sexta-feira, 25 de maio de 2007

I. A herança de Blair

Tenho sempre feito uma regra de não citar nomes de medíocres. Blair não o é totalmente. Mas está longe de ser um grande homem da política. Sobretudo um homem que fique para a História.
É sempre temerário afirmar algo sobre o juízo futuro da História. A História é um tribunal colectivo, aberto permanentemente e com muitos juízes incompetentes, alguns corruptos e a maioria esquecida, para nossa sorte. De entre os seus juízes probos, felizmente restam-nos bastantes.

Por isso tudo o que disser terá ser entendido com alguma cautela.

Afastarei por isso dois aspectos da sua política, geralmente os mais citados: do lado positivo, o sucesso económico, do lado negativo, a guerra do Golfo. Negativo e positivo nada têm de valorações minhas mas apenas é recolha de lugares comuns apanhados na comunicação social.

Porque afasto o sucesso económico? Porque o mero sucesso económico nunca guarda lugar na História. A ser assim Churchill seria um dos mais medíocres governantes ingleses e Eubulo seria mais lembrado que Péricles. Ou Leptis Magna seria mais lembrada que Carlos Magno. Nem interessa analisar aqui se a riqueza inglesa é sustentável, se haveria outra opção melhor, nem os efeitos sociais das suas políticas. Nem sequer se efectivamente a educação e a saúde se encontram no estado maravilhoso que Blair anunciou. Ainda menos vou referir a situação das infra-estruturas públicas em Inglaterra, em clara decadência e atraso em relação aos outros países europeus mais desenvolvidos.

Não vou igualmente referir o Iraque. Embora tenha sido contra a guerra do Iraque, não por ser pedinte da paz, mas por razões geoestratégicas e políticas europeias, sou o primeiro a perceber que Blair a tenha apoiado. Estando a Grã-Bretanha a perder lugar estratégico em relação aos Estados Unidos com o fim da guerra-fria, perante a Europa Central, a Ásia Central, incluindo a Turquia, a Índia e a China, Blair, na perspectiva e com as premissas geoestratégicas de que parte, tinha toda a razão em apoiar os Estados Unidos. O último reduto do valor britânico diferenciado para os EUA é a reliablity, a lealdade decenal (não secular, entenda-se) da Grã-Bretanha.

2 comentários:

Jorge Buescu disse...

Claro que a mediocridade não é argumento. Mas eu vivi em Inglaterra no tempo de John Major, e a cada dia que passava era mais evidente que a sua vocação podia ser padeiro ou leiteiro, não PM. Em comparação com ele, a todos os níveis, Blair parece um distinto aristocrata.

Inez Dentinho disse...

Veremos se a Paz na Irlanda é sustentável. Se o for, Tony Blair passa à história como um PM de excepção.
Vivi na República da Irlanda durante os dias escuros da greve de fome que levou à morte Bobby Sands, na prisão de Maze, na Irlanda do Norte, em Maio de 1981. Organizaram-se vigílas, o debate voltou à República como acontecera, pela última vez, nas primeiras décadas do século XX. A chantagem daquele rapaz de 27 anos com a Senhora Thatcher tomou contornos de seriedade. A questão era mais forte do que a morte. Depois de Bobby Sands, outros nove IRAs morreriam da mesma forma. E quantos, antes, também pela fome e guerra provocadas pelo secular domínio inglês. Admiro Tony Blair pela persistência, diplomacia, realismo e frescura de intenções que pôs na solução do problema mais vergonhoso que a União Europeia tinha intra muros.