segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A Síria não é árabe


 

E eis que as grandes migrações começam. Bem sei que não vêm apenas da Síria, mas do Iraque, Afeganistão, Eritreia, da África sub-sahariana.

 

Mas a Síria é significativa em múltiplos sentidos. É um pais árabe, dizem-nos, muçulmano, na maioria, sunita, em maioria relativa. Seria pois de esperar que se dirigissem para um país árabe por excelência, muçulmano por natureza e sunita centralmente. Nada mais, nada menos… que a Arábia Saudita.

 

E eis que nenhum eles pretende ir para a Arábia Saudita.

 

Os célebres e ditos países árabes não o são. São arabizados. Os árabes, os verdadeiros, os da Península Arábica, nunca sentiram os outros como árabes na verdadeira acepção, mas apenas arabizados. Da Síria a Marrocos os que se anunciam como países árabes deveriam reflectir sobre a nula solidariedade da Arábia Saudita. Largam dinheiro a salafitas, financiam terroristas, despejam fortunas em propaganda, mas não acolhem, e muito menos patrocinam o acolhimento de supostos árabes.

 

Os verdadeiros árabes, os da Península Arábica, nunca consideraram os outros como verdadeiros árabes, mas meras imitações. No que respeita à Síria e ao Líbano e ao Egipto, os três países mais cultos de entre os muçulmanos, os árabes verdadeiros desprezam-nos por serem pobres e mera imitação, invejam-lhes uma História muito mais antiga e mais profunda cultura.

 

Podemos perceber que os sírios não queiram ir para o Egipto ou para Marrocos. Não são países ricos. Mas porque não a Arábia Saudita? É rica, bem o sabemos.

 

É pelo clima árido que nem pensam emigrar para lá? E quem desconhece a dureza do Inverno alemão e sueco?

 

Os sírios muçulmanos preferem a Alemanha à Arábia Saudita. Quando dobram a espinha inclinam a cabeça para Meca, mas quando pretendem viver como homens viram-lhe o traseiro. Praticam a apostasia com os seus pés, abjuram com a sua decisão. Dizem: Só os cristãos sabem fazer sociedades onde os homens podem viver como homens. O islão não é capaz de o fazer. Apostasiam com os pés e não com o coração. Esse o seu problema e futuramente o nosso.

 

Mas a vida tem ainda mais paradoxos. O suposto moderno, aberto, rico de ideias, generoso governo grego mostra-se indiferente à sorte dos migrantes. Afinal, é fresco ter um governo com um partido protofascista, como o da independência grega. E os dois símbolos de acolhimento e abertura nesta crise são os símbolos retrógrados por excelência: Merkel e o Papa.

 

A Alemanha é rica, precisa de migrantes, tem um problema demográfico? Mas não é isso que dizem de toda a Europa? E, no entanto, nem todos os países têm manifestações à chegada dos comboios a receber os migrantes e a dizer que são amados. Tanto Merkel como o Papa invocam os valores cristãos do acolhimento. E vemos os bem pensantes bramir discursos, mas fazer bem pouca coisa.

 

A comédia humana continua, sempre com máscara da tragédia. A Europa não quer muçulmanos que apostasiaram com os pés sem o saber, os países árabes por excelência mostram aos arabizados que não o são, mas mera imitações, os arabizados não percebem o desprezo dos países da Península Arábica, são as figuras da reacção a promover o acolhimento em nome dos valores cristãos.

 

Delicioso Outono do humor, prenúncio de novas tragédias. Os fracos conceitos teóricos da ciência política comum esfarelam-se sobre os nossos olhos e ninguém os tenta reformar. Qualquer ciência humana que não dê lugar à tragédia e à comédia não é escolar, seria elogio no caso. É apenas pobre, pobre, pobre. Que não se deixe de olhar para o mundo quando se olha para os livros. Que os arabizados reflictam porque pensam ir para a Europa para se sentir humanos e não para Medina. E que os europeus pensem se lhes basta a civilização para serem humanos quando a palavra de acolhimento recorre sempre à mesma Pessoa.

 

 

Alexandre Brandão da Veiga

(mais)