sexta-feira, 20 de março de 2009

Bosch, Cristo, o Papa e os preservativos



É já a terceira vez que aqui coloco a imagem deste quadro de Jerónimo Bosch (Cristo carregando a cruz, 1490, Museu de Belas Artes, Ghent, Bélgica), que ainda há pouco tempo, porém, desconhecia. Tenho-o agora como pano de fundo no ecrã do meu computador. É um quadro extraordinário: quanto mais o olho mais se me mostra – e mais se me esconde.
Como qualquer quadro, porém, reflecte as ideias da sua época, uma das quais – que é que agora aqui me interessa – é a da relação que deve existir entre o poder espiritual e o temporal. Nesse sentido, lá está Jesus Cristo, no meio do quadro, serenamente iluminado, serenamente iluminando, passando por todos os sofrimentos e dores deste mundo, que voluntariamente carrega sobre as costas.
Ora, é justamente este o ponto. É ali, no meio das pessoas, que Jesus Cristo está, que Jesus Cristo se encontra. De olhos fechados, sereno, é pessoalmente que nos fala, é interiormente que nos move e nos transporta, a partir deste mundo, para o reino de Deus, ou do espírito, o qual não é deste mundo.
Assim deveriam fazer também os sucessores de Pedro. Mas não. Há temas, aliás, como este do uso dos preservativos, em que a Igreja teima em não aprender. Não discuto sequer a razão ou não razão da sua posição sobre o uso dos preservativos. Não contesto o abuso mediático que é negativamente feito a partir das suas posições. Julgo, no entanto, que o Papa não deve falar sobre isso em conferências de imprensa dadas à entrada para um avião no início de uma visita de Estado.
Olhemos aqui para o Papa, na dita visita ontem mesmo iniciada, e olhemos de novo para Cristo, tal como o mostra o quadro de Bosch. A diferença é clara.
Quanto a mim, o Papa deve falar inspiradamente à Igreja e na Igreja, a qual deve falar pessoalmente a cada um dos que, livremente, aceitem a graça que, segundo crêem, lhes foi dada por Deus. Na verdade, o reino de Deus, que neste mundo anunciam, não é deste mundo, pelo que esse anúncio deve ser feito a partir dessa outra autoridade – a do espírito – que só interiormente nos fala... e não em conferências de imprensa onde por meio de um conjunto imenso de fios se dirigem para os olhos e os ouvidos indiferenciados de uma massa. Nós não ganhamos nada com isso. E a Igreja, visivelmente, perde.

7 comentários:

Anónimo disse...

Devia ler na íntegra a resposta do Santo Padre - ele fala justamente da vertente espiritual do homem e da necessidade de ser integrada na vivência interpessoal; além de que quem não acredita (penso não ser o seu caso) não precisa preocupar-se com o que ele diz ou não diz - a proposta de vida Cristã só obriga quem queira.
Por outro lado, estudos sérios do mundo da medicina escoram a opinião do Papa de que a divulgação e propagação de preservativos (cuja protecção é imperfeita) têm levado ao aumento e não à diminuição dos afectados por SIDA.
Isto sim, é um dado a ter em conta por quem se aflige com a saúde, sua e dos outros.
Uma "dica" fácil : o "site" Zenit - News from Rome traz justamente uma referência ao caso que cita.
João Wemans

Anónimo disse...

De facto, talvez a Igreja "perca" em termos de popularidade, de sondagens, mas não é esse o seu fito.
Levar a Boa Nova a todo o mundo, mesmo que escandalizando, é a sua missão.
Quando sou fraco, então é que sou forte - disse
São Paulo - e o quadro de Bosch ilustra.

João W.

Anónimo disse...

Entretanto tomei conhecimento disto:

Director of the AIDS Prevention Research Project at the Harvard Center: Pope is Correct on Condom Distribution Making AIDS Worse

Ver: http://jesus-logos.blogspot.com/

JW

Anónimo disse...

COMO SÂO FEIOS;DEUS MEU!SÓ LÁ FALTA O ACTUAL PAPA!OU NAO?!!!!!

Anónimo disse...

Feio é o desespero; e ainda mais quando militante.

João Wemans

Vasco M. Grilo disse...

Curioso o paralelo que se pode fazer entre o uso do preservativo e o uso de "derivatives" no mundo da finança.

O artigo de Edward C. Green, referido pelo Joao W. considera que o uso do preservativo gera no utilizador uma sensaçao de segurança que lhe faz aumentar o numero de situaçoes de alto risco em que se envolve, o que, considerando que o preservativo nao é 100% eficaz, pode levar ao aumento da incidencia da SIDA.

As "derivatives" foram inventadas para diminuir o risco de determinados contratos financeiros. Foram no entanto usadas e abusadas para poder contratar a niveis de risco altissimos na mira de lucros e dividendos ainda mais altos.

O resultado é o que se vê.

No entanto, o Joao que me perdoe mas continuo a considerar a condenaçao do preservativo como algo de absolutamente irresponsável. Dito pelo Papa ou por quem quer que seja.

Anónimo disse...

Os factos é que não perdoam; nem eu quero protagonismo.
João W.