terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Lévi-Strauss e a matemática

 

 


Levi Strauss é um dos autores importantes de ocultação e evitação que permitiram a ignorância contemporânea. Um bom exemplo é o da sua relação com a matemática. Os antropólogos não  falam da questão porque não sabem matemática. Os matemáticos não  falam do problema porque não  sabem antropologia. E a imagem do antropólogo passa impune, na intersecção de duas ignorâncias.

Em síntese esta relação desenvolve-se em quatro passos:

1) 1)  Parasitar;

2) 2)  Ocultar;

333)  Deformar;

4)  4)  Abandonar.

Na primeira fase tenta parasitar o prestígio da matemática. Procura Hadamard, e este recusa ajudá-lo. Dirige-se a André Weil e este estuda as estruturas do parentesco numa perspectiva de álgebra abstracta. O livro de Lévi-Strauss é publicado com o anexo de Weil. Lévi-Strauss ostensivamente queria dar à etnologia o prestígio da matemática. Conseguiu-o. Ele, que era ignorante de matemática, recebia a caução de um dos grandes matemáticos da época.

Na segunda fase oculta. Na segunda edição do seu livro sobre o parentesco apaga, não só o anexo de Weil, mas também toda a sua referência ao matemático. Quando tem poder suficiente, usa um matemático como seu auxiliar mas na sua correspondência refere «um matemático» nem o nominar. Trata a matemática como simples matéria ancilar e o matemático como amanuense.

Na terceira fase deforma. Diz que o sistema de axiomas não pode ser rígido, que os axiomas devem ser semoventes. O que até poderia ser possível num sistema formal, mas sob a condição estricta de que esta mobilidade dos axiomas deveria obedecer a uma regra invariante do sistema. Mas, como Lévi-Strauss nada sabe de sistemas formais, não percebe isto. Por esta razão está mais próximo do surrealismo que da lógica formal. Isto mesmo que tenha mostrado desrespeito em relação a Breton, no que se mostra parte integrante da nossa época, feita de lealdades oficiais que escondem desprezos.

Na última fase já não precisa de qualquer referência à matemática, já tem poder suficiente. E para a abandonar precisa de um pretexto: não se pode aplicar uma matemática que é europeia a culturas que não o são. O que é inteligente como argumento. Ele, que adorava visitar o Japão, viajava de avião. Devia ter usado o mesmo critério. O avião, quando saísse da fronteira europeia, deveria obedecer a outras leis da física e matemática que não as europeias. O avião teria caído e ao menos nisto Lévi-Strauss nos teria dado um ensinamento sério com a sua morte. Dizer disparates teria consequências.

Que nos interessa esta história na nossa época? Isto são águas passadas, podem-me dizer.

Não. Mostra que a fraude está instalada nas universidades há muito tempo e que quem se surpreende com a fraude actual apenas mostra que andou adormecido. Também ele é correligionário de Lévi-Strauss. Enquanto não sofreu as consequências pode dormir o seu sono de beleza.

Sokal e Bricmont mostraram muitos casos de fraude intelectual de criaturas que citaram a física e a matemática em pura ignorância e apenas para impressionar o parolo.

O caso de Lévi Strauss mostra algo mais profundo. A fraude intelectual foi montada e planeada durante décadas. Nada tenho contra a formalização das ciências humanas. Mas nesse caso o que deveríamos esperar? Que só pudessem entrar em antropologia e sociologia pessoas com sólida formação matemática. Mas não. São pessoas que deixaram a matemática aos catorze anos sem saber o que é um integral, um seno, um quantificador, uma relação de implicação, em boa verdade muitas vezes nem sequer o que é uma regra de três simples ou uma equação quadrática... São estas pessoas que durante décadas fazem exames, trabalhos e teses sobre o problema da formalização das relações de parentesco ou dos mitemas.

Para agravar o facto de não saberem grego nem latim, e por isso o Perseu ou a Arícia dos etnólogos ingleses lhes escaparem.

O século XVIII usou amplamente o conceito de impostura, sobretudo a propósito de Maomé. É natural, muita da impostura que actualmente vivemos começa no próprio século XVIII. Que uma época seja obcecada com um pecado nos outros mostra quanto é  tentação em si.

Mas desde a II Guerra Mundial que o mundo se instalou numa rede de imposturas. E o cidadão comum viveu na ilusão de que era tudo lúdico. Ou seja, de que nada tinha consequências. Mas o tempo destas não é o tempo da lucidez do comum. Lévi-Strauss é apenas um entre muitos dos agentes de uma fraude que vem de longe. E quem desde há décadas avisa do horror passava por exagerado. Agora que todos podem perceber os seus efeitos, mesmo que não vejam as suas causas, apenas posso lembrar que as pestes que não se evitaram só se vão embora depois de fazerem vítimas. E só espero que em justiça sejam estas os que as deixaram entrar nas cidades. Mas também a justiça adoece com as pestes e apenas nos resta aceitar isso.

 

Alexandre Brandão da Veiga

 

 

 

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