segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O cubículo e o horizonte


Fechada num elevador da Assembleia da República, no trânsito entre dois ou três andares, não posso deixar de ouvir a conversa entre dois deputados socialistas, meus companheiros na breve viagem.
Não é comigo que falam, pelo que me abstenho de os nomear, mas não resisto a uma leitura sobre o que dizem.
Discutem, com algum desgosto, a ordem dos lugares nas listas do PS. Sentem-se prejudicados no posto negociado. A Deputada, talvez promovida pelas quotas, consola o colega: «Deixa lá, o X sai, de certeza, para o Governo e todos sabemos que o Y vai para uma Secretaria de Estado qualquer. Tens o lugar assegurado».
Não digo que esta contabilidade não seja comum aos outros partidos de poder. O que impressiona é o pulso que sentem (ou não sentem) sobre o Povo que representam.
Quem garante que vão ganhar? Para mim, só mesmo naquele cubículo estão em maioria. Mas também o meu espanto é atrevimento de sinal contrário pelo que da cena do elevador só sai uma conclusão: trabalhar, trabalhar, trabalhar.
1. Os novos contornos da Crise económica, financeira e social pedem soluções imaginativas, solidárias, geradoras de riqueza estruturante. Os partidos são obrigados a responder.
2. O ensino não promove o País nem os alunos. Os partidos são obrigados a responder.
3. A Igreja (94% de católicos pelo último censo) recoloca a questão dos princípios na definição do voto. Os partidos são obrigados a responder.
4. As grandes obras públicas são Maná ou precipício para os problemas do País. Os partidos são obrigados a responder.
5. A pirâmide etária exige medidas radicais para a reprodução e para o prolongamento da vida, com qualidade. Os partidos são obrigados a responder.
6. O continuado desequilíbrio das contas públicas esgota o discurso do cinto apertado obrigando o Estado a nova gestão das suas despesas. Os partidos são obrigados a responder.
Os Deputados devem ter o lugar que asseguram – primeiro – ao Povo que os elege.

5 comentários:

Anónimo disse...

O Frank Sinatra era um bom cantor, mas não menos mafioso por isso.
Estamos entregues à bicharada.

commonsense disse...

Também podiam ser deputados dos PSD. O diálogo seria igual.

Táxi Pluvioso disse...

Os políticos devem lutar pelos tachos e absterem-se de querer salvar o país ou o povo.

joao de miranda m. disse...

taxi pluvioso
Gostei do seu comentário. É isso mesmo. Como qualquer cidadão, devem tratar da sua vida e deixar em paz os problemas dos outros... ehehehe

Che disse...

Só é pena que não se digam os nomes. Esses provavelmente saltavam das listas. É que falar publicamente nesse tom e com esse conteúdo é de um despudor aviltante. Claro que o problema é mais fundo. O problema é que os deputados se servem da sua condição para manterem os tachos em vez de usarem a sua condição para representarem o povo que os elegeu. E depois queixam-se da abstenção e de que o povo está divorciado dos partidos.
Está na altura de se permitir a candidatura directa de listas de independentes ao Parlamento para acabar um pouco com a partidocracia reinante. Quem sabe esse poderia ser um início de caminho para alterar as coisas. Na sociedade civil há muita gente boa e com capacidades para fazer mais e melhor que muitos deputados.