Fragilidades do islão I
É fácil anunciar forças e
fragilidades e bem fácil dizer que fragilidades significam derrota. Da mesma
forma é discurso fácil, como o de muitos políticos europeus, o de dizer que
numa luta entre o islão e a Europa esta última perderia. Além do erro de
análise, mostra qual o fundamento da sua suposta tolerância em relação ao islão:
o medo. Partem derrotados para o debate.
A fragilidade não quer
dizer derrota. A Inglaterra tinha fragilidades sem número durante a Segunda Guerra
Mundial. De Gaulle tinha apenas fragilidades, ou quase, quando começou em Junho
de 1940.
De novo, saliento, não anuncio
uma guerra, mas apenas faço análise. As forças do islão terão de ficar para
outras núpcias, mas não resultam nem da força intrínseca da religião e muito menos
da força intelectual da cultura.
Assim podemos ver quais
as fragilidades do islão sem daí retirar consequências indevidas. Comecemos
pelas mais fáceis.
O islão está divido em correntes
religiosas diversas que não se amam entre si. Xiitas, sunitas, karedjitas, sem
contar com outras. Mas também divisões étnicas fortíssimas, em que árabes, persas
e turcos não se amam propriamente e em que se trocam desprezos, intelectuais, culturais,
políticos.
O islão está longe de ser
um contínuo. Na Indonésia é uma coisa, no Afeganistão outra, na Turquia outra. A
experiência da República Árabe Unida de Nasser e da Liga Árabe mostram que a solidariedade
é grande em sentimentos e palavras, mas tende a ser nula em actos. A Jordânia,
a mesma que acolheu tantos refugiados, matou mais palestinianos que muitos
ataques israelitas, só para se livrar deles. Estas divisões geopolíticas são triviais
e qualquer um as pode enunciar.
Mas existe um segundo dado
que não vejo referido. É que o islão é uma cultura sobre pressão. No Oriente
tem duas grandes potências que lhe servem de travão em modos diversos. Os
chineses não têm nada contra o islão, desde que seja muito minoritário nas suas
portas, e esteja sobretudo fora delas. E não têm qualquer problema de consciência
de, caso o islão tenha intenções guerreiras contra a China, de pura e simplesmente
aniquilar seja de que forma for, o islão e os islamitas. Técnica fácil, sem grandes
elaborações.
Já a Índia incorpora o
islão dentro das suas fronteiras, mas não pretende ser subjugado por ele. Desde
que seja um islão contido, incorpora-o, caso não o seja, não tem também
problemas de consciência na matéria.
A Rússia, por outro lado,
sabe bem como lidar com o islão, após muitos séculos de contacto, conflito e
depois domínio de muçulmanos.
Os moles são apenas os
europeus, mas esse bem sabemos que é estatuto que se muda com a História.
O islão é pois, ao contrário
do que se diz, uma cultura sob pressão, fortemente contida de muitos lados, e
em risco de o ser cada vez do lado ocidental. A ideia de uma Europa mole é
apenas uma ilusão de óptica criada nos anos 90, uma das épocas mais medíocres
da História do pensamento – ou da ausência dele.
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