O 7º de Cavalaria
E o Pedro justifica: as elites desertaram o que talvez queira dizer que não são elites e as soluções de liderança em confronto são passado sem futuro.
As coisas não estão fáceis para os lados da Rua de São Caetano. Desde logo pelas razões óbvias: o PSD não resistiria a mais um delírio populista às mãos de Pedro Santana Lopes. Depois da sua aterradora passagem pelo governo e da experiência surreal que foi o Menezismo, o partido não aguenta mais uma aventura sem rumo, sem norte e sem senso que é tudo o que Santana tem para lhe oferecer. Não aguentaria o PSD e não aguentaria o país. Portugal precisa de uma alternativa credível, confiável, responsável e sobretudo ideológica, substantiva e com futuro no centro-direita do seu espectro político. Santana representa, já o provou vezes demais, o contrário de tudo isto. Adivinha-se a ambição, percebe-se o nervo, compreende-se a incontrolável vontade de ajustar contas com o passado, mas não se vislumbra qualquer projecto político e, desta feita, nem sequer os ingredientes mínimos para fazer face a um Sócrates que, é bom não esquecê-lo, fez de Santana Lopes o seu principal trunfo político nas últimas legislativas.
Mas Santana é um alvo fácil. E mais fácil ainda é criticá-lo fazendo por esquecer que o panorama não é muito mais entusiasmante do outro lado da barricada. E curiosamente é isso, mais do que qualquer outro factor, que preocupa no PSD. Não que Manuela Ferreira Leite não tenha quase tudo o que falta a Santana. Credibilidade, previsibilidade, respeitabilidade. Não que não represente uma pausa saudável no caminho de demência pelo qual o PSD enveredou. O pecado original da sua candidatura é de natureza bem diversa: Ferreira Leite representa, também ela, uma solução sem futuro. É simultaneamente a solução mais óbvia mas também a solução mais fácil. É uma solução federadora mas dificilmente será uma solução mobilizadora. É, inequivocamente, a solução de menor risco mas não aspira a ser mais do que uma solução de transição. Longe de ser uma solução que aponte ao futuro é uma solução que se limita a reparar os estragos do passado. Fadada para dirigir o partido, rumo a uma inevitável derrota em 2009, preparando caminho para uma batalha intestina que se limita a ficar adiada.
Porventura mais relevante, a opção por Ferreira Leite, por muito séria e estimável que seja (e é) a ex-Ministra das Finanças, é a vitória dos mesmos calculismos que abriram caminho ao consulado Santanista e, no Verão passado, à aventura Menezista. É a consequência da deserção das respeitáveis «elites» do PSD que, mais uma vez, se guardam à espera de melhores dias, deixando o partido à sua sorte e o país entregue aos cuidados do Eng.º Sócrates por mais quatro anos. Ora um partido cujas «elites» permanentemente se escondem em momentos de crise é um partido que não tem, nem merece, grande futuro. De Santana, pelo menos, ninguém dirá que lhe falta coragem.
Este é um claro sinal dos tempos. Na batalha pela liderança do principal partido da oposição vão enfrentar-se dois políticos que representam passados antagónicos mas nenhum futuro. É difícil que alguém se entusiasme nestas condições. Perde o PSD e perde o país.
Esta questão devolve-nos a Reguengos. D. Carlos herdou uma imensa Casa agrícola, na sua maioria hipotecada e abandonada,. Assumiu a sua gestão directa e, em poucos anos, rentabilizou as terras, retirando-lhes o estatuto de hipoteca; recuperou os montes; reabilitou os olivais e o montado de sobro conseguindo uma produção de azeite, vinho e cortiça ímpares; apurou gado e cavalos de raça. Numa palavra, constuiu um império agrícola com escala e controlo.
De tudo isto nos falou numa conferência João Ruas, do arquivo da Fundação da Casa de Bragança, quando a exposição itinerante sobre D. Carlos esteve em Évora. Estamos em Reguengos e agora também na Ovibeja. Para a semana, abre parte da exposição no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, com um novo ciclo de conferências recomendável. Preparamos o Congresso Internacional dos Mares Lusófonos em Setembro e um grande colóquio na Católica. Estivémos no Open do Estoril na semana passada e em Maio apuramos os melhores trabalhos escolares sobre o Rei num concurso nacional com valências em ficção, jornalismo e artes plásticas. Haverá ainda regatas em Sines e no Algarve e estaremos na Golegã mostrando o que o Cavalo Lusitano deve a D. Carlos, entre múltiplas iniciativas.
«Só se ama o que se conhece». E vale a pena conhecer este Rei e o seu reinado.
Pelas mais variadas razões, tenho assistido a apresentações de iniciativas do Governo. Choca-me de sobremaneira o lado feérico e histriónico da logística da apresentação. Ainda hoje - desta vez só pelos microfones da rádio - senti a parafernália de "comunicação" para o anúncio da Nova Alcântara. Passar-se-á isto, desta maneira e com estes contornos, nas restantes democracias europeias? Para anunciar uma medida, um programa, um plano será necessária tal mobilização de meios humanos e financeiros? E os jornalistas continuam a acreditar e a dar crédito a tal cenografia? Um pouco mais de parcimónia, algum sentido da contenção de gastos e a probidade respeitadora dos sacrifícios dos portugueses não justificariam outra atitude do Executivo? E não mereceria outra censura? Haverá projectos com sentido e intrinsecamente bons; haverá outros simplesmente demagógicos. Com esta encenação, não há quem distinga o trigo do joio.
Não - um não rotundo - a tão perniciosa propaganda.
ps- só voltarei a 7 de Maio.
...interesse aqui. Trata-se de uma polémica sobre um assunto que ainda é tabu na nossa sociedade, a saber: poder dizer-se que a economia portuguesa cresceu antes do Twenty-five - e bem - sem se ser acusado de direitolas proto-salazarista. É uma polémica séria e não se deve esquecer que dos dois lados há sempre um pouco de razão (embora pense que do meu lado está um pouco mais). Em retrospectiva, começa aqui.
Escreveram-me um comentário em que referiam as batatas, por referência ao 25 de Abril. Sem saberem, deram-me o mote para o presente.
Chamo-lhes histórias, porque sou eu a dar-lhes o tom, o contexto e o enquadramento. A mim contaram-me como factos. Ouvi-os de viva voz, pelos meus pais, avós, tios, primos e restantes parentes. Não os tenho por mentirosos e para além da sua boa-fé, de que não duvido, tive ocasião de ver fotos, a preto e branco, em que crianças, de olhos bem abertos, e pé descalço no chão, posavam para o fotógrafo que uma vez por ano visitava as aldeias. O que vou contar passou-se nas décadas de trinta até à década de sessenta do século xx. E passou-se em aldeias que distam de Lisboa 80 km. Nesse tempo, quem tinha o que comer, comia batatas. Só batatas. A minha avó, dizia que na sua casa de doze bocas, uma sardinha dava para seis. Comiam-se papas, feijão, couves. Havia batatas duas vezes por ano, e quando acabavam, a fome era geral. As galinhas matavam-se duas vezes por ano, por ocasião das festas religiosas. Em geral comia-se carne meia dúzia de vezes por ano. O resto, as galinhas, os ovos, vendia-se a quem os podia comprar. O pão era cozido uma vez por semana, e no final da mesma, já era duro e bolorento.
Lembro-me bem de ouvir contar que uma vez um rapaz, o António, que trabalhava no campo com o seu pai, num regime em que o trabalho era comprado ao dia, à "jorna" como se dizia, à hora do almoço contemplava a merenda com ar infeliz. Perante o ar infeliz do rapaz que contemplava a refeição, batatas, com um pouco de azeite, lhe dizia o pai: "- Mistura Tóino, mistura...".
Não sei porquê, mas nunca os ouvi a falar desses tempos gloriosos em tom saudoso.
Declaração de interesses: colaborei com Pedro Santana Lopes na CML e no Governo. Não sou do PSD.
Gostaria de ver na corrida Marcelo Rebelo de Sousa por estar convencida de que, cada vez que o professor tem responsabilidades, está à altura delas.
Aprecio o tom sem mácula política que Pedro Passos Coelho sugere. Mas gosto de fundamentar a esperança.
Vejo em Manuela Ferreira Leite uma oportunidade de discutir políticas com nível e de agregar pessoas parecidas. Temo a colagem com a imagem do Sócrates cobrador de impostos e o contraste desmerecedor com o Sócrates runner jovial.
Gosto de ver Alberto João Jardim mais envolvido na política nacional. A sua experiência e instinto são úteis. É pena que mantenha no Continente a exigência da ausência total de concorrência.
Pela estima que tenho a Santana Lopes, preferia não voltar a ouvir tão cedo os ataques de que vai ser alvo, nem sempre merecidamente. Mas o combate político não se compadece com juízos pessoais deste tipo. Desejo que seja melhor interpretado.
Das expectativas, passemos à realidade. A verdade está na síntese da Sofia: «A geopolítica intestina serve aritméticas de antecipação muito difícil».Tudo se decide por gente movida por rancores de bairro ou promessas de palanque no seu pequeno quarteirão. Os candidatos a líder ainda podem arranjar intérpretes e comerciantes para lidar com os câmbios de cada moeda. Mas ficam a dever a vitória a este anel de intermediários. A ele ficam vinculados e devedores.
Salvo se ganharem as eleições.
Ou, quero crer, salvo se o seu discurso interpelar directamente o eleitor laranja e não tanto os capatazes dos votos distribuídos por todo o País. Tenho essa esperança. Apenas porque não aceito que estejamos reféns dos merceeiros que fazem prevalecer os interesses às vontades; os postos, às ideias; os corredores, aos horizontes; os favores à melhor militância política.
Qual dos candidatos pode romper com esta lógica?
Há pouco mais de 500 anos, no dia 19 de Abril de 1506, alguém afirmou ter visto o rosto de Cristo iluminado sobre um dos altares da igreja do Convento de São Domingos, em Lisboa (ao lado do actual Teatro D. Maria II), o que foi imediatamente interpretado como sendo um sinal da misericórdia divina anunciando aos crentes o fim de um longo período de pestes e de seca.
Ao seu lado, porém, alguém perguntou, prudente, ou incrédulo, se não poderia talvez tratar-se de um simples reflexo de sol... Mas logo se arrependeu de tal pergunta, pois que, rapidamente identificado como sendo um cristão-novo, foi imediatamente agredido pela multidão que, descontrolada, o espancou até à morte.
A inflamada promessa de 100 dias de indulgências a quem matasse os hereges, ali então feita por um padre dominicano, libertou irremediavelmente a fúria da multidão que, nos três dias que se seguiram, nessa triste semana santa, percorreu a cidade agredindo, roubando, violando e matando cerca de 3.000 presumíveis judeus (os quais, desde 1497, se vinham “convertendo” ao cristianismo).
Só o envio das tropas reais entretanto determinado por D. Manuel, que não se encontrava em Lisboa, conseguiu pôr cobro aos tumultos, tendo-se depois punido os responsáveis, confiscado os seus bens, condenado à morte o dito padre dominicano e encerrado o Convento durante alguns anos.
Foi por ocasião dos 500 anos deste terrível acontecimento que a Comunidade Israelita de Lisboa, em 2006, propôs à Cãmara Municipal a colocação, no mesmo largo de São Domingos, de um memorial evocativo da chamada “matança da Páscoa”. A Igreja católica imediatamente se associou a esta proposta, manifestando o desejo de juntar-lhe um outro memorial, nomeadamente do gesto de "purificação da memória" e de reconciliação naquele mesmo local deixado, no ano 2000, por D. José Policarpo.
Estando ambas as comunidades de acordo, foram entregues os respectivos projectos na Câmara Municipal de Lisboa, então presidida por Carmona Rodrigues, mas as propostas não tiveram qualquer seguimento (vá-se lá saber porquê...), até ao momento em que a actual presidência da Câmara, tendo tido conhecimento delas, unanimemente se associou à iniciativa, à qual quis juntar uma placa alusiva ao acontecimento e um mural que propõe Lisboa como cidade da tolerância.
Foi assim inaugurado, ontem, no largo de São Domingos, em Lisboa, o Memorial às Vítimas da Intolerância, evocativo do massacre judaico de 1506. A cerimónia foi presidida pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, e pelo Rabino da Comunidade Judaica de Lisboa, Eliezer Shai Di Martino, que podem ver-se na fotografia, acima, simbolicamente soltando algumas pombas da paz. A eles se juntaram representantes das diferentes comunidades religiosas e de imigrantes da cidade, como mais detalhadamente se poderá ver aqui, aqui e aqui.
A propósito desta “tolerância”, porém, de que Lisboa ali quer ser sinal, é bom notar que aquelas pombas da paz (aliás representadas no memorial católico por referência à arca de Noé, que tanto na tradição judaica, como na cristã, mostra toda a humanidade como sendo uma só família), surgem, hoje, em Lisboa, como verdadeiros cavalos de Troia.
De facto, desde a reconstrução de Lisboa iniciada pelo Marquês de Pombal, todos os sinais da vida religiosa têm vindo a ser sistematicamente afastados para as ruas secundárias e menos “iluminadas” da cidade. Aqueles memoriais, assim, são agora o único elemento religioso visível no eixo central que vai do Terreiro do Paço à Avenida da República. Essa é também a sua importância.
A lógica moderna, de facto, é a do totalitarismo do exterior sobre o interior, do objectivo sobre o subjectivo, do público sobre o privado. Sendo isto tantas vezes dito, porém, o facto é que eu nunca tinha dado conta desta inexistência de qualquer “publicidade” religiosa no centro da vida da cidade. A inexistência, na verdade, tem esse efeito – não se vê. E não se vendo é fácil fingir-se que se tolera. A verdade, porém, é outra: não se vê justamente porque não se tolera.
É por isso que este primeiro sinal de uma existência religiosa que a Igreja católica conseguiu firmar neste eixo público central da cidade de Lisboa (várias vezes tentado, sem êxito, ao longo dos últimos, pelo menos, cem anos), tem um duplo teor negativo, à maneira do cavalo de Troia: se ali entrou, em primeiro lugar, foi por ter sido proposto por uma comunidade religiosa que não a católica; se ali entrou, em segundo lugar, foi por lembrar actos de intolerância, os quais, de um modo geral, continuam a querer atribuir-se à existência religiosa – e sobretudo à católica – no espaço público.
O facto, porém, é que entrou, pela sábia mão de D. José Policarpo que, tal como Ulisses, soube imaginar outras formas para a resolução do conflito. E este, creio-o bem, é um verdadeiro sinal dos tempos. Nos próximos 200 anos, se não me engano, veremos as comunidades “locais” serem de novo impregnadas, no seu seio, por um espírito religioso com o qual terão de saber abertamente conviver. Para tal, no entanto, terá de ser vencida a intolerância que, em nome de um homem-deus, há muito que não permite que, em público, expressemos profundamente as nossas convições.
Saúdo a candidatura de Manuela Ferreira Leite.
Em primeiro lugar, por assumir o sentido de urgência que marca o momento político.
Em segundo lugar, por ter a óbvia virtude de elevar o nível da discussão política e de devolver decência à actividade partidária o que, face ao deplorável estado das coisas, sempre seria a principal prioridade.
Bastam estas duas razões para ter a certeza do meu voto.
Mas, dito o essencial, a medida da minha satisfação fica em aberto. À espera. Da equipa. Das propostas. Do tom. E da atitude.
Manuela Ferreira Leite é, por formação e por índole, uma Economista. Como líder do PSD, deverá ser sobretudo Política. É esse o grande desafio que a história lhe faz.
Portugal tem, hoje, um problema de liberdade. Como tem um problema com a qualidade da sua democracia. São questões políticas. Matricialmente políticas.
Mais, Portugal tem um problema de governabilidade. Como tem na política a dificuldade maior da sua economia. De novo, questões políticas. Que requerem pensamento político. E, antes disso, visão política.
Vamos ver que perspectivas abrirá Manuela Ferreira Leite. Vamos ver se percebe a premência da abordagem.
Digo isto na iminência de uma campanha e pensando na campanha. Porque estou absolutamente ciente da importância das semanas de confronto que aí vêm.
A vitória está longe de ser evidente. O PSD é, hoje, um partido disfuncional, feito à medida de jogos de poder que estão no terreno, instalados, há demasiado tempo. A geopolítica intestina serve aritméticas de antecipação muito difícil. E pode haver surpresas do lado de uma candidatura que avance para defender o ‘status quo’.
Aliás, seja qual for o resultado final, algo parece certo: no PSD, nada voltará a ser o que foi. Se Manuela Ferreira Leite ganhar, a linha basista tenderá a radicalizar a derrota e a retirar consequências políticas do facto. Se, pelo contrário, a vitória premiar o caciquismo eleitoral urdido, secção a secção, pelo actual poder, é provável que os derrotados apelem ao lastro moral do PSD para aí fundarem o dia seguinte.
No fim, entre dois fogos cruzados, Pedro Passos Coelho sobreviverá. E terá crescido politicamente. Com a presente candidatura, teve a inteligência de garantir que também dele virá, inevitavelmente, um sinal dirigido ao futuro.
Hoje nos noticiários das 7h da manhã renasceu a esperança cívica e política. Obrigado, Manuela Ferreira Leite.
O Geração de 60 reuniu ontem em plenário de trabalhadores, como é hábito, no pavilhão gimnodesportivo do Belcanto.
Foram aprovadas, por unanimidade, as seguintes resoluções:
1 - Saudar efusivamente o regresso do filho pródigo. Mais notícias sobre este tema num próximo post perto de si.
2 - Agradecer à Inês Dentinho a sua «firme resolução em escrever doravante o mínimo de um post por semana»
3 - Castigar, com requintes de malvadez, os ausentes do repasto de ontem. Por razões de decoro não será divulgada, para já, a lista de sanções aprovada que será comunicada individualmente. Mas o plenário quer sangue...
4 - Manter em vigor o clima de terror que, desde sempre, tem sido uma marca deste blog. A fasquia mínima é um post por semana. Não temos o cobrador do fraque mas temos a Sofia Galvão para zelar pelo cumprimento desta meta. Tenham medo, tenham muito medo.
Em resposta autónoma (que o Sporting também merece) ao excepcional post do Pedro Norton (o melão voador) e ao comentário aí deixado pelo Manel S. Fonseca, permito-me, também eu, este pequenino abuso.
É bem verdade, Ó Manel,
Que com taças a granel
O orçamento não estica.
No entanto, assumei de vez,
Depois deste cinco a três,
A desgraça do Benfica.
Pois se o Vale e Azevedo
Vos depauperou sem medo
Dos homens maus que há no Norte...
É o Filipe Vieira
Que a vós, sem eira nem beira,
Mantém em tão triste sorte.
Compra e vende jogadores,
De certo não os melhores,
Mas a vossa gente gosta!
E quando perde, lá vem,
Chamar de "filho da mãe"
O árbitro e o Pinto da Costa.
Ora, com tal presidente,
Espantada está toda a gente
Do futebol deste mundo,
Que tenhais ainda a lata
De querer lutar pela prata
Que corresponde ao segundo.
Ah! mas essa luz sem chama
Comandada p´lo Chalana
Não vai a lado nenhum...
Calai-vos, pois, que afinal
O cinco a três nem está mal:
Podia ser sete a um.
Coelho na Mota Engil, Vara no BCP, Pina Moura na Media Capital, Ferreira do Amaral na Lusoponte, Dias Loureiro na Sociedade Lusa de Negócios, são apenas a ponta de um icebergue que, volta e meia, agita as águas insalubres da política portuguesa. Antes que a inevitável paz podre regresse, vale a pena dedicar ainda duas linhas ao tema. Até porque o verdadeiro problema é mais vasto, mais profundo e infinitamente mais perigoso. O icebergue tem nome. E o nome é o insuportável peso do Estado na economia.
Desenganem-se os mais ingénuos e poupem-se os frenéticos legisladores do costume. A coisa não vai lá com leis hipócritas sobre incompatibilidades. Nem sequer com a institucionalização dos lóbis. A menos que a ideia seja simplesmente a de acalmar a nossa consciência colectiva deixando o essencial do problema rigorosamente intocado, o remédio tem de ser outro. É que esta (só aparentemente) estranha atracção que muitas das nossas grandes empresas privadas cada vez mais revelam sentir por políticos sem experiência de gestão é o corolário lógico de um fenómeno que há muitos anos vem minando a nossa economia e, mais grave, desacreditando a nossa democracia. A perniciosa influência e a importância destes «novos gestores» são proporcionais ao peso que o Estado ocupa na economia. É porque o Estado chega, directa ou indirectamente, a todo o lado, da televisão às auto-estradas, da banca aos transportes, das comunicações ao jogo, que a posição destes senhores conta. É porque o Estado, ou melhor dizendo, é porque este bloco central de interesses nomeia gestores públicos e privados (vide o caso do BCP), porque legisla sobre tudo e mais alguma coisa, porque interfere em todas as grandes decisões económicas, porque tudo taxa, porque tudo e todos controla (por vezes com pidesco afinco como no caso das muitas ASAEs e ERCs que por aí pululam), que estes senhores ocupam os lugares que ocupam. É de resto este o mesmíssimo fenómeno que explica o cancro do financiamento partidário e, por via deste, boa parte da corrupção instalada.
Chamemos os bois pelos nomes. Os accionistas da Mota Engil, do BCP, da Media Capital ou da Lusoponte não decidiram juntar-se para filantropicamente montar uma espécie de «Casa do Artista» para políticos na reforma. Muito pelo contrário, continuam a tomar decisões com base em critérios de pura racionalidade económica. E se escolhem os gestores que escolhem é porque conhecem muito bem o poder que estes têm na economia e na sociedade portuguesas. Para mal dos nossos pecados, não é o poder dos mais competentes, dos mais visionários ou dos mais trabalhadores. É o poder das decisões de corredor, dos telemóveis dos governantes, dos favores prestados e por retribuir. Que é o poder que verdadeiramente interessa num país em que todos os caminhos vão dar ao Estado.
Bem vistas as coisas, a nomeação de Jorge Coelho é assombrosamente natural. Os accionistas da Mota Engil são competentes, racionais e inteligentes. E sabem ler muito bem os sinais do mercado. E o que o «mercado» paradoxalmente lhes diz é que precisam de um «especialista em Estado». Pois que não restem dúvidas: contrataram o melhor profissional que o «mercado» tem para lhes oferecer.
Em diálogo com os últimos “posts” do Pedro Lains e do Martim Avillez Figueiredo e a propósito das medidas legislativas do Partido Socialista português relativas à família, pretendo aqui dizer duas ou três coisas sobre o socialismo de José Sócrates.
Ora, como dizia o Pedro Lains há uns quantos posts atrás: “o marxismo ainda não morreu”. É bem verdade. Julgo, aliás, que se há coisa que faz falta ao nosso velho e cansado Ocidente é tomar consciência da óbvia e muito marcada presença do marxismo no seu seio, tanto naquilo que tem de bom quanto naquilo que tem de mau – sendo que tem muito de ambos.
Do meu ponto de vista, porém, o principal é isto: a “descoberta”, feita pelo materialismo dialéctico, de que os modos de produção são o motor da história, e a consequente afirmação marxista do primado do facto económico sobre o social, aliadas aos movimentos socialistas de transformação política global iniciados na segunda metade do séc. XIX, geraram uma indiferenciação prática entre a economia e a política que, permanecendo confusamente nos nossos dias, escapa (ainda que diferentemente nos regimes socialistas e nos liberais) ao controlo democrático (porquanto anterior à própria sociedade) e condiciona tendencialmente a totalidade das nossas vidas.
Para o que aqui me interessa, duas coisas devem notar-se: a primeira é que os “socialistas”, a partir das ideias de Marx, queriam verdadeiramente transformar o mundo (dividiram-se e subdividiram-se quanto ao modo e ao alcance dessa mudança, mas todos queriam mudar a realidade e mudá-la num mesmo sentido); a segunda é que o ataque que desferiram contra a “família burguesa” se compreende dentro dessas suas propostas de transformação económica e política do mundo.
Para os marxistas, de facto, é a partir da “produção da vida imediata” que ulteriormente se estabelecem as diversas “formas sociais”, processo cujo desenvolvimento histórico levou até à sociedade burguesa, com as suas noções próprias de “família”, de “propriedade privada” e de “Estado”. É no sentido da ultrapassagem do capitalismo, portanto, que se dá o seu violento ataque à família burguesa, nomeadamente aos seus pressupostos religiosos e à sua lógica do interesse capitalista.
Para os “marxistas”, portanto, a união burguesa entre marido e mulher, falsamente sancionada pela religião de Moisés e pelo direito burguês, foi progressivamente comprendida à maneira de uma luta de classes, na qual a mulher, reduzida ao papel de escrava e de prostituta, era agora chamada a colaborar com a revolução em curso, por meio da sua “incorporação no trabalho social produtivo”, pela qual se emancipava do trabalho doméstico que a tinha confinado a uma “existência meramente privada”. Afrontar a família burguesa, assim, era afrontar o próprio mundo capitalista burguês e, neste sentido, promover a sua transformação.
Vamos agora ao socialismo de Sócrates. Ora, a primeira coisa que temos que dizer é que Sócrates não quer transformar o mundo. Resignado ao “facto” de que, no essencial, tudo está previamente decidido pelo aperto de “mão invisível” entre os agentes da economia global e os da política mundial, Sócrates luta apenas para manter o poder. Nisto, aliás, como bem notou o Martim Avillez Figueiredo, esquerda e direita são hoje em dia muito iguais.
Não concordo, porém, como pretende nesse seu “post” – “Que bom ter esquerda e direita semelhantes” –, que isso seja bom. Porque se elas são iguais – ou melhor, indiferentes – é porque a crença em que tudo está previamente decidido prevalece sobre a crença no próprio homem e na sua capacidade para transformar o mundo.
Na verdade, a associação historicamente construída entre a economia de tipo liberal e a política de tipo marxista, reduzindo a democracia ao sancionamento das decisões económico-políticas posteriormente feito por um conjunto maioritário de consumidores e de espectadores, sendo ideologicamente inconfessável, obriga à difusão da tão apregoada tese do fim da história. A pretensa inexistência das ideologias, porém, com o seu contraponto da “crença” nas absolutas possibilidades da ciência e da técnica, implica a convicção de que nos é impossível transformar o nosso próprio mundo. É isso que significa esquerda e direita serem iguais – e isso não é bom.
Ora, Sócrates, portanto, não quer mudar. Luta apenas para, perante a inevitabilidade económica e política global, manter o poder. E é nesse sentido que se devem compreender as medidas legislativas do actual Partido Socialista, ainda quando se inscrevam num quadro propriamente marxista de ataque à “família burguesa”. Porque quando Sócrates permite que o PS legisle sobre a família não o faz por razões ideológicas, a não ser remotamente, como diziam os escolásticos: a causa próxima dessas acções legislativas, na verdade, é a manutenção do poder, nas próximas eleições ameaçada pelos partidos à esquerda do PS.
É esta cedência às questões ideológicas, porém, que caracteriza o socialismo de Sócrates. Mas entendamo-nos. O perigo das ideologias está no seu modo de relação com o poder, com o qual devem estar independentemente comprometidas, isto é, suficientemente afastadas para propor o que se deve fazer e suficientemente próximas para que isso seja realizável. Numa palavra, as ideologias têm de estar em relação com o poder. Ora, no caso do socialismo de Sócrates não estão, porquanto o governo legisla independentemente das ideologias e o PS legisla independentemente da realidade. Em ambos os casos, porém, temos a inexistência de uma relação entre o poder e a ideologia, cuja presença no PS, permitida e incentivada por José Sócrates, não tem pontos de contacto com a realidade ou com a acção governativa. Por outras palavras: a ideologia torna-se absoluta!
É isso que explica, aliás, como bem lembrou José Manuel Fernandes, no Público – “Divórcio: a lei deve sempre proteger os mais fracos” –, que a nossa lei obrigue agora uma rapariga com menos de 18 anos a pedir autorização aos pais para pôr um piercing em qualquer zona do corpo legalmente admitida para esse efeito, ao mesmo tempo que lhe permite abortar, se assim o quiser, por sua decisão exclusiva, a partir dos seus 16 anos. Na verdade, não choca à ideologia socialista que o Estado restrinja fortemente as liberdades dos indivíduos, tal como não lhe choca afrontar a “família burguesa”. Ninguém considerou, entretanto, a própria realidade, na qual as duas medidas obviamente se mostram conjuntamente desajustadas.
Concluindo, o socialismo de Sócrates anuncia um regresso ao absolutismo na política, o que, juntamente com as crises económicas que se avizinham, faz dele um homem perigoso. A história já o mostrou. É claro que este perigo nem é exclusivo do socialismo, nem, tampouco, de José Sócrates. Ao contrário, está em curso no nosso mundo e é urgente enfrentá-lo. Contrariamente ao que nos “dizem”, porém, não está tudo decidido e nós podemos transformar o mundo, intervindo moralmente na realidade – só estará tudo decidido, de facto, se nós decidirmos não transformar o mundo. Ora, para nós, a transformação do mundo começa aqui, com – e não necessariamente contra – José Sócrates.
Escrevo do aeroporto em Bruxelas. E escrevo para quebrar uma regra. Mas o estoicismo tem limites. Ontem, a meio da viagem entre Lisboa e Bruxelas, um solícito comandante da TAP partilhou com os passageiros a felicidade imensa que lhe ia na alma: "O Sporting-Benfica está no intervalo e o Benfica ganha por 2-0". Palmas, suspiros de alívio, um "frémito divino" (para citar "le Fonseca").
Passei o resto da viagem a preparar a dúzia de sms que dispararia logo ä chegada. Benfiquismo primário "oblige". "Fica para a próxima"; "para o ano há mais" e outros mimos que nao ouso reproduzir.
O resto da história é facil de adivinhar. Vou processar a TAP.
Publicado ontem aqui.
Pode haver uma, mesmo dez imagens em cada rua. Não importa! A nudez feminina sempre nos provocará o mesmo soluço comovido e encantado. Digo isto num dia em que os jornais de todo o mundo esconderam a sua óbvia solidão noticiando mulheres nuas, a começar na foto benigna de Carla Bruni vendida por 58 mil euros.
a benigna Carla Bruni
Em Serradilla del Arroyo, mais perto da fronteira portuguesa do que da cidade de Salamanca, os jornais espanhóis descobriram, nuas e arruinadas, as mães desse pueblo que decidiram fazer-se fotografar para um calendário em poses de ininterrupta carnalidade. Queriam, com as vendas, pagar um centro de lazer para os seus filhos. A infrene e filantrópica exposição do ventre materno teve um fim cruel. Devem agora 9 mil euros às tipografias. Acabaram mais despidas e mais pobres.
Em Nova Iorque, os jornais proclamam a venda de um secretíssimo filme de 15 minutos em que Marylin, vestida, brinda um parceiro cuja cara nunca se vê com o que era suposto ser um humilde fellatio e a que película confere cruel perenidade. O filme sofreu anos de conspícua análise do FBI, quando J. Edgar Hoover pretendia provar que o homem sem rosto era John F. Kennedy. Lembro-me, sempre me lembrarei, da fotografia de Marylin nua, a pele escandalosamente branca, contra um aveludado fundo vermelho.
Big Sue, Lucien Freud
A origem do mundo, Courbet