quinta-feira, 26 de abril de 2007

VII. Elites: modo de formação

O modo de formação das elites pode parecer questão “meramente” histórica. Este advérbio, bem como as suas variantes “apenas”, “tão-somente” e quejandas mostram não a pequenez do factor, mas a dos locutores. Uma agastante tendência na cultura alemã, vinda do idealismo, tendeu a salientar o “apenas” psicológico, por oposição ao transcendental, ideal. Como se a alma humana fosse qualquer coisa de “apenas”. O “apenas” histórico padece da mesma tacanhez. Como se a experiência humana passada não nos influenciasse.

Os modos de formação das elites são fundamentais para se compreender as terapias para uma sociedade que careça de elites.

Se os modos de formação são muitos diversos, como o resultado é comum, têm apesar de tudo traços comuns. O que se visa é a criação de um colectivo e ao mesmo tempo o império do melhor pelo menos no que às elites diga respeito.

Para que haja um colectivo é preciso em primeiro lugar que haja comunicação. A criação de mecanismos de comunicação é uma das grandes medidas da consistência de um colectivo. Pessoas que não se falam entre si não geram grupos. Pessoas que não falam com os outros não introduzem o grupo na sociedade.

Em segundo lugar, é necessário que haja um conjunto de valores comuns. Este o lado mais espinhoso. Porque estes só em equívoco existem. Havendo culturas muito díspares, muito fragmentadas, uma educação pouco disciplinada, é raro que existam referências vastas e profundas que sejam comuns. Por isso nesta fase algo pobre da re-forma das elites temos de nos bastar com a comunicação, esperando que esses valores comuns apareçam mais claros.

Em terceiro lugar, a formação das elites exige sempre uma teoria. Nenhuma elite o é sem teoria. Esta pode ser lassa e pouco sistemática, mas tem de existir. Não há brâmane sem Veda, nobreza europeia sem gesta medieval e Bíblia, e mais tarde Aristóteles e Platão. Não há capitalista bem visto sem Bentham e Adam Smith. Se a elite fosse mero facto, nada se poderia dizer sobre ela. A teoria é que mostra os argumentos que justificam que esta elite não é apenas mais um grupo, mais é melhor. A teoria incide sobre os valores mas igualmente sobre os comportamentos, as atitudes, as formas de comunicação, a selecção de tópicos argumentativos aceitáveis.

Em quarto lugar é necessária uma convicção para que haja reconhecimento. Não basta que o grupo se forme como tal, por força da comunicação, que tenha valores comuns (seja o estudo, seja a arte militar seja a criação de riqueza, seja o carisma do sangue). Não basta uma teoria. É necessário que essa teoria seja comungada pela maioria da sociedade. Este último passo mostra que todos os anteriores fracassam em grande medida se não forem dirigidos à convicção. Bem pode o transeunte dizer que é fidalgo que ninguém lhe liga. Bem pode dizer que é génio da matemática, que apenas seria ridículo.

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