segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O caso grego I


 
Muitos berros, muitas paixões. Era bom de se ver que o caso grego haveria de as suscitar. Mas como diz o velho adágio, é sempre melhor dividir os problemas para não os confundir. E neste caso temo bem que estejamos a confundir três níveis bem diversos da discussão: o poder, a legitimidade e a eficácia.

 

Na perspectiva do poder, a história que se conta é a da Alemanha estar contra a Grécia. Bem vistas as coisas, gritaria pouco credível. Se bem notarmos, é a Grécia contra todos, não contra a Alemanha. Ouvíssemos mais atentamente os finlandeses, os holandeses, os letões, os eslovacos, veríamos que não existe muita afinidade com a atitude grega. Há boas razões para isso. Quando os países da Europa Central e de Leste entraram na União Europeia, os gregos não foram muito solidários com eles, não querendo abdicar de muitos dos seus benefícios. Daí que muitos deles tivessem tentado obter junto da Noruega e da Suíça o que não podiam obter na União Europeia, porque a Grécia carecia de subsídios.

Na perspectiva do poder, a aposta da dita esquerda pós revolucionária criou-lhe um imenso risco. Quando Haider tentou fazer parte do governo na Áustria, mesmo com minoria, todos se levantaram contra o facto. Agora é precisamente a mais extrema-esquerda que não vê problema num partido protofascista no governo de coligação grego. Abriu um cheque para o futuro. Foi a esquerda europeia que deu legitimidade à participação, pelo menos de partidos como o Front Nacional francês. O partido da independência grego é contra o multiculturalismo, contra a imigração e a favor do papel da igreja ortodoxa na vida grega. A esquerda abriu a porta a Pegida, Vlamsbelang, a todos os partidos de extrema-direita na Europa. Não abriu a caixa de Pandora. Já estava aberta. Mas quebrou de vez as suas chaves; é a esquerda europeia que validou a extrema-direita, que a legitimou de vez.

0 comentários: