quinta-feira, 26 de novembro de 2009

I. Zio Petros e la congettura di Goldbach, Apostolos Doxiadis , Bompiani, 2001




O lugar comum diz que a História é contada pelos vencedores e sobre os vencedores. Observação a ser tomada com cuidado. A ser verdade isso, os romanos e os gregos foram vencedores com o cristianismo, porque os ditos bárbaros que dominaram a Europa cuidaram mais da sua memória que da memória barbara. A ser verdade, o povo judeu é povo de vencedores, porque a sua História foi preservada.

Na ânsia de aproveitamento que existe na nossa época, a frase pode ser invertida apenas para ser verdadeira. Sobra História? Logo fala de vencedores, ou pelo menos é feita por vencedores. Mas se assim for, o lugar comum não explica nada, apenas carece de explicação.

A verdade é que é bem mais comum falar de sucesso que de fracassos, pelo menos na História da cultura. O filósofo que não acabou o seu livro, o escritor que o deixou a meio, é menos comum que sejam lembrados. Nem sempre é assim, mas geralmente é assim.

A história do tio Petros Papachristos é particularmente entusiasmante por causa disso. Para os anais oficiais é lembrança de um falhado, de alguém que não fez História, nem em nota de pé de página. O sobrinho que conta a história sabe bem fazê-lo com um belo sentido da narrativa. Nem matemático, embora com formação matemática, nem escritor, porque de formação gestor, consegue trazer-nos à vista um tio dele com uma vida particularmente curiosa.

Segunda lição que retenho. A tendência é a de se achar que as ciências estão cada vez mais técnicas, os métodos de demonstração cada vez mais complexos. Na teoria dos números os alemães, e depois os franceses, estabeleceram padrões de demonstração analítica extremamente complexos, profundos, e ricos de consequências. Mas sempre houve quem não desesperasse e procurasse métodos de demonstração elementares. Muitos dos teoremas mais profundos são de demonstração simples, alias com muitas demonstrações simples (basta pensar no teorema fundamental da trigonometria). E não deixam de ser profundos por esse facto.

Sempre me pareceram demagógicos um discurso e o seu contrário. Uns dizem que as coisas profundas são sempre simples, outros dizem que são sempre difíceis. Nenhum tem razão. É natural que uma mesma verdade tenha diversos caminhos, cada um com o seu sentido. E que diversas verdades de igual importância tenham caminhos fáceis umas, muito árduos outras.

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