Lévi-Strauss e a matemática
Levi Strauss é um dos autores
importantes de ocultação e evitação que permitiram a ignorância contemporânea. Um
bom exemplo é o da sua relação com a matemática. Os antropólogos não falam da questão porque não sabem matemática. Os
matemáticos não falam do problema porque
não sabem antropologia. E a imagem do antropólogo
passa impune, na intersecção de duas ignorâncias.
Em síntese esta relação
desenvolve-se em quatro passos:
1) 1) Parasitar;
2) 2) Ocultar;
333) Deformar;
4) 4) Abandonar.
Na primeira fase tenta
parasitar o prestígio da matemática. Procura Hadamard, e este recusa ajudá-lo.
Dirige-se a André Weil e este estuda as estruturas do parentesco numa
perspectiva de álgebra abstracta. O livro de Lévi-Strauss é publicado com o
anexo de Weil. Lévi-Strauss ostensivamente queria dar à etnologia o prestígio
da matemática. Conseguiu-o. Ele, que era ignorante de matemática, recebia a
caução de um dos grandes matemáticos da época.
Na segunda fase oculta.
Na segunda edição do seu livro sobre o parentesco apaga, não só o anexo de Weil,
mas também toda a sua referência ao matemático. Quando tem poder suficiente,
usa um matemático como seu auxiliar mas na sua correspondência refere «um
matemático» nem o nominar. Trata a matemática como simples matéria ancilar e o
matemático como amanuense.
Na terceira fase deforma.
Diz que o sistema de axiomas não pode ser rígido, que os axiomas devem ser
semoventes. O que até poderia ser possível num sistema formal, mas sob a
condição estricta de que esta mobilidade dos axiomas deveria obedecer a uma
regra invariante do sistema. Mas, como Lévi-Strauss nada sabe de sistemas
formais, não percebe isto. Por esta razão está mais próximo do surrealismo que
da lógica formal. Isto mesmo que tenha mostrado desrespeito em relação a
Breton, no que se mostra parte integrante da nossa época, feita de lealdades
oficiais que escondem desprezos.
Na última fase já não
precisa de qualquer referência à matemática, já tem poder suficiente. E para a
abandonar precisa de um pretexto: não se pode aplicar uma matemática que é
europeia a culturas que não o são. O que é inteligente como argumento. Ele, que
adorava visitar o Japão, viajava de avião. Devia ter usado o mesmo critério. O
avião, quando saísse da fronteira europeia, deveria obedecer a outras leis da
física e matemática que não as europeias. O avião teria caído e ao menos nisto Lévi-Strauss
nos teria dado um ensinamento sério com a sua morte. Dizer disparates teria
consequências.
Que nos interessa esta
história na nossa época? Isto são águas passadas, podem-me dizer.
Não. Mostra que a fraude
está instalada nas universidades há muito tempo e que quem se surpreende com a
fraude actual apenas mostra que andou adormecido. Também ele é correligionário
de Lévi-Strauss. Enquanto não sofreu as consequências pode dormir o seu sono de
beleza.
Sokal e Bricmont
mostraram muitos casos de fraude intelectual de criaturas que citaram a física
e a matemática em pura ignorância e apenas para impressionar o parolo.
O caso de Lévi Strauss
mostra algo mais profundo. A fraude intelectual foi montada e planeada durante
décadas. Nada tenho contra a formalização das ciências humanas. Mas nesse caso
o que deveríamos esperar? Que só pudessem entrar em antropologia e sociologia
pessoas com sólida formação matemática. Mas não. São pessoas que deixaram a
matemática aos catorze anos sem saber o que é um integral, um seno, um
quantificador, uma relação de implicação, em boa verdade muitas vezes nem
sequer o que é uma regra de três simples ou uma equação quadrática... São estas
pessoas que durante décadas fazem exames, trabalhos e teses sobre o problema da
formalização das relações de parentesco ou dos mitemas.
Para agravar o facto de
não saberem grego nem latim, e por isso o Perseu ou a Arícia dos etnólogos
ingleses lhes escaparem.
O século XVIII usou
amplamente o conceito de impostura, sobretudo a propósito de Maomé. É natural, muita
da impostura que actualmente vivemos começa no próprio século XVIII. Que uma
época seja obcecada com um pecado nos outros mostra quanto é tentação em si.
Mas desde a II Guerra
Mundial que o mundo se instalou numa rede de imposturas. E o cidadão comum
viveu na ilusão de que era tudo lúdico. Ou seja, de que nada tinha
consequências. Mas o tempo destas não é o tempo da lucidez do comum. Lévi-Strauss
é apenas um entre muitos dos agentes de uma fraude que vem de longe. E quem
desde há décadas avisa do horror passava por exagerado. Agora que todos podem
perceber os seus efeitos, mesmo que não vejam as suas causas, apenas posso
lembrar que as pestes que não se evitaram só se vão embora depois de fazerem
vítimas. E só espero que em justiça sejam estas os que as deixaram entrar nas
cidades. Mas também a justiça adoece com as pestes e apenas nos resta aceitar
isso.
Alexandre Brandão da
Veiga
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