sexta-feira, 27 de abril de 2007

VIII. Elites: necessidade

Podemos então enfrentar a última questão que nos ocupa. São efectivamente necessárias as elites numa sociedade? São-no particularmente numa democracia?

Algumas linhas de resposta já foram dadas. Mas resta por fazer um balanço final.

Em geral as elites têm dois papéis numa sociedade.

Por um lado criam uma diferença de potencial criativa. Uma sociedade sem elites ou com elites ausentes é uma sociedade vegetativa. O palácio é fruto deste diferencial de tensão. A pirâmide igualmente. A ordem monástica, o exército regulado, a academia são outros exemplos desta diferença de potencial criativa. Numa sociedade sem elites, para além do mito do bom selvagem, impera a rotina, a indiferenciação, a monotonia. Mesmo o desastre, a cheia, a invasão, a conquista, a pilhagem, apenas aparentemente quebram esta monotonia. Na reconstrução volta tudo à mesma, dentro da medida do possível. As novas ideias, mas igualmente os novos modos de vida surgem das elites. As novas possibilidades de existência têm tipicamente surgido das elites. A vida sem elites é a vida burocrática.

Em segundo lugar a elite nega a primazia do mero poder. É um limitador do poder bruto. Não que a elite seja sempre sentimental e dada a preocupações com o ser humano e o seu sofrimento. Seria ingénuo e injusto dizê-lo. Mas o simples facto de uma sociedade sentir necessidade de manifestar o melhor, seja o que for este melhor, já mostra que o simples poder não se basta. Mesmo nas sociedades em que o poder bruto impera, como entre os hunos e muitas das sociedades históricas turco-mongóis, existe uma teoria sobre a valia da brutalidade. Os poemas cantam o número de cabeças empilhadas, o número de inimigos mortos. O poder bruto que se justifica já não é poder bruto. Sente carência de uma justificação.

Não é por isso irrelevante o tipo de elite que é necessária à democracia. Uma que prefira o poder bruto pode levantar alguns problemas à democracia. Mas uma que a aceite sem condições, sem impor o seu termo caso não preencha as suas finalidades de respeito do ser humano para além da simples aritmética é apenas conformista e acaba por ser irrelevante.

Os teorizadores da monarquia foram os grandes teorizadores do tiranicídio. Exactamente por amarem a monarquia diziam que monarquia “sem isto, não”. Os defensores da democracia actual não se arriscam a dar esse passo. Timoratos e rotineiros, podem teorizar a demagogia, as perversões da democracia, mas nunca impõem os limites a partir dos quais uma democracia já não merece viver. Para eles o rei continua a ser rei mesmo que se torne tirano. Vlad o Empalador provoca-lhes a critica, mas não a ânsia de revolução.

Que eu dê o primeiro exemplo, invocando os limites que ferem a razão de ser de uma democracia. Uma democracia que não acolha as quatro modalidades de elites é empobrecida e empobrecedora. Mas mais grave ainda, uma democracia que não gere, acarinhe, reconheça e respeite elites, essa não talvez não mereça viver. É uma democracia que nega a possibilidade do melhor, ou pelo menos que este exista colectivamente. Que os que vierem depois entendam.







Alexandre Brandão da Veiga

6 comentários:

Anónimo disse...

Resta tb ao leitor fazer um balanço do que tem vindo a escrever. No seu post A dita superioridade da arte refere-se à frase de Fernando Pessoa nestes termos "...F. Pessoa que afirma que o binómio de Newton é tão belo quanto a Vénus de Milo.Não se pode dizer que estivesse Pessoa actualizado nos seus conhecimentos matemáticos. Quando vivia já a topologia, a álgebra abstracta, o cálculo tensorial...o binómio de Newton fica como uma arma do tempo da pedra lascada...a matemática de Pessoa é feita p/impressionar críticos literários e não matemáticos". Se calhar se F. Pessoa afirmasse que o cálculo tensorial é tão belo como a Vénus de Milo, talvez o senhor achasse perfeito. Uma frase equivalente de Filippo Marinetti (1876-1944)que declarou que um motor a roncar era mais belo que a vitória de Samotrácia, dá hoje vontade de rir pois era o exagero das utopias futuristas, Marinetti estava a ser actual e hoje a sua frase é um absurdo tal não aconteçe com a frase do Pessoa. F. Pessoa para si tinha os conhecimentos matemáticos da idade da pedra lascada, para impressionar os críticos como se isso de facto o incomodasse...mas o mais absurdo é o que o senhor escreve no post V das elites onde escreve"´...é evidente que tudo depende do que fazemos dessas qualidades com que nascemos (refere-se à inteligência), mas isso é igualmente verdade para as elites de inerência. Não é raro ver dois irmãos, igualmente nobres, um acabado em duque e o outro mantendo-se como mero fidalgo de província", bem, o senhor acha que a matemática do Pessoa é da idade da pedra lascada...mas estes dois irmãozitos, é evidente que não podem ser da idade da pedra lascada porque ainda não existia nem duques nem fidalgos nessa altura mas certamente não vivem no século XXI.

ZGarcia disse...

Fernando Pessoa referiu-se a "Binómio de Newton" pela sonoridade da expressão, ou simplesmente porque lhe apeteceu, sem que para isso tenha de ser matemático. Que não era.
Sempre achei a palavra "binómio" de uma beleza intrínseca. Então quando aliada a "Newton", é o máximo !

Unknown disse...

Sem pretensões da aplicação de uma fórmula resolvente desta discussão que "ziguezagueia", como o gráfico da função polinomial,entre o interessante e o enfadonho, gostava que vos ler as opiniões acerca não da importância das elites que é matéria indiscutível mas da importância da necessidade de mudança das elites, quando são, como em Portugal, apenas mediocres, e quando as novas gerações, 70 para a frente, têm uma muito menor predesposição para a essência da criação de grupos a comunicação e fazem definhar,aos poucos, a democracia participativa não votando, não se associando elegendo o mais mediàtico etc.Gostava ainda de vos ler acerca do exemplo americano e da relação entre o desvario das elites na sua relação com as histórias feitas à pressa como a dos EUA e da importância do exemplo da história na formação das acções dos decisores, em democracia, por oposto como entendem o despotismo ambivalente de largos anos de Historia como e o exemplo da China e de que maneira se podem reorganizar as elites do ancestral Iraque às mãos do saque do Eixo do Bem.

Grato

Anónimo disse...

Sejamos humildes.
O país sendo o que é, não tem "elites".
Nem sabe o que é isso.
As "elites" pensam que são "elites", mas não passam de grupos.
Existe "poder".
Poder.
Mais nada.

Poder.

Tudo o resto é "presunção e agua benta".
E "palavras, leva-as o vento".

Elites? É uma revista, e fica bem pensar que se pensa que ser.
Mas quem tem poder, usa-o.
Os outros, obedecem. A todo o nível, uns ganham mais, e outros menos.
Só isso, o resto é mensagens para o ego.
Pensar que se pensa.

Tudo antigo.
Poeira.

Anónimo disse...

Que desproposito ,essa historia das elites.Ta tudo louco.

Unknown disse...

despropósito? Desenvolva! Deixa-me curioso...