quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

I. A superioridade do islão

 

Mostrando a uma amiga minha um vídeo onde se demonstrava que o islão durante o tempo das cruzadas não era mais desenvolvido que a cristandade a resposta dela foi a de que era mera publicidade enganosa. A pergunta que me coloquei foi de natureza meramente lógica: para se afirmar a superioridade de uma cultura em relação a outra está-se a fazer um juízo comparativo. É preciso ter estudado a Europa do século XII e o Levante islâmico do mesmo século.

Será que as pessoas estudaram ambas as civilizações dessa época? Que coisa as leva a ter certeza de que no século XII a cultura europeia era inferior à islâmica?

Em primeiro lugar, a deficiência racional da nossa época. Os argumentos lógicos não comovem as pessoas. Dizer que para se fazer um juízo comparativo se exige conhecimento de dois comparandos não comove ninguém. A Idade Média era bem mais racional que a época moderna, como alguém insuspeito como Whitehead mostrou.

Em segundo lugar, a submissão a uma cartilha. No liceu as pessoas aprenderam que na Idade Média a Europa estava atrasada, e por isso nada mais reconfortante que achar que a cultura islâmica lhe era superior.

Em terceiro lugar, o facto de a Europa se comprazer em sentir a sua inferioridade em relação a outras culturas.

A ignorância é consoladora, bem como a supressão da racionalidade, a submissão a hábitos de pensamento e o desejo inatural de se sentir uma porcaria.

A questão é que eu próprio aprendi algo de semelhante durante a minha formação escolar. Mas a verdade é que nunca gostei de cartilhas, venham elas de onde vierem. Ainda recentemente assisti a uma conferência em que os mestres Landau e Lifchitz (mestres russos que estabeleceram a ortodoxia nos estudos da física nas últimas décadas) eram postos em causa. Para eles, o coeficiente de Poisson era evidentemente positivo, sempre foi. O conferencista mostra no entanto que pode ser negativo (em síntese que uma compressão não gera uma expansão sempre, mas pode haver compressões que geram compressões e expansões que geram expansões). Podia-se ir mais longe e pensar que esse coeficiente seria complexo.

Seja. Voltemos ao ponto.

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