domingo, 29 de março de 2009

Fixing the future

As actuais respostas europeias à crise têm sido até agora desenhadas para remediar o passado. A prioridade da próxima fase deve ser preparar o futuro. Isso significa investir na inovação e utilizar os recursos escassos para fazer crescer novas indústrias e serviços que serão decisivos para a recuperação, quando esta chegar. As politicas de retoma, que começaram com Keynes - estimulo à procura e estabilização da banca - têm de mudar rapidamente para Schumpeter – para acelerar a inovação e preparar o novo ciclo de crescimento. Esta mudança é importante não só por razões económicas, sociais e psicológicas, mas também porque induz confiança e optimismo.


Em 2009, os dirigentes europeus têm de enfrentar dois conjuntos de desafios sem precedentes. Um deles é o desafio de uma recessão profunda, com todas as frustrações, medos e dilemas que tal acarreta - nacionalizar ou não os bancos, o que fazer com os activos tóxicos, e como impedir que grandes empregadores desapareçam. O segundo conjunto, menos visível, mas não menos urgente, é dar resposta a desafios como as a regeneração das cidades, o combate à pobreza, a melhoria dos sistemas de saúde e educação, novos modelos de apoio para populações idosas, as doenças crónicas. Acreditamos que as soluções para o primeiro desafio terão também de incidir sobre o segundo. Impõem-se sintonizar as iniciativas de curto prazo com preocupações de médio e longo prazo.


Alguns governos europeus estão a começar a fazê-lo. Vários planos de estimulos estão a ser direcionados para empregos verdes, reabilitação urbana, novas formas de energia, investimento em banda larga de alta velocidade e outras medidas para uma economia de baixo carbono. No entanto, pouco tem sido feito para colocar a a inovação como tema central nas estratégias de recuperação.


As grandes recessões do passado foram seguidas por alterações radicais na estrutura industrial, com o surgimento de novas industrias, muitas vezes suportadas por novas infraestruturas. Schumpeter, comtemporâneo de Keynes, reconheceu que algum grau de destriuição criativa é simultaneamente inevitável e muitas vezes necessário para uma nova dinâmica de crescimento. Economistas desta escola mostram que a prioridades dos governos preocupados com o crescimento é incentivar as infraestruturas do futuro (como banda larga e as smart grids) e assegurar condições para o empreendedorismo. Esses são factores chave para assegurar que a retoma será sustentável e baseada em fortes aumentos de produtividade.


Isto não é apenas válido para as empresas. Houve um tempo que os temas económicos e sociais era vistos em separado. A economia produzia riqueza, a sociedade gastava. Na economia do Século XXI, isso já não é verdade. Sectores como a saúde, os serviços sociais e a educação, tem tendência a crescer, quer em percentagem do PIB, quer como empregadores, enquanto outras industrias têm tendência a decrescer. Em muitos paises europeus, o sector social já emprega mais gente que os serviços financeiros. No longo prazo, a inovação nos serviços sociais ou na educação será tão importante como a inovação na industria farmacêutica ou aeroespacial.


O que deve então ser feito? O que propomos é uma estratégia de retoma do tipo finlandês na crise do início da década de 90 - baseada na inovação e acompanhada por inovação radical nos serviços públicos, deu origem a um novo paradigma de crescimento. É nevrálgico que a Europa não só não corte, mas antes acelere, os investimentos em inovação. Não só nas empresas, mas também na inovação social. A ideia que a inovação na soluções sociais pode ser tão importante como a inovação nos produtos e nos processos é uma ideia relativamente nova, mas está a fazer o seu caminho e poderá tornar-se chave na próxima fase de politicas. No mês passado, o Presidente Barack Obama lançou um Office of Social Innovation na Casa Branca. Em Bruxelas, o Presidente da Comissão Europeia Durão Barroso organizou um seminário para impulsionar a inovação social na Europa. Por todo o mundo, governos, fundações e empresas começam a reconhecer que precisam de novos instrumentos para fomentar a inovação nalguns sectores de grande crescimento – como a saúde, os serviços para a terceira idade e as industrias criativas - muitos deles economias mistas.


Temos rapidamente de mudar de mentalidade: deixar de ver a inovação como uma area reservada apenas cientistas e a empresas tecnológicas, e passarmos a ver a inovação como indispensável em todos os sectores. A recessão exige novas respostas, ao nivel macro (paises) e micro (cidades). Importa mobilizar a criatividade colectiva para as encontrar.


Artigo publicado no Expresso/Economia de 28 de Março, assinado por Diogo Vasconcelos e Geoff Mulgan ( Presidente da Young Foundation e ex-director de Policy Unit do Primeiro-Ministro Tony Blair)

2 comentários:

Anónimo disse...

E que tal a inovação na política? 1 abraço, QuimPê

Diogo Vasconcelos disse...

Não podia estar mais de acordo, Quim Pê. É necessário inovar na politica, na medida em que tal permita envolver mais e melhores contributos para definir boas "policies". O MEP é um bom exemplo.
Ex
http://geracaode60.blogspot.com/2008/11/o-candidato-wiki.html