terça-feira, 29 de abril de 2008

A Liberdade está a passar por aqui

Fim de semana em Terras d'El Rey - Reguengos de Monsaraz - a convite do Presidente da Câmara Municipal, Victor Martelo, socialista no poder há mais de 30 anos.
No pretexto, a vontade expressa pelo autarca, laico e republicano, de juntar a sua terra às comemorações da Comissão D. Carlos - 1oo anos que, em 2008, tem um programa evocativo da vida e obra deste monarca quando passa um século sobre a sua morte.
Por iniciativa e empenho da Câmara, lá está agora, no pólo cultural de Reguengos, uma exposição sobre o Rei D. Carlos assinada por Rui Ramos, entre outros. E lá se realizou também um Concurso Hípico Internacional onde dezenas de cavaleiros disputaram a Taça D. Carlos e a Taça Duque de Bragança.
Um atrevimento.
O que diria Fernando Rosas de tamanha afronta à ética republicana? E o que faria Nuno Severiano Teixeira que, depois do mais breve esgar de contrariedade do Bloco de Esquerda no passado mês de Janeiro, decidiu desautorizar o Chefe de Estado Maior do Exército e o Comandante do Regimento de Lanceiros mandando retirar a guarda de honra há muito prevista para evocação sobre a morte de D. Carlos no Terreiro do Paço?
A todas a dúvidas o Senhor de Reguengos responde com naturalidade:
«Como poderia Reguengos de Monsaraz excluir-se deste programa?» Sabe do que fala.
Este Rei que chefiou o Estado português entre os 26 aos 44 anos, deixou uma obra notável no respeito pelo Regime Constitucional de alternância democrática; na actividade diplomática; no alargamento significativo das fronteiras da lusofonia; na gestão exemplar de uma imensa casa agrícola; nos estudos oceanográficos de que foi pioneiro em Portugal; na introdução e divulgação de desportos como o futebol e o ténis, para além da habilidade que demonstrava nas modalidades tradicionais de esgrima, tiro, vela, caça e equitação sendo considerado como um artista de primeira água entre os pintores do seu tempo.
Os manuais escolares - que precisaram de legitimar a República e os 66 anos de ditadura que se seguiram a 1910 - registam neste reinado o Ultimato inglês, o Regicício, as amantes e os adiantamentos à Corôa.
  1. A questão do Mapa Cor-de-rosa chegou à mesa do Rei dois meses depois de D. Carlos subir ao trono e teve como resposta uma uma acção diplomática assinalável durante os 18 anos seguintes que nos reabilitou a aliança inglesa, que seria vital contra os fortes interesses germânicos em África. Rui Ramos, autor da mais completa biografia de D. Carlos, considera que a questão do Ultimato já não tinha importância na opinião pública no dobrar do século XX. Do mesmo modo, as campanhas africanas durante este reinado contribuiram decisivamente para o alargamento substancial das fronteiras dos actuais países lusófonos.
  2. O Regicídio compromete quem o levou a cabo.
  3. As amantes do Rei são um assunto privado.
  4. E os adiantamentos à Corôa devem levar em consideração que cabia ao Rei, e não à Fazenda Pública como hoje, o sustento de todos as residências do Estado: Mafra, Vila, Pena, Belém, Ajuda, Necessidades etc.

Esta questão devolve-nos a Reguengos. D. Carlos herdou uma imensa Casa agrícola, na sua maioria hipotecada e abandonada,. Assumiu a sua gestão directa e, em poucos anos, rentabilizou as terras, retirando-lhes o estatuto de hipoteca; recuperou os montes; reabilitou os olivais e o montado de sobro conseguindo uma produção de azeite, vinho e cortiça ímpares; apurou gado e cavalos de raça. Numa palavra, constuiu um império agrícola com escala e controlo.

De tudo isto nos falou numa conferência João Ruas, do arquivo da Fundação da Casa de Bragança, quando a exposição itinerante sobre D. Carlos esteve em Évora. Estamos em Reguengos e agora também na Ovibeja. Para a semana, abre parte da exposição no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, com um novo ciclo de conferências recomendável. Preparamos o Congresso Internacional dos Mares Lusófonos em Setembro e um grande colóquio na Católica. Estivémos no Open do Estoril na semana passada e em Maio apuramos os melhores trabalhos escolares sobre o Rei num concurso nacional com valências em ficção, jornalismo e artes plásticas. Haverá ainda regatas em Sines e no Algarve e estaremos na Golegã mostrando o que o Cavalo Lusitano deve a D. Carlos, entre múltiplas iniciativas.

«Só se ama o que se conhece». E vale a pena conhecer este Rei e o seu reinado.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigado, Inez,
- por este toque feminino, ao mesmo tempo sereno e cheio de "virilidade" : sentimo-nos sempre fascinados, inseguros , MAS MELHORES, perante uma mulher inteligente.
Bem haja por este belo texto cheio de sensibilidade e bom-senso.

João Wemans

Anónimo disse...

Vemos no Alentejo bons exemplos de preservação do património edificado. Penso que Vila Viçosa é outro bom exemplo. Quanto mais não seja para visitar o Paço, já visita se impunha. Gostava que mais portugueses conhecessem a sua existência e o visitassem. Quando é que a RTP se digna a fazer uns bons programas sobre roteiros para dar a conhecer o país e os passa em horário decente? Uma coisa desempoeirada e que dê gosto ver.

Manuel S. Fonseca disse...

Estes post está mesmo a precisar de uma boa foto do Rei D. Carlos, não acha Inês?