Fragilidades do islão III
Mas esta fragilidade
cola-se a uma quinta a ela associada. A própria religião encontra-se em
confronto com o cristianismo na Europa, sobretudo. A crítica ao cristianismo não
foi importada. Não chegaram à Europa, muçulmanos, budistas ou hindus, e descreveram-nos
as múltiplas contradições ao cristianismo. Se queremos ver uma análise profunda,
e uma demolição estruturada do mesmo, é através do pensamento europeu que a
temos de procurar. Essa é paradoxalmente a força do cristianismo. Sob o ponto de
vista intelectual saiu bem mais forte dessa discórdia, até porque os principais
críticos eram cristãos, não apenas de cultura, mas de igualmente de fé. Esse exercício
de crítica permitiu libertar a fé do folclore, do traço etnológico que ainda
sobrava, da marca histórica meramente acessória. A argumentação está preparada,
é robusta, habituada a uma crítica que nasceu dentro do cristianismo. Se é
ouvida ou não, é questão que tem mais a ver com a cultura de cada qual. Mas
existe e é sólida.
O cristianismo não
começou a ser criticado com a Reforma, ao contrário do que o vulgo pensa. O cristianismo
já nasceu criticado. Celso ou Porfírio ou Juliano são anteriores à vitória do cristianismo.
E são os mesmos que defendem o cristianismo que nos preservaram os que o
criticaram. É através dos autores ortodoxos que podemos hoje em dia reconstruir
as obras dos autores pagãos que criticaram o cristianismo. Mas, não menos importante,
o cristianismo desde a origem conhece bem as suas fragilidades. Não é exemplo
do grego perfeito, nem da cultura perfeita. São Jerónimo bem o sabia. O cristianismo
desde o seu nascimento que sabe não ser expressão cultural perfeita.
Já o islão se critica a
si mesmo apenas pelo confronto com a cultura cristã. Os muçulmanos vêem que se
vive melhor na Europa que em qualquer país islâmico. Basta ver os que fogem
através da Turquia e não querem nela parar, e tanto mais habilitados, mais esclarecidos,
mais fogem da Turquia, grande país muçulmano e dito europeu por tantos, mas que
afinal não ilude os mais capazes. Não sou eu a dizê-lo, mas outros muçulmanos
que com convicção viram o traseiro à Turquia. O islão careceu da cultura cristã
para aprender a auto-crítica. Não lhe inere, vive-a como postiça e modo
trôpego.
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