domingo, 26 de julho de 2009

Quando perder eleições é uma boa notícia

A Guiné-Bissau escolhe hoje o seu quarto presidente efectivo desde a independência, e as notícias apontam Malam Bacai Sanhá, do PAIGC (na foto) como favorito.

Será a realização destas eleições um indício da democratização (finalmente) da Guiné? Infelizmente não. O verdadeiro teste do início da democratização será antes quando o presidente que hoje for eleito for substituído no poder. Se tal acontecer através de eleições, será um bom sinal: desde a independência, todas as mudanças na presidência guineense aconteceram através do recurso às armas. Desde o golpe contra Luís Cabral à morte de Nino, passando pelo golpe de Ansumane Mané (ele próprio assassinado posteriormente) e o golpe que depôs Kumba Ialá, o cano da espingarda constitui o principal mecanismo de alternância política.

O caso da Guiné ilustra bem uma velha lição: quando as armas entram na esfera política, torna-se muito difícil tirá-las. Mas esta história é mais antiga do que uma leitura superficial do texto anterior poderia supor. As armas não foram usadas para gerar mudanças políticas apenas em 1980 com o golpe de Nino – elas entraram na arena política quase duas décadas antes do golpe que depôs Luís Cabral. Se é verdade que a história não determina padrões, ela pesa e é uma variável relevante na explicação de trajectórias posteriores – como as diferentes experiências dos países africanos de língua oficial portuguesa aliás ilustram. Ignorar o papel da história dificilmente ajudará a alterar um padrão de golpes sucessivos que se repetem de forma cada vez mais acelerada. E, neste caso, esta história é também nossa.

1 comentários:

Anónimo disse...

A propósito de eleições, e não só as deste post, e se me é permitida a sugestão, pois é a opinião de um especialista na àrea, sobre a razão ( e duvido que a verdadeira razão fosse porque "era uma novel ciência na altura conotada com o marxismo")porque é que uma mente manifestamente superior - para o bem, ou certamente que para alguns, para o mal -, como o era o Prof. Doutor Salazar, não "gramava nem com molho de tomate" a Sociologia?

Com os melhores cumpts.,
CCInez