terça-feira, 14 de março de 2017

A muçulmana e a escola


 

É um facto trivial hoje em dia. Uma muçulmana aparece na televisão coberta dos trapos tribais e confessa-se, em geral num bom francês, inglês ou alemão, cultora da tradição dos seus antepassados, orgulhosa por ser muçulmana, da imensa cultura muçulmana e como é conciliável o seu feminismo, o seu trapo e o islão.

Geralmente recebida pelo jornalista com um sorriso aberto, prova de que a culturas se dão entre si como dois gatinhos saltitantes a correr num prado em conto infantil – o jornalista revela assim as suas fontes culturais que não homéricas – tudo parece correr no melhor dos mundos.

Ness altura lembro-me de um historiador, Moffett, que estudou a situação dos cristãos na Ásia. Tendo missões cristãs criado escolas para mulheres na Pérsia do fim do século XIX, o governador muçulmano da província visita a escola e pergunta: que fazem mulheres com livros na mão? Nunca tal se havia visto.

Na Índia em 1891, em 100.000 muçulmanas apenas 3 eram alfabetizadas. Entre 100.000 mulheres hindus 400 eram alfabetizadas. Entre 100.000 cristãs 17.000 eram alfabetizadas. As hindus eram 133 vezes mais alfabetizadas que as muçulmanas. As cristãs eram 5666 vezes mais alfabetizadas que as muçulmanas.

Só com as missões e os impérios coloniais europeus as mulheres começam a ir à escola nos países muçulmanos, nem turcas nem árabes, nem persas nem indianas iam à escola.

Por isso, quando vejo as doces raparigas enroladas em trapos, que sorridentes falam em boa língua europeia sobre a sua felicidade em serem muçulmanas, apenas sinto ensejo de perguntar: menina, porque foste à escola?

 

 

Alexandre Brandão da Veiga

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