Fragilidades do islão II
Há uma terceira via pela
qual o islão aparece fragmentado no que respeita à Europa. Confrontado com uma
Europa que não se quer ou sabe cristã, mas por isso mesmo inconscientemente
movida pela força deste, o islão estilhaça-se como religião em três correntes.
A primeira cristianiza-se,
mesmo sem o perceber. Problemas como os da liberdade e do amor, que nunca foram
centrais no islão, passam a ser usados como bandeira do islão. O islão é
anunciado como religião de liberdade e amor, quando nunca foram estas as suas características.
É certo que umas vezes isto acontece por mera estratégia de comunicação. Mas
não deixa de ser verdade que, espantados por descobrir uma religião em que
existe uma relação pessoal com Deus, como o cristianismo, em que o tema de
liberdade do ser humano é central (contra o sempre simplificado, mas não menos
presente fatum mahometanum) os muçulmanos
cristianizam a sua prática.
Em segundo lugar, cria-se
uma corrente do islão na Europa que se caracteriza pela oscilação, inevitável
sem dúvida, na medida em que os conceitos em que trabalham, as categorias, são europeias,
e em que a mensagem do islão é contaminada por valores europeus, e consequentemente
cristãos.
Numa terceira modalidade
o islão abespinha-se, cristaliza-se na sua diferença. Mas mesmo aqui é por influência
de uma cultura cristã.
Estes fenómenos não são
novos. O hinduísmo em contacto com o islão também ganhou características
diversas. Por exemplo, como Sergent mostrou, a importância das restricções
sexuais aumentou muito no hinduísmo por influência do islão e encontra-se por
vezes mais marcada… nos fundamentalistas hindus.
Em quarto lugar o islão
tem uma fragilidade de monta: a sua esterilidade cultural. Desde o século XIII
que não produz nada de relevante. Nem um matemático, nem um físico, nem um filósofo,
nem um músico, nem um grande escritor, muito menos escultor ou pintor. Parece
uma questão ociosa, mas está bem longe de o ser. O poder cultural é menor do
que o desejam os pingões, mas é bem maior do que o julgam os grosseiros. Não
tendo exportado senão o kebab e dois
ou três aspectos folclóricos, essa é uma grande fraqueza. Associar palavras
como matemática e islâmica apenas faz rir, ou quando muito sorrir de condescendência.
Não é um bom começo sermos objecto de condescendência.
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