terça-feira, 18 de março de 2014

Medeiros Ferreira


Morreu o meu amigo mais improvável. José Medeiros Ferreira era de outra geração, de outro lugar político, de um tempo em que o poder que não se confundia com o jornalismo. Não tinhamos rigorosamente ninguém em comum. Até a sua Mulher, Maria Emília, conheci por outros motivos.
Almoçávamos e conversávamos sobre Portugal. Acho que não o faço com mais ninguém. Isto para dizer que José Medeiros Ferreira percorria caminhos inesperados. Açoreano de S. Miguel, impôs-se contra o anterior Regime. Irmão de militares, formou-se em História, em Genéve longe do controlo da «longa noite». Foi Ministro logo que o 1º Governo livre foi também Constitucional. Portugal deve-lhe o pedido de adesão à CEE numa época em que o PS se exibia com punho fechado, defendia o marxismo e a estatização da economia. Um ano depois, José Medeiros Ferreira formava com António Barreto e Sousa Tavares o grupo dos Reformadores juntando-se a Sá Carneiro na AD.
Tinha coragem para romper, sendo coerente. Conseguia ser aberto e firme; falar com profundidade e ter sentido de humor; ser elaborado na argumentação e linear no verbo. O gosto pela História e a sua perspicácia faziam-no ver para além do tempo e do barulho. O PS diz agora que José Medeiros Ferreira era uma personalidade ímpar e luminosa. Tem uma razão tardia. Depois de 1978, nunca mais o aproveitou nos 16 anos que esteve no Governo. José Medeiros Ferreira faz falta a Portugal. Faz-me falta. 

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