, tem de haver
pódios, e o grande burguês não quer estar ao lado do pequeno. O pequeno é
deixado a si mesmo, não apenas como o que nasceu mal, porque plebeu, mas que
sucedeu mal, porque continuou pequeno.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O proletariado não tem valor nenhum em nenhuma cultura. A
plebe romana, as castas baixas são geridas como um problema, uma intempérie, um
fenómeno da natureza. Reconhece-se o seu poder, mas não passa pela cabeça de
ninguém dar valor ao refugo da sociedade. Todavia, o pequeno burguês tem azar.
Na civilização cristã o proletariado rapidamente se torna figura crística. É
por sofrer, por ser frágil, que tem valor e um destino. Se o pequeno burguês
existisse numa sociedade pagã podia viver consolado por abaixo de si ter os reles,
os mais baixos. Mas o cristianismo tira-lhe esse gosto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A nobreza tem a dimensão do passado e da glória. E como
Darwin observou, da beleza, porque a nobreza pode escolher as mulheres mais
belas. Baddo plebeia e bela entre os godos e várias imperatrizes bizantinas e
russas são disso exemplo. Não pelo sangue, não pela glória, não pela distinta
beleza se destaca o pequeno burguês. A herança pagã condena-o.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Sobra o burguês, o grande, o seu irmão de sangue, como ele
vindo da gleba. Mas aquele faz tudo para se diferenciar do pequeno. Não quer a
sua presença, não quer o seu exemplo, não quer o seu parentesco. Para onde se
pode virar o pequeno burguês?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-58026631703185003212023-08-10T18:19:00.004+00:002023-08-10T18:19:29.113+00:00Contra o pequeno burguês I<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os tratados antigos tinham frequentemente títulos como «contra»
ou «in». Aprendíamos em latim que se seguia um acusativo com uma ou outra
preposição. Uma e outra expressão, independentemente das subtis diferenças que entre
elas se encontram, querem dizer a mesma coisa: contra alguém, algo ou alguma
ideia. Títulos brutais para uma época delicodoce como a nossa, mas que têm o
mérito de serem inequívocos. Sim, o que mais detesta o pequeno burguês: a
franqueza, a inequivocidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Eis-nos dentro da questão. Temos de a levar com tempo. Ponhamos
primeiro o que está primeiro. Eu, que nasci noutra época e noutro mundo, nada
tinha contra o pequeno burguês. Era uma realidade distante, estranha, com a
qual tive de lidar pouco. Não me ocupava.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Com o tempo os meus contactos com os pequenos burgueses
aumentaram. E com eles vieram novos sentimentos. Umas vezes constrangiam-me por
imitarem, e mal, os tiques aristocráticos. As pequenas burguesas queriam ser
senhoras. Os pequenos burgueses diziam que não eram quaisquer uns, e a simples
necessidade de o dizer invalidava a sua pretensão. Outras vezes sentia pena, mas
sempre uma profunda estranheza. Não era a minha gente, o meu mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Percebi que se revoltassem por serem quem eram, que quisessem
ser mais, e serem vistos como mais. Achei justo. Eu não queria ser quem eles
eram, e não conhecia quem o quisesse. A legitimidade da sua revolta assentava
precisamente no pouco que eram.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Levei muitos anos a perceber no entanto que, o que eu via
como um bicho algo deplorável mas inofensivo, estava numa marcha de tomada de
poder que nada tinha de cabala - era exigir um espírito sistemático de que não
é capaz, e desemboca no «é proibido proibir» - mas de uma lógica que resultava
da progressiva tomada de poder pela burguesia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O século XIX pode ser o do triunfo da burguesia como lugar-comum
mas não foi o do monopólio da burguesia. A nobreza mantém um imenso poder com
as segundas câmaras, o corpo de oficiais, o diplomático, mas também vastas
propriedades e prestígio da classe. Mas a nobreza impõe-se também como
paradigma. A cultura superior opõe-se à inferior, o bom gosto, a noção de
etiqueta, tudo vem da nobreza. O burguês, para se elevar, imita o nobre
aceita-lhe os princípios. Se a nobreza lê Homero e Dante e ouve Mozart, a
burguesia não se pode quedar pela música <i>pop</i> e a literatura de cordel. Pode
muitas vezes ter mais afinidades com esta cultura menor, mas institui como
princípio que é menor. Aceita o paradigma aristocrático, em suma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O problema do burguês é que nunca está em casa, o seu
próprio princípio o condena. Se qualquer um pode chegar onde está quer dizer
que nunca deixa de ser qualquer um. Para ser mais que os outros, tem de adoptar
um princípio que o nega: o aristocrático. A ideia da superioridade de um povo
inteiro ou de uma raça não cabia num aristocrata. Que todos os venezianos
fossem superiores a todos os outros povos negava o que era uma evidência para
um nobre veneziano: que tinha mais afinidades com o nobre florentino que com o
gondoleiro.<o:p></o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-40370056686785673952023-06-29T14:12:00.006+00:002023-06-29T14:12:48.874+00:00Voltaire m'amuse<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><a name="_GoBack"></a><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Voltaire m'amuse. Il m'a toujours amusé. Il écrit bien.
Il veut produire de l'effet et il a un avantage par rapport aux médiocres de
notre temps: il en produit.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">La question c’est de savoir s'il y en a plus chez
Voltaire. Lui-même disait: je suis comme un ruisseau, clair parce que pas
profond. Il a tout dit, et il n'est pas écouté.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Il était vraiment frustré parce que ni Frédéric II de
Prusse ni Catherine II de Russie l'écoutaient quand il leur prodiguait des
conseils politiques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Voyons. Tout est clair. Voltaire est un philosophe pour
les journalistes et un journaliste pour les philosophes. Il était un pitre pour
les souverains et un souverain pour les pitres. Tout est dit.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Il se moquait de l'islam et ses descendants interdisent
sa pièce «Mahomet ou du fanatisme.» Il disait qu'il donnerait son sang pour la liberté
de parole des autres, mais sauf ses médecins, personne n’a vu son sang versé.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Lui, qui s'aimait voir comme amant de la science, a détesté
que Madame du Châtelet lui ait démontré que Leibniz avait raison dans
l'équation de l'énergie cinétique. Il n'aimait pas la vérité: son amour c'était
celui de se moquer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Lui, qui disait que le grand mérite du confucianisme
c'était celui d'être la seule religion qui n'était pas suivie par les femmes,
est aujourd'hui suivi par des femmes. Si elles disent que lui doivent, on peut
les croire: c’est par rapport à lui et pas à l'intelligence qu’elles ont des
dettes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Voltaire m'amuse. Je suis comme Frédéric et
Catherine. Mais il est dangereux. Et là, Louis XV avait raison. Il n'est
pas dangereux parce qu'il est sérieux. Il ne l'est même pas parce qu'il est
corrosif. Mais parce un monde gouverné par pitres et pensé par des journalistes
n'annonce pas la tragédie: c’est de sa substance l'être déjà.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: FR;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-7144301670546966902023-06-26T11:59:00.002+00:002023-06-26T11:59:19.317+00:00Liberalismo: identidade e prudência.<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><a name="_GoBack"></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nunca
escondi o meu desprezo pelo dito liberalismo dos anos 90. Não por ser contra o liberalismo
por uma questão de princípio, embora seja o primeiro a reconhecer os seus
limites: lida mal com a irreversibilidade e é etnocêntrico, julga que todo o
mundo no fundo é europeu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas
sou também o primeiro a reconhecer a eminência de grandes pensadores liberais
no século XX. Não anglo-americanos, mas continentais. Thomas Mann depois de
1933, Croce, mas acima de todos, soberano, Ortega y Gasset, para mim o pensador
político mais claro e profundo do século XX. Algo nos outros cheira a requentado
hoje em dia. Só Ortega, mesmo nas suas omissões (do cristianismo, nomeadamente)
se mantém fresco, pertinente e certeiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
problema do liberalismo dos anos 90 é ser acéfalo, ignorante, inculto. Em suma,
mais fruto de uma geração educada pelo Maio de 68 que uma que conhece bem as
declinações do latim e as inclinações de Homero. Consequentemente, uma geração
obediente, pronta a aceitar tudo o que lhe dizem. A Europa é criminosa, todos
os outros impérios foram pacíficos, salvo o europeu, todas as culturas são
ricas, salvo a europeia, todas as identidades a celebrar, salvo a europeia. Construiu-se
um projecto europeu dizendo que a Europa não tinha identidade, e não merece
tê-la. Em suma, o seu problema é ser tudo o contrário de um liberalismo, no que
tem de aspiração aristocrática o mesmo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Este
liberalismo de pacotilha esquece duas das lições do liberalismo clássico, dois
dos seus conceitos centrais: a identidade e a prudência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Entendamo-nos:
há no liberalismo uma dimensão universal (no limite europeia na verdade e por
isso também identitária) e revolucionária (mas nunca impondo a revolução
permanente). Mas o liberalismo impôs-se precisamente sobre o tema da identidade
(geralmente nacional) e da prudência (por oposição ao fanatismo).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas
o liberalismo clássico está associado à identidade, não vive sem ela.
Identidade nacional, sem dúvida. Mas também identidade regional e europeia. Não
há liberalismo sem identidade. O dos anos 90 não é, pois, verdadeiro
liberalismo. É o que resulta da pedagogia do Maio de 68: sem História, sem
identidade, imediato, sem lastro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Também
é sem prudência. O liberal faz revoluções, mas para estabelecer regimes de
moderação. O poder moderador é mais que um tique: é uma marca. O que o preocupa
é o poder a mais para o parlamento, para os reis, para os tribunais... O
problema nunca é o titular do poder, mas a sua desmesura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ora,
o liberal, ou o que se julga tal, dos anos 90, é ele mesmo desmesura. Os
direitos alargam-se sem limites, se o poder for dos tribunais não precisa de
ter limites porque estes são por si virtuosos sem medida. Em vez da prudência,
é proibido proibir. Julga-se filho do liberalismo, mas mais uma vez é antes
filho do Maio de 68.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
dito «wokismo», ou outro nome que se queira chamar, é filho deste liberalismo
tíbio e inculto que não sabe lidar com a identidade e a prudência. Se a Europa
é a democracia, a economia de mercado e o Estado de Direito não devíamos
conseguir distinguir entre o Japão e a Europa. Se o liberalismo é a desmesura
não há travões aos direitos e os povos não podem estabelecer limites.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
problema não se resolve por isso com curas meramente epidérmicas contra o «wokismo».
Estas nada resolvem. Os que defendem o liberalismo, precisamente por o
defender, devem perceber que os temas da identidade e da prudência são temas
liberais por excelência. Afastá-los do campo do liberalismo é dar lugar à
recidiva, deixar o liberalismo vazio. Se os extremos cresceram é porque o dito
liberalismo dos anos 90 era filho dos extremismos dos anos 60 mais que
descendente de Goethe ou Schiller, ou Chateaubriand, que nunca conheceu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Por
isso, os que recusam os temas da identidade e da prudência são apenas filhos de
extremistas. E os que quiserem ser verdadeiros liberais sabem que tarefa têm:
integrar no seu pensamento a identidade e a prudência, para estas não ficarem
órfãs, ou filhas de outros extremistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre
Brandão da Veiga<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-1224772960893748732023-04-27T12:23:00.006+00:002023-04-27T12:23:53.269+00:00Ai dos vencidos<p> </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O lugar-comum é o de que é a versão da História dos
vencedores que prevalece. Quando se vê um grupo de académicos, estes trocam
olhares e sorrisos - acto sempre suspeito - quando um deles diz isto. Os outros
concordam porque é sina dos académicos de muitas épocas a de concordarem entre
si. Realizaram o ritual e ficam todos felizes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A questão é que este lugar-comum não é apenas superficial: é
falso. E falso de uma forma que é visível para qualquer ser pensante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Dou três contra-exemplos, três vezes mais do que se exige em
matemática para destruir um teorema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O lugar-comum de que a História se conta do lado dos
vencedores é em parte romana, mas são os próprios romanos que falam dos
vencidos vencedores. Embora haja sinais de desprezo em relação aos gregos (os <i>graeculi</i>,
os gregozecos, diríamos) são os romanos que aceitam as teorias de Políbio sobre
o seu sistema político misto de democracia, aristocracia, monarquia, seguem a
filosofia grega, os deuses gregos, a língua e a literatura. E não é coisa de
intelectuais, de minorias. As elites do Oriente Romano, todas elas, falam grego
e acabam por esquecer o latim. Ai dos vencidos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os judeus são um povo de vencidos. Nunca fizeram um império,
o seu apogeu foi o reino de um Salomão que mais não era que um régulo de um
principado menor, foram dominados por babilónios, persas, gregos, romanos,
europeus, árabes, otomanos e outros turco-mongóis... A sua cultura nunca teve o
brilho da grega ou romana. Mas Deus incarnou num judeu, e a maior religião do
mundo cita Israel como a sua origem e o seu destino. Ai dos vencidos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os muçulmanos são também vencidos. Mesmo os que têm mais
simpatia pela sua filosofia, como Henry Corbin, reconhecem que depois do século
XIII deixaram de produzir filosofia. Se os turcos têm artilharia é graças a
engenheiros húngaros e outros europeus. Não há um único teorema com o nome de
um muçulmano. Como civilização, independentemente do valor que se lhe atribua
até ao século XII ou XIII, nada de relevante fez. E, no entanto, a Europa
diz-se em dívida para com o turco que a explorou até ao século XX, e o norte
africano que raptava europeus para os vender nos mercados de Istambul e de
Cairo até ao início do século XIX. Ai dos vencidos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Vae uictis</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">, ai dos vencidos. É a versão da História dos vencedores que
prevalece? Ou a frase é falsa, ou é de lenda que fala ou se tem de repensar o
que se pretende dizer com vitória.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Alexandre Brandão da Veiga</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-55587648865202895652023-03-30T16:19:00.001+00:002023-03-30T16:19:17.859+00:00Hitler e os bem pensantes IV<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Num documentário soviético sobre a vitória
russa sobre os nazis em 1941 viam-se padres ortodoxos a exortar a pessoas e
procissões na rua (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res
Gestae, Milano, 2015, p. 113). Isto mostra a força do cristianismo ainda nos
anos 1940, mas também a vontade de Estaline manipular o sentimento religioso
dos russos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler está contra a oposição entre o
soldado e o técnico; mas sem a técnica não se vencem guerras (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 116).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler defende o método experimental
(PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015, p. 120).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler está contra a intervenção exagerada
da polícia, é melhor corrigir os desvios com o exemplo (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 121). Defende a autonomia
dos municípios e das províncias e está contra políticas de hegemonia de umas em
relação a outras (pp. 168, 174).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler faz pouco dos nobres porque estão
preocupados com a árvore genealógica das suas futuras mulheres (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 124). É uma observação
curiosa, porque revela, fora das suas intenções, a importância que é dada ao
sangue feminino na nobreza europeia. Mas ao mesmo tempo reconhece que a perda
de algumas centenas de homens não é problema para a sobrevivência de uma raça,
como se viu após a Guerra dos Trinta Anos em que aumentou a poligamia, mas a
perda de mulheres sim (p. 211).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Há muitas circunstâncias em que não se
pode obrigar as mulheres a ficarem com os seus maridos, como os que as
maltratam assediam ou deixam as suas mulheres morrer à fome (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 218). E é importante dar
bons salários às mulheres (p. 219).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler tem discurso anti-colonialista,
quer a independência do Egipto (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a
Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 126). Sempre foi contra a colonização
pela Alemanha para o Sul e o Ocidente, quer dirigir-se para Leste, como
prometeu no «Mein Kampf» (ROUSSILLON, Sylvain, <i>L’Épopée Coloniale Allemande</i>,
Via Romana, Le Chesnay, 2021, p. 242). A Alemanha, quando do armistício de
1940, teria podido exigir a devolução do Togo e dos Camarões e não o fez, a
única tentativa séria de implantação ultramarina será a da Nova Suábia (p.
243).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Otto
von Hentig em 1937 negoceia com os sionistas a transferência de judeus para a
Palestina, mas tanto Hitler como os ingleses mostram-se reticentes (ROUSSILLON,
Sylvain, <i>L’Épopée Coloniale Allemande</i>, Via Romana, Le Chesnay, 2021, pp.
244-245).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O camponês, depois de cumpridos os seus
deveres em relação ao Estado, tem o direito de fazer o que quiser da sua
produção (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae,
Milano, 2015, p. 122).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler censura a tendência para retirar
autonomia aos funcionários públicos, estes devem ter uma missão e ter liberdade
na forma de a cumprir (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>,
Res Gestae, Milano, 2015, p. 142). No fundo, a gestão por objectivos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">É fundamental que a escola permita que o mais
pobre dos rapazes possa aceder a todas as posições sociais (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 145). Um rapaz não deve
ser obrigado a seguir a profissão do pai, mas seguir a sua inclinação e as suas
capacidades (p. 146).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Os juristas não querem reconhecer o valor
da aplicação prática do direito, mas os delinquentes conhecem-na muito bem
(PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015, p. 148). Quem se dedica a uma profissão jurídica ou é deficiente, ou
torna-se com o tempo (p. 154). O desprezo em relação aos juristas de Lutero
mantem-se presente em Hitler. Os juristas são cosmopolitas como os
delinquentes, mas sem ter a habilidade dos últimos (p. 171).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Se Hitler defendia a propriedade privada,
era contra as sociedade anónimas e o anonimato do capital (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 150).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O povo alemão não é apenas o resultado da
civilização antiga e do cristianismo, a estes deve-se juntar um outro factor: a
força política, como o foi o império carolíngio (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 155).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Com eleições livres corre-se o risco de
escolher um idiota, como acontecia com a eleição de alguns imperadores alemães
(PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015, p. 158). O Führer deve ser escolhido por eleições e investido de poderes
absolutos (p. 160), a sua eleição não deve ter lugar sob os olhos do povo, mas
a porta fechada como o papa (p. 161), e o Novo Führer deve separar
completamente o poder executivo do legislativo (p. 161).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">A comparação entre o Reich e o império
britânico aparece em Hitler: o Reich vai permitir ao jovem alemão fazer
tirocínio num vasto império, como o inglês o pode fazer já (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 190).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O sentido fanático de pertença ao Reich e
da unidade do Reich (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>,
Res Gestae, Milano, 2015, p. 191) aproxima-o dos fundamentalistas islâmicos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O próprio Hitler admira a URSS por ser
mais totalitária e apenas permitir acesso em cadeia às estações de rádio e não
acesso livre como na Alemanha (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a
Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 192).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O que Hitler admira na Igreja Romana é o
seu sentido de festa (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>,
Res Gestae, Milano, 2015, p. 195). Perante os esforços de Lutero para conduzir
a Igreja à contemplação mística numa Igreja já totalmente secularizada, os
jesuítas fizeram apelo aos sentidos (p. 221).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">A justiça deve ser rápida, ao delito deve
seguir-se imediatamente a pena se se quer que a coisas funcionem (PICKER,
Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p.
172). Deve agir-se com rapidez e brutalidade (p. 173).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Já que os árabes não querem os judeus na
Palestina o melhor é levá-los para África dizia Hitler ainda em 15 de Maio de
1942 (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015, p. 206, cf. p. 12 em que se refere Madagáscar).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O protestantismo não hesitou em queimar as
bruxas, enquanto episódios do género não se encontram na História italiana
(PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015, p. 221).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler ficava muito feliz quando era
contraditado com palavras apropriadas (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di
Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 12).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Alexandre Brandão da Veiga <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Arial",sans-serif;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-33517920762855812402023-03-28T16:02:00.007+00:002023-03-28T16:02:39.765+00:00Hitler e os bem pensantes III<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Cristo era um ariano, e Paulo abusou da
sua teoria para a divulgar entre a maralha (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di
Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 230).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler manteve a fidelidade a Mussolini
mesmo depois de este ter caído (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a
Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, pp. 260, 266).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler ainda em 23 de Março de 1942 diz
que devemos estar gratos a Estaline por ter afastado os judeus da arte (PICKER,
Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p.
252). De entre as obras de arte sequestradas dos judeus não se encontravam
obras da arte degenerada (p. 255), dando a entender que os próprios judeus
vendiam arte contemporânea mas não a compravam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O profundo amor de Hitler pela Itália em
PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015, p. 266. Só na Grécia e na Itália o espirito germânico encontrou um
ambiente favorável, levou séculos a que o espírito germânico se desenvolvesse
no clima do Norte (p. 273). Os supostos símbolos de civilizações nas
descobertas arqueológicas na Alemanha deixavam-no céptico, atribuía-os a povos
não germânicos (p. 274). Preferia mesmo os alemães do Sul aos prussianos (p.
274).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Segundo PICKER, Henry, <i>Conversazioni di
Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 286, Hitler chega ao poder
por Hidenburg preferir uma solução legal à ditadura militar de Schleicher.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">«Eu adoro os animais, e em especial os
cães. Mas não tenho nenhuma simpatia pelo bóxer» (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 269.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler diz que se tem muito a aprender com
os métodos do franceses na Alsácia quando reprimiram a influência alemã nesta
província (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae,
Milano, 2015, p. 201).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Há uma coisa em que os soviéticos são
melhores que os alemães: na espionagem (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di
Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 55).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Como bom racionalista Hitler ri-se de quem
invoca a intervenção da Mãe de Deus (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler
a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 74).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O facto de os políticos franceses passarem
férias na província serve de antidoto contra o seu jacobinismo centralizador
(PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015, p. 77). Hitler tem a maior desconfiança em relação aos sistemas
centralizados (p. 179).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler é contra a História contra-factual
(PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015, p. 182).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Os métodos preservativos devem ser
desenvolvidos entre as populações ocupadas (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di
Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 80).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Entre as populações ocupadas deve
espalhar-se a desconfiança em relação às vacinas (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 80).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O mito Rosenberg não é a doutrina do
partido, e Hitler por várias vezes recusou o estatuto dogmático dele (PICKER, Henry,
<i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 184).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler opunha-se a toda a tentativa de
exportação da ideologia nacional-socialista (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di
Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 188).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Segundo Hitler, Estaline disse a
Ribbentrop que espera apenas que esteja formada a URSS para acabar com os
judeus de que precisa em cargos directivos (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di
Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 83). Por detrás de Estaline
está o programa hebraico da ditadura do proletariado (p. 78).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler defendia o monopólio estatal do
tabaco e que a maioria das propriedades agrícolas conquistadas a Leste deveriam
pertencer ao Estado em benefício do Reich (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di
Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 95).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Para Hitler os Estados Unidos são exemplo
de civilização industrial (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>,
Res Gestae, Milano, 2015, p. 97).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Para Hitler as fases mais importantes da
guerra são a ocupação da Noruega e a campanha russa (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 104). Omite a campanha
contra a França, supremo desprezo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-7173991715182791812023-03-27T17:54:00.000+00:002023-03-27T17:54:00.618+00:00Hitler e os bem pensantes II<p><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; text-align: justify;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Para Hitler os negros tornaram-se porcos
apenas quando os missionários os vestem, quando andam nus são perfeitamente
limpos (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae,
Milano, 2015, p. 25). Também Hitler crítica as missões por terem desvirtuado os
africanos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Uma delegação finlandesa, depois da guerra
com os russos abordou Hitler para ser um protectorado alemão (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 37). Quando Hitler visitou
a Finlândia, o marechal Mannerheim, o herói da liberdade finlandesa, ficou
feliz com esta visita, e o Presidente da República Ryti também se mostrou
acolhedor (p. 59). O general Dietl não é apenas popular na Alemanha, mas também
na Finlândia (p. 118).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler queria que se fizessem na Holanda
duas escolas políticas, uma para rapazes, outra para raparigas (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 40).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">A relação de Hitler com o cristianismo
revela-se de forma paulatina ao longo das conversas. A sua relação com o
cristianismo aproxima-o do Maio do 68 e da sua concepção simplista, tanto do
cristianismo, como do paganismo. Hitler não queria a formação de igrejas
unitárias para vastas porções do território russo a ocupar (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, pp. 43, 243). Hitler
opunha-se aos clérigos filo-semitas (p. 51). Não queria visitar a Espanha nunca
(p. 60), onde não é possível uma revolução nacional como na Alemanha e na
Itália por causa do poder da Igreja Católica (p. 61). A Espanha não é fascista
(p. 72). Mas recusa a ideia de que os espanhóis são preguiçosos, viu-os
trabalhar (p. 74). Se os italianos e os espanhóis querem ser católicos é
problema deles (p. 231). Os padres e os monárquicos são os piores inimigos do
despertar germânico (p. 62). Instituiu o cargo de «bispo do Reich» para trazer
luz ao problema da Igreja Evangélica (p. 63). Os construtores navais da era
cristã esqueceram-se das formas naturais dos peixes quando faziam navios, ao
contrário dos antigos (p. 115). O Império Romano foi vencido, não pelos
germanos ou os hunos, mas pelo cristianismo (p. 144), tese de Gibbon revistada.
Mostra simpatia pelo Juliano, o Apóstata (p. 144), que ocorre entre a extrema
direita e o Maio de 68. Para a perseguição contra os cristãos toma como exemplo
o imperador Juliano (p. 12). Se o papado sobreviveu apesar das premissas
absurdas do cristianismo, foi por mérito da grandiosa organização da Igreja (p.
159). O cristianismo falhou por não ter transferido o seu princípio metafísico
no plano material (p. 78 – não se percebe bem o que quer dizer com isto, mas
vale como crítica). O cristianismo é fanático e intolerante (p. 164). A Igreja
lutou sempre contra a livre investigação e ainda hoje em dia se vê nas escolas
o absurdo de ensinar a teoria da evolução e o Génesis ao mesmo tempo (p. 222).
Se a Igreja tivesse praticado a lei do amor, não teria resistido muito tempo,
foi através da tortura e na fogueira que fez o seu poder (p. 238). Não se
percebe se estes momentos de brutalidade lhe provocam admiração, ou não. Tem
como modelo de estilo as conversas entre Frederico II e Voltaire, que admirava
(p. 223). E só se pode rir perante a pretensão de um santo católico como Santo
António, de mortificar a carne (p. 198). De entre a oposição ao nazismo inclui
o catolicismo político (p. 165). Pensa que há uma íntima colaboração entre a
Igreja Católica e os assassinos de Heydrich (p. 245). Como muitos do Maio de 68
admira a responsabilidade colectiva das famílias no Japão, em que toda família
responde pelos crimes de um dos seus membros (p. 175). O Japão teve a sorte,
como aconteceu com o maometanismo, de ter uma religião de Estado não corrompida
pelo cristianismo (p. 234). É a favor de energias renováveis como a do vento, e
da produção local de energia (p. 179). Quer expulsar os judeus e os cristãos da
vida política alemã (p. 196). Depois da Guerra tomará medidas que tornarão
praticamente impossível aos jovens serem conquistados pela Igreja Católica (p.
236). Como o Maio de 68 diz que a burguesia é vil (p. 196), nenhuma classe é
mais obtusa que a burguesia (p. 205). Não se deve dar valor excessivo à vida
individual (p. 229). E coloca-se em oposição à Igreja e à nobreza (p. 200). Se
não temos nada a ver com as crenças do paganismo romano e grego, os seus
monumentos são um testemunho arquitectónico (p. 227). Como os do Maio de 687
queixa-se de que o cristianismo retira a alegria do belo (p. 229). Hitler
achava que um dia no futuro todos terão direito de serem felizes cada um a seu
modo, como o mundo antigo tinha conhecido, em que ninguém obrigava os outros a
converterem-se aos próprios deuses (p. 233). Como o Maio de 68 não gosta das
academias (p. 253), e não gosta dos purismos da língua (p. 250) e defende que a
língua alemã se enriquece com a vinda de palavras de outras línguas (p. 251). A
libertação de preconceitos é um dos argumentos de Hitler (p. 291).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Quando lhe propõem que sejam transferidas
para a Alemanha obras de arte que nasceram na Alemanha e estão no museu de
Cracóvia, Hitler está contra porque diz que, se assim fosse, abria-se um
precedente sem fim (ROUSSILLON, Sylvain, <i>L’Épopée Coloniale Allemande</i>,
Via Romana, Le Chesnay, 2021, p. 256): precisamente o que defende o Museu
Britânico.<o:p></o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14157382126842852.post-48805977705351992422023-03-24T11:48:00.009+00:002023-03-24T11:48:50.050+00:00Hitler e os bem pensantes I<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Deixo de forma algo crua o que resulta de
conversas pessoais de Hitler, numa tradição de conevsras à mesa que já existia
em relação a Lutero. Deixo para quem ler a escolha. Cada um verá o que acha
mais proixmo das ideologias actuais.</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">É curioso como PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p.11, diz que as conversas de
Hitler são banais por se referirem às consequências nocivas de fumar, mas que a
mesma prole de bem pensantes noutras áreas ache essencial falar da proibição do
tabaco.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">As relações com os ingleses e o Leste
europeu são duas faces da mesma moeda. Hitler quer que os alemães sejam os
ingleses dos restantes europeus. Hitler defendia que depois do fim da guerra
deveria existir uma amizade duradoura com os ingleses (PICKER, Henry, <i>Conversazioni
di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 17). O que é a Índia para
os ingleses será a Europa de Leste para os alemães (p. 19). É significativo que
isto seja omitido: o mais considerado movimento mais racista do mundo era
racista antes do mais com europeus, e queria colonizar, não os outros
continentes, mas os europeus. As classes superiores inglesas são maravilhosas
mas as inferiores não valem nada, ao contrário das classes inferiores alemãs
que são satisfatórias (p. 36). Os ingleses são hipócritas, porque antes da
guerra adoravam os teatros alemães e agora chamam os alemães de bárbaros (p.
45). O único inglês que percebeu a realidade actual é o duque de Windsor que
queria deixar os alemães colonizar o Norte da Austrália para ser um escudo
contra o Japão (p. 50). Lembra que os ingleses aceitaram a ajuda do Japão na I Guerra
Mundial (p. 55). Nas zonas ocupadas dever-se-ia usar os métodos que os ingleses
usavam nas suas colónias (p. 81). Os territórios de Leste são essenciais para o
povo ter as matérias-primas essenciais (p. 90). Tinha o eterno sonho da aliança
anglo-alemã (p. 96). Embora em geral tivesse desprezo pelos eslavos, em relação
aos eslavos do Sul não via o problema da sua germanização sob o ponto de vista
rácico, mas tinha objecções sob o ponto de vista político (p. 204). É a negação
do pensamento platónico. Os gregos não devem fazer escravos dos outros gregos,
até porque se estiverem juntos terão mais força para atacar os bárbaros (<i>Rep</i>.
469b-c) (PLATONE, <i>Repubblica</i>, Bompiani, Milano, 2019, pp. 596-597).
Bismarck pessoalmente era contra a colonização (ROUSSILLON, Sylvain, <i>L’Épopée
Coloniale Allemande</i>, Via Romana, Le Chesnay, 2021, p. 35).</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">As escolas alemães são mais democráticas
que as inglesas (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res
Gestae, Milano, 2015, p. 239).</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler dizia que não se sentia talhado
para ser profeta ou Messias (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>,
Res Gestae, Milano, 2015, p. 240).</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Hitler gostava da esquerda revolucionária
francesa porque lhe servia os interesses (PICKER, Henry, <i>Conversazioni di
Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p. 18).</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">A América pretende ficar com a herança
britânica e um dia a Alemanha e a Inglaterra estarão juntas contra a América
(PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015,m p. 20).</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">A relação do Hitler com os muçulmanos é
igualmente significativa. Hitler entendia que se devia fazer um pacto de
amizade com os turcos e deixar-lhes na íntegra a gestão dos Estreitos (PICKER,
Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano, 2015, p.
21). Kemal Ataturk, de olhos azuis, é um descendente dos berberes que os
alemães deixaram no Norte de África, como os curdos o são na Ásia Central (p.
23). A religião dos turcos impede-os de se aproximar de outras grandes
potências, como os russos (p. 32). A queda de Sebastopol fez explodir o ódio
dos turcos em relação aos russos (p. 70). O grande Mufti, com a sua paixão
nacional, considera a política na perspectiva do interesse árabe, e com os seus
cabelos louros e olhos azuis, apesar da sua cara de sapo, revela que deve ter
antepassados arianos, e eventualmente o melhor sangue romano (p. 70). Sabia que
Ancara fazia parte do mundo islâmico (p. 76). Achava essencial uma ligação
ferroviária com Constantinopla (p. 105 – não usa o nome de Istambul).</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O povo alemão é demasiado inteligente para
dar ouvidos à nobreza, a nobreza está bem para os pequenos povos periféricos
(PICKER, Henry, <i>Conversazioni di Hitler a Tavola</i>, Res Gestae, Milano,
2015, p. 22). Hitler censurava a arrogância dos inúteis aristocratas e a sua
conversa fútil (p. 47). As classes mais altas, que se preocupam com a sorte dos
judeus, não mostraram nenhuma preocupação com os milhares de alemães que
tiveram de emigrar por miséria (p. 164). É difícil encontrar alguém mais
estúpido que um rei (p. 176). Os operários da Krupp e os mineiros são os
verdadeiros representantes de uma humanidade superior (p. 189). Mais que
Thatcher, que vinha de pequenos comerciantes, Hitler admira os mineiros.<o:p></o:p></span></p>Alexandre Brandão da Veigahttp://www.blogger.com/profile/09798655630336833574noreply@blogger.com0