terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Meu caro 2009


Retirado do Pnet Homem, com a devida vénia.


Escusa de vir pé ante pé. Já estamos à sua espera e estamos avisados. Julgo, aliás, meu caro 2009, que nunca nenhum ano chegou com tantos e tão tremendos pré-avisos. A sua fama, a fama que o precede, não poderia ser pior. Que vai ser o ano em que a crise financeira se transforma, como a água de Canãa em vinho, na maior crise económica. Que vai ser um ano deprimido, de falências e deflações; que vai ser um ano de desemprego e de fundas crises sociais. Que não ficará pedra sobre pedra.

Mas sabe como é, há em todos nós uma irresístivel vontade para fugir à unanimidade. Essa pequenina vontade individual vai a par de uma réstea de esperança. Agora que vai tomar conta disto, perceba que nós, humanos, somos assim. Apesar de todas as contra-indicações com que nos distribuiram o folheto da sua propaganda, já só queremos que 2008 resigne com dignidade e que, meu caro 2009, a cadeira seja sua.

Mas não se precipite. Não deite fora o bebé com a água do banho. Tudo pode estar em causa, mas não a liberdade que, tão arduamente, gerações e gerações construíram antes de nós, a começar pelos princípios do livre mercado que foram a base do desenvolvimento que hoje tende para a globalização. Houve erros e perversões, morais e criminais, que 2008 lhe deixa como herança. Mas também lhe oferece, para equílibrio global, um dos mais surpreendentes sopros de renovação, o eleito presidente Obama, que já lhe terá sido estremecidamente recomendado como o seu melhor aliado. Não tenha, caro 2009, pejo em revisitar a história: aconselhe-se com o sábio ano primo da eleição de Roosevelt e invente os termos de uma nova era de cooperação global.

Dir-lhe-ão que todos, mas todos, queremos a paz. Ouvirá dizer que a guerra, quando sai à rua, leva poucas palmas e chega até a ser pateada. Não acredite em tudo o que ouve (às vezes nem no que vê) e prepare-se, sobretudo, para ir fazendo a paz com algumas guerras. Inevitáveis, odiosas e com humilhantes danos colaterais. Se for rever o histórico dos seus antecessores verá que nenhum escapou a esse cortejo de ferro, fogo e sofrimento e que a paz foi sempre, como as obas de Santa Engrácia, uma “work in progres”.

Se puder – e Deus queira que sim, embora Deus pouco ou nada tem a ver com isso, informação que já lhe terá sido providenciada – se puder, invente um Viagra político e ministre-o aos políticos europeus. A Europa é o que é, velha, cansada, às vezes gorda e burocrática, mas vai fazer-lhe uma falta dos diabos. Valendo o que vale, a Europa é uma raposa que conseguiu domar alguns dos mais irracionais demónios do nacionalismo (nem todos os do proteccionismo) e dos extremismos ideológicos e religiosos. Vai fazer-lhe falta um parceiro assim, se, meu caro 2009, quiser jogar umas canastas sossegadas.

No mais, que vai ser muito, dê um jeito ao tempo. É um favor pessoal que me atrevo a pedir-lhe. Faça uma gestão mais cuidada da chuva e do bom tempo. Para conforto de todos e para não termos de aturar a arquejante e reumática brigada ecológica.

Last but not the least, se for possível faça com que Philip Roth escreva mais um romance – agora que ele conseguiu o milagre de converter um protagonista de 71 anos, incontinente e impotente, num herói exaltante (no notável “O Fantasma Sai de Cena”), julgo que tudo o que lhe saia da mão é sublime e é genuíno. Os romances dele são tão bons que até das vírgulas temos ciúmes.

Acredite, meu caro 2009, bem vai precisar de um romance do Roth se quer que, algum dia, alguém se lembre de si com palavras carinhosas e verdadeiras.

1 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

2009 será o ano português. Ricos as nossas naus salvarão o mundo.

Feliz ano novo.