II. Les Négriers en Terres d'Islam. La Première Traite des Noirs, VIIe-XVI siècles, Jacques Heers, Perrin, Paris, 2004
Há vários argumentos que neste contexto são de somenos importância:
a) O islão levou 19 milhões enquanto os cristãos apenas 17 milhões de escravos. O cristianismo fê-lo em menos tempo porque foi mais eficaz. A incompetência não é mérito no que respeita ao islão, e os números nesta área são importantes mas sempre arriscados
b) O esclavagismo africano é endémico em África. Existia desde a mais remota antiguidade de dele participaram africanos, brancos e negros (egípcios, núbios, africanos da africa abaixo do Sahará).
c) As interpretações dos textos religiosos, que podem ser as mais variadas.
O que é importante é salientar o que existe de estrutural na relação com a escravidão na comparação entre a Europa e o Islão:
a) O esclavagismo islâmico durou mais de doze séculos. O cristão pouco mais de doisem termos significativos.
b) O esclavagismo cristão acabou de dentro da sua própria cultura. Os movimentos anti-esclavagistas não são uma imposição de africanos ou muçulmanos, mas de europeus. O esclavagismo islâmico foi fenecendo por imposição europeia e a franco contragosto.
c) Estes movimentos estão associados ao cristianismo, seja com John Brown na América, seja na Inglaterra com os movimentos evangélicos, Quakers e outros; o iluminismo teve representantes favoráveis e desfavoráveis ao esclavagismo.
d) O exemplo dado é fundamental. O fundador de uma religião teve escravos, o da outra não. Numa o mais perfeito dos homens teve escravos, noutra o paradigma da humanidade não os teve.
Percebe-se porque razão Platão, Aristóteles e tantos outros filósofos antigos distinguiram o seu ensinamento público do esotérico. Sabiam que realidades algo complexas seriam sempre incompreendidas do vulgo. Mas o problema maior não é a incompreensão passiva. É quando esta se pretende arvorar em paradigma do pensamento universal. A História carece de uma capacidade de pensar o complexo, coisa que falta ao comum. E de o fazer com probidade, o que não é de esperar de quem fala do que não sabe.
Alexandre Brandão da Veiga
1 comentários:
Vale bem a pena ler,em parte, na mesma linha de argumentação, o livro "Revoltas escravas, mistificações e mal-entendidos" de João Pedro Marques, investigador da Instituto de Investigação Científica e Tropical. Alerto já para a minha parcialidade: é uma edição da Guerra e Paz editores.
Enviar um comentário