quinta-feira, 7 de julho de 2011

Maria José Nogueira Pinto

Maria José Nogueira Pinto merecia escapar ao habitual carrocel de elogios fúnebres. Tinha uma frontalidade rara que não se compadeceria com a lamúria de exaltações que desfilam sempre que alguém morre.
Fazia o pleno na radicalidade. Conseguia ser correcta politicamente e politicamente incorrecta; chamar os bois pelos nomes com a garganta forrada de pérolas; cruzava racionalidade com sensibilidade social; humor caustico com exigência espiritual; gosto pela vida e compromissos cumpridos. Nunca passou por um lugar sem o fazer. Prosseguia ideais conhecendo o pó dos caminhos para os pôr em prática. Tinha a inteligência dos teóricos e o pragmatismo dos que mexem no mundo das coisas.
Há poucos meses, perdeu comigo uma manhã, em sua casa, para me dar uma luz sobre os problemas sociais em Lisboa. Bebia um chá amargo, depois de ter tentado a limonada. Não percebia o que estava a correr mal consigo. Nem eu percebo. Vai fazer falta a todos. A Portugal. Que Deus guarde a sua alma.

1 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

A morte é um problema dos vivos e não dos mortos. Os que ficam têm de fazer o seu circo. bfds a todos