sábado, 18 de outubro de 2008

Era Uma Vez Uma Canção, parte 3

O meu grau de incumprimento de promessas já vai demasiado pesado para que não pague pelo menos uma, aqui e agora. Prometi lá mais abaixo, e continuei logo acima, uma série de 3 posts sobre uma canção. Falta um, omissão de que já fui simpaticamente acusado noutro lugar. Vamos lá, então, ao clímax.
A única versão contemporânea de “Sway” a que me rendo sem reservas é a de Peter Cincotti. Século XXI puro, muito longe já da simplicidade do mambo original, o saudoso “Quien Será”, escrito por Pedro Beltrán Ruiz, este “Sway” de Cincotti, mesmo sendo cantado por um americano com a mesma ascendência italiana de Dean Martin (Dino Paul Crocetti era a sua graça baptismal), já não tem os ecos latinos que deambulavam pela versão dos anos 50.
Gosto do tempo que Cincotti, um nova-iorquino de 25 anos, encontrou. Há, nesse tempo, uma certa resignação zen à lentidão. E ainda gosto mais do silêncios a que Cincotti se entrega com a serenidade de uma carmelita.
Muito mais jazzy do que cha-cha-cha, o “Sway” de Cincotti é muito diferente do “Sway” de Dean Martin. O “Sway” de Cincotti quase ignora os violinos do velho crooner dos anos 50. Agora, no século XXI, piano e contrabaixo levam-nos e deixam-se levar. Livres, muito livres, até encontrarem a linha melódica que denuncia as origens. É, e continuará a ser, uma canção de desejo, a canção que qualquer homem quer cantar à única mulher que não é uma mulher qualquer. Mas o desejo do “Sway” de Cincotti já não é o desejo do “Sway” de Dean Martin. Sim, são as mesmas palavras, mas é outro, e tão, tão diferente, sotaque. Recapitulemos.



O sotaque de Cincotti


Os ecos latinos de Dean Martin



O saudoso "Quien Será" de Beltrán

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