quinta-feira, 23 de junho de 2016

Fragilidades do islão I


É fácil anunciar forças e fragilidades e bem fácil dizer que fragilidades significam derrota. Da mesma forma é discurso fácil, como o de muitos políticos europeus, o de dizer que numa luta entre o islão e a Europa esta última perderia. Além do erro de análise, mostra qual o fundamento da sua suposta tolerância em relação ao islão: o medo. Partem derrotados para o debate.

A fragilidade não quer dizer derrota. A Inglaterra tinha fragilidades sem número durante a Segunda Guerra Mundial. De Gaulle tinha apenas fragilidades, ou quase, quando começou em Junho de 1940.

De novo, saliento, não anuncio uma guerra, mas apenas faço análise. As forças do islão terão de ficar para outras núpcias, mas não resultam nem da força intrínseca da religião e muito menos da força intelectual da cultura.

Assim podemos ver quais as fragilidades do islão sem daí retirar consequências indevidas. Comecemos pelas mais fáceis.

O islão está divido em correntes religiosas diversas que não se amam entre si. Xiitas, sunitas, karedjitas, sem contar com outras. Mas também divisões étnicas fortíssimas, em que árabes, persas e turcos não se amam propriamente e em que se trocam desprezos, intelectuais, culturais, políticos.

O islão está longe de ser um contínuo. Na Indonésia é uma coisa, no Afeganistão outra, na Turquia outra. A experiência da República Árabe Unida de Nasser e da Liga Árabe mostram que a solidariedade é grande em sentimentos e palavras, mas tende a ser nula em actos. A Jordânia, a mesma que acolheu tantos refugiados, matou mais palestinianos que muitos ataques israelitas, só para se livrar deles. Estas divisões geopolíticas são triviais e qualquer um as pode enunciar.

Mas existe um segundo dado que não vejo referido. É que o islão é uma cultura sobre pressão. No Oriente tem duas grandes potências que lhe servem de travão em modos diversos. Os chineses não têm nada contra o islão, desde que seja muito minoritário nas suas portas, e esteja sobretudo fora delas. E não têm qualquer problema de consciência de, caso o islão tenha intenções guerreiras contra a China, de pura e simplesmente aniquilar seja de que forma for, o islão e os islamitas. Técnica fácil, sem grandes elaborações.

Já a Índia incorpora o islão dentro das suas fronteiras, mas não pretende ser subjugado por ele. Desde que seja um islão contido, incorpora-o, caso não o seja, não tem também problemas de consciência na matéria.

A Rússia, por outro lado, sabe bem como lidar com o islão, após muitos séculos de contacto, conflito e depois domínio de muçulmanos.

Os moles são apenas os europeus, mas esse bem sabemos que é estatuto que se muda com a História.

O islão é pois, ao contrário do que se diz, uma cultura sob pressão, fortemente contida de muitos lados, e em risco de o ser cada vez do lado ocidental. A ideia de uma Europa mole é apenas uma ilusão de óptica criada nos anos 90, uma das épocas mais medíocres da História do pensamento – ou da ausência dele.

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