Um comentário transformado em post...
A ideia era escrever um pequeno comentário ao post anterior do Manuel S. Fonseca mas acabou por ficar tão longo que não me resta alternativa que o colocar como post. Desculpem.Estou de acordo com o Manuel relativamente à prioridade que deve ser a produção cultural. Mais difícil é saber como aumentar a "produção" e competitividade da indústria cultural em Portugal. Talvez o país em que me encontro neste momento seja um bom exemplo.
O milagre económico moderno do Luxemburgo assentou nos serviços financeiros mas este modelo está, devido a várias circunstâncias, posto em causa. Que têm feito os luxemburgueses? Investir nas actividades culturais. Pretendem tornar-se um dos pólos culturais desta parte da Europa (com a vantagem adicional de que a qualidade de vida associada à vida cultural constitui uma vantagem competitiva na atracção de outras empresas). Investiram num sala de concertos fabulosa, um museu de arte contemporânea e são… um dos maiores produtores de cinema da Europa (através de um regime fiscal e regulador favorável a este tipo de actividades). Talvez Portugal deva pensar seriamente numa decisão estratégica desse tipo. É que o sector cultural é um dos mais viáveis no quadro da globalização. É o tipo de "industria" do futuro (pouco sujeita à competitividade internacional de baixos custos típica dos antigos sectores produtivos). Devíamos criar um quadro global (na regulação, no sistema fiscal, na educação) propício ao desenvolvimento da cultura em Portugal como sector económico prioritário. O importante é não ter de novo uma visão proteccionista e provinciana do que isto significa. Não se trata de apoiar e proteger os produtores portugueses de cultura… Para sermos competitivos e termos dimensão temos de atrair saber e massa crítica cultural de todos os lados. Se os trouxermos, pouco a pouco vamos fazer crescer a nossa própria massa critica.
Um exemplo com base no post do Manuel: a melhor forma de virmos a ter os brasileiros a ver telenovelas portuguesas é atraindo os produtores, autores e actores brasileiros para Portugal. Para fazer, por ex., de Portugal um centro de produção de cinema e televisão para os países de língua portuguesa temos que atrair a melhor massa crítica desses países. Os nosso próprios agentes culturais também iriam beneficiar dessa massa crítica: pouco a pouco cada vez mais portugueses participariam nesses projectos e o contacto com essa massa crítica e a maior escala dos projectos iria seguramente melhorar a qualidade dos nossos próprios projectos culturais. É um pouco como com a nossa selecção de futebol que tem melhorado significativamente com a crescente internacionalização dos nossos jogadores…Não sei se no contexto da globalização o nosso mercado será a península ibérica, a língua portuguesa ou bem mais amplo até. Suponho que dependerá do tipo de produto cultural (é o que demonstra o exemplo fornecido pelo Pedro Lains no que concerne a questão linguística e o cinema que é, no entanto, mais relativa do que ele refere, uma vez que uma grande parte dos filmes americanos são exportados com dobragem para a língua local). O que penso é que é fundamental acabar com a oposição economia vs cultura e assumir que a cultura poder ser um dos nossos principais sectores económicos. E que, se fizermos isso, não podemos repetir o erro dos outros sectores: pensar que nos desenvolvemos fechados em nós mesmos e assentes num modelo proteccionista. Temos é de descobrir como atrair o capital cultural de muitos lados para Portugal (e por capital cultural entendo, neste caso, o capital financeiro que investe em actividades culturais mas também a massa crítica que suporta e faz viver a industria cultural).
2 comentários:
A lógica deste post do Miguel está certa, obviamente, e é conforme a que expus. Só que eu estava a ser forçadamente optimista e agora, perante a clarificação a que o Miguel nos levou, tenho de ser realista. O Luxemburgo ajuda com uma menor pressão fiscal e isso parece ser suficiente pela descrição que nos é dada. Mas as desvantagens de Portugal são porventura demasiadamente grandes e essa menor pressão fiscal não chegaria porventura para as cobrir (se chegasse já tinha sido dada…). A maior distância de Portugal e o seu fraco nível de infraestruturas são factores de diferenciação entre os dois países que se podem revelar cruciais. Reforço a ideia inicial: as ajudas devem ser sempre marginais, para colmatar falhas marginais de mercado – como no Luxemburgo. Quando as ajudas se tornam parte substancial da solução, elas devem ser abandonadas. Dito isto, será que o cinema deve ser uma aposta em Portugal? A resposta a isso está em saber se o diferencial das desvantagens para com outros países é apenas marginal ou se é substancial. Se for substancial, como acho que é, pensemos no turismo onde seguramente temos enormes vantagens relativamente ao central e bem infraestruturado Luxemburgo! Pode ser que o cinema português esteja condenado a ser pequeno ainda por muitos anos... Mas voltemos ao optimismo e ao post do Manuel Fonseca: pode ser que o cinema português se consiga desenvolver e afirmar em “nichos” de mercado.
Posso concordar. Lembro apenas que a questão de que se trata é apenas económica, não cultural. Fica por saber como dar substância cultural a esses produtos económicos (culturais). Isso pressupõe que haja capacidade criativa cultural e educação.
Enviar um comentário