sexta-feira, 22 de junho de 2007

Uma Espécie de Comentário

red cloud, frank strazzulla

O comentário do Miguel transformou-se em post. Eu assumo que o meu post é mesmo um comentário. Quase que estamos de acordo, quase que estamos nos antípodas. Estamos de acordo na livre circulação dos bens culturais e estamos de acordo com a necessidade das indústrias culturais portuguesas projectarem como seu “mercado interno” um território maior do que o do jardim à beira mar plantado. A grande Ibéria, dizia eu. O mundo, desejamos todos.
Daqui em diante estamos nos antípodas. O Miguel propõe uma teoria em abstracto, como se fossemos avançar a partir de uma folha em branco. Eu parto do reconhecimento de uma pluralidade de agentes (editores, produtores de filmes, produtores audiovisuais e televisões) que têm práticas e desenvolveram interesses. Agentes que nalguns casos já fizeram percursos de internacionalização, que tiveram mesmo tentativas (frustradas ou não) de globalização. Referindo-se à experiência luxemburguesa o Miguel propõe que “Portugal deva pensar seriamente numa decisão estratégica desse tipo”. Mas que Portugal é esse? O Estado? É que os agentes já reconheceram, em geral, essa estratégia. Para lhe dar um exemplo: alguns dos filmes luxemburgueses de que fala são portugueses, o que significa que os produtores portugueses souberam explorar as oportunidades de financiamento que o Luxemburgo ofereceu. Só que a “globalização” do financiamento desses filmes não teve a correspondente e desejada “globalização” de consumo (nem os espectadores luxemburgueses se renderam) e a quota de filmes portugueses vista por portugueses não passa em média dos 1,5% ao ano, enquanto a do cinema espanhol em Espanha é de 15%.
E não pense sequer que não se mandaram vir os brasileiros para se fazerem novelas. A NBP produz novelas, tendo integrado alguns bons profissionais brasileiros. De forma sustentada conquistou o mercado português, mas a exibição dessas novelas no Brasil (ou a sua penetração nos mercado mundiais) é, digamos, residual.
Dito isto, volto a chover no molhado. Há dias aconteceu, em Madrid, o II Encontro de Cinema Luso-Espanhol. Na dimensão, na metodologia, nos objectivos e nos resultados, as instituições, os produtores e as televisões espanhóis constituiram-se aos olhos de quem quis ver como referência, por um lado, e parceiros naturais, por outro. É essa a minha modest proposal.

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