terça-feira, 13 de novembro de 2012

Alguém me explica?


Visitar a única capital que vive em dois Continentes, (Ásia e Europa); viajar pela cidade senhora de dois longos e imensos impérios (Bizantino e Otomano); sentir o ponto onde a Europa pode não ter fronteira directa com o Irão; medir, na largura do Bósforo, a dependência do contacto da Rússia com o Sul Ocidental - é esperar um pólo de poder com correspondência no desenho urbano.
E nada disso acontece. Bizâncio, Nova Roma, Constantinopla, Istambul - o que se queira chamar - é um mercado de rua interrompido por mesquitas magníficas, cercado por muralhas antigas, que lá escondem um palácio «internista», com harém e outras riquezas duras e brilhantes - como as pedras boas - sem uma única praça imperial onde assistir a um desfile militar ou festejar uma taça de futebol. 
É claro que o sultanato se modernizou no século XIX com algumas avenidas, zonas verdes e lojas de preço fixo. É evidente que a refundação laical de Ataturk reforçou o poder da cidade onde tudo é, e deixa de ser, Ocidental. E até hoje a diplomacia da Porta Sublime transforma a Turquia num ponto que não entra nem sai da agenda de integração europeia e no membro europeu mais insubstituível da NATO.  
Mas, no preconceito de quem só conhecia a História, esperava o desenho de uma cidade imperial. Que não existe.

3 comentários:

Alexandre Brandão da Veiga disse...

Curioso Inês, mais uma vez se mostra que a Turquia não é nem nunca foi uma cultura europeia, até no urbanismo.

A tradição europeia (muito anterior à democracia) é a da ágora, do Forum. Uma cidade é imperial por estar aberta. A Tradição oriental (chinesa, turca, em parte árabe) é a das cidades proibidas. Uma cidade é imperial por estar fechada.

Istambul não é Bizâncio, uma poderosa cidade comercial grega, nem Constanopla, uma cidade imperial gero-romanca, mas uma cidade em que em 4 séculos tudo se fez para a orientalizar e só desde o século XIX se tentou europeizar. Mas nisso é parecida com as cidades do Turquestão, mais europeia ainda Beirute, ou mesmo o Cairo.

Inez Dentinho disse...

Um blogue serve para esclarecer. Hoje sinto-me servida. Obrigada Alexandre.

João Wemans disse...


Apreciei a observação lúcida da Inez e a explicação interessante do Alexandre.
Obrigado aos dois, eu que tenho andado distraído por outras bandas
João Wemans