segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

I. Mehmed efendi. Le Paradis des Infidèles. Un ambassadeur ottoman en France sous la Régence. La Découverte. Paris. 2004.







O editor é conhecido pela sua simpatia pela Turquia e pela causa turca http://www.bibliomonde.net/pages/fiche-auteur.php3?id_auteur=272. O autor é um turco, ou melhor, um turquificado (não há diferença entre um e outro conceito, como se poderia demonstrar, o que deixo para outras núpcias). Não se pode por isso dizer que se trata de propaganda anti-turca.

Em 1720 é embaixador do sultão junto do rei de França. Pela primeira vez um embaixador turco em sentido próprio contacta o rei de França. Primeiro mito: o que afirma que os contactos entre a Europa e a Turquia desde sempre se fizeram ao mais alto nível. A França é o país com mais antiga aliança com a Turquia. O império da casa de Áustria o primeiro a receber uma embaixada de alto nível turca. A França o segundo. Numa perspectiva de longo prazo, os países que mais intensos e longos contactos tiveram com a Turquia (esquecendo obviamente os conquistados, destruídos ou pilhados, mas essa é mais uma vez outra demonstração) são exactamente mais são contra a sua natureza de país europeu.

Segundo lugar comum: a Turquia sempre fez parte da Europa e se sentiu parte da cultura europeia. O turco Mehmed bem pelo contrário mostra a absoluta alteridade entre a Europa e o império turco ainda em 1720: “ O mundo é o paraíso dos infiéis…” (p. 126).

Terceiro lugar comum que vemos na propaganda turca: tradicionalmente a mulher turca nunca sentiu o Islão como uma prisão, tendo tido sempre uma grande liberdade de movimentos. Que nos diz Mehmed? Que Paris não é maior que Constantinopla. Só o pode parecer porque as mulheres se passeiam nas ruas e por isso a cidade parece mais populosa do que é (p. 135). Coisa espantosa, esta das mulheres se passearem na rua! A libertação da mulher turca veio da Europa, assim como a da mulher libanesa, egípcia e japonesa.

Quarta afirmação temerária: a Turquia participou da revolução científica europeia. No entanto, Mehmed passeia-se por Paris espantado com os laboratórios, os observatórios astronómicos, os centros de investigação sem paralelo na sua cultura (v.g., pp. 147 ss.).

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