terça-feira, 14 de abril de 2009

Inez Teixeira — “De dentro para fora”




Inez Teixeira, exposição sob o título: “De dentro para fora”, inaugurou ao público no passado dia 26 de Março, na galeria VPF Cream Art, Rua da Boavista, n.º84 (até 9 de Maio)

Sobrevivendo a todas as mortes anunciadas da pintura e aos seus proclamados renascimentos, Inez Teixeira (Lx.1965), apresenta um conjunto heterogéneo de pinturas (acrílico s/ tela) e desenhos (de pequenos formatos), que dão continuidade a um percurso singular na pintura portuguesa do final do século XX e princípio do século XXI.

A singularidade surge deste facto: 25 anos de produção podem (e devem) ser lidos como uma narrativa que se vai desvelando e revelando a partir de um tema central— a paisagem— e a sua transformação pelo ponto de vista do seu observador ou autor.

Se compararmos com a literatura, a personagem principal, o herói, é aqui a paisagem, e o autor que faz da personagem o seu alter ego, e vai através desse outro descobrindo-se a si mesmo e ao mundo, enquanto realidade que não está imediatamente dada, ou está apenas para quem fica na rama da ilusão, é aqui a visão pendular entre um interior e um exterior, um de dentro e um de fora, duma paisagem que Inez Teixeira mostra como aparições, e que são as imagens formadas pela subjectividade do olhar, imagens de visita a mundos encobertos pela opacidade do ser, imagens de desocultação lenta do que, ainda assim, permanece misterioso.

Glosando o título desta exposição, poderíamos chamar a uma primeira fase— De fora para fora— uma fase expectante, de contemplação do que se dava, filtrado por um olhar depurador que nos mostrava a solidão dos seres naturais e dos seres primitivos: pássaros sobre bancos de areia, cabanas no meio da noite em campos indistintos, abrigos, ninhos...

Numa segunda fase– De dentro para fora– surgiram, sobretudo, texturas e intrincadas tecituras que permitiam perceber um lado de fora que surgia filtrado e adiado– tempo de espera– como uma grelha que não sabíamos se era uma prisão ou uma protecção.

Numa terceira fase de novo— De fora para fora— em que as paisagens cósmicas (meteoritos) ou as topografias (metálicas), revelavam um mundo agressivo e sem intimidade, como se o mineral inorgânico, à deriva pelo espaço sideral, dominasse toda a realidade impiedosamente e sem destino.

Finalmente, e a culminar na actual exposição, de novo— De dentro para fora— mostrando a ruptura com o niilismo cósmico anterior e regressando ao enfoque na intimidade das construções orgânicas, mas transcendendo-as para um imaginário onírico, rico de impossibilidades materiais, fuga da normalidade e anulação do tempo.

Nesta fase, surgiram, primeiro, as paisagens construídas a partir de uma simbólica em que os abrigos ou as cabanas são agora casulos que evoluem em formas larvares até às borboletas, são mutantes que perdem a pele e as suas pregas formam caminhos e jardins, florestas densas, num ambiente quase gótico, como se as formas da paisagem ainda sem distinção entre corpos e extensão fossem animadas por um só e o mesmo movimento.

Depois, surgem as paisagens oníricas, o imaginário fantástico, casas que nascem nas árvores e florestas com árvores invertidas num efeito visual que tornam a paisagem numa impossibilidade material próprias de uma quinta dimensão (para lá do tempo e do espaço Kantianos).

Nesta fase, IT concebe uma viagem a lugares imemoriais e fascinantes. Lembra, todavia, num pequeno desenho, filho único no conjunto exposto, onde aparece uma caveira em fundo monocromático, que é preciso experimentar o perigo e o despojamento, para passar de dentro para fora e ver uma nova realidade que nos liberta do espaço e do tempo concebidos como distância e sucessão irremediáveis.

IT, poderia dizer ao fim destes anos: “Do meu esconderijo eu tenho observado tudo, e agora, mesmo de fora, continuo escondida”.

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente texto e Post, muito obrigado.

Com os melhores cumpts.,
CCInez

Anónimo disse...

esposição vertical. Em toda a acepção. Parabéns.