sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O drama e abjecção do capitalismo

Eu acho o capitalismo uma coisa abjecta, dramática mesmo, essa coisa de uma economia de mercado, de haver empresas, de sítios para trabalhar, e tudo o mais.

Então, nos idos de sessenta, as pessoas saíam de Portugal aos milhares, de aldeias sem água canalizada, sem electricidade, sem esgotos, onde andavam descalças, onde passavam fome, e desembarcavam no Canadá, nos EUA, e íam viver para casas com casa de banho, com electricidade e aquecimento, onde o salário de uma mulher a fazer limpezas sustentava uma família inteira, enquanto o salário maior, o do marido, vinha incólome para Portugal?
É abjecto, porque uns foram e os outros não, não houve igualdade nenhuma. Para mais, muitos dos que foram enriqueceram, fazendo limpezas, trabalhando na construção civil, ou seja, enriqueceram com o produto do seu trabalho.

Então, mas não se está mesmo a ver que é errado? Que aquilo não servia, que é moralmente injusto? E que dizer quando hoje uma mulher nos EUA, com escassa instrução, ganha a arranjar unhas e a dar aulas de substituição, mais do que um doutor em Portugal? Eu tendo a achar dramático.

Se toda esta gente fosse um bocadinho mais politizada, teria percebido que o que era correcto era terem ido daqui para Moscovo, que era assim mais parecido com Portugal, mas ligeiramente pior e em versão gelada.

Penso que teria valido a pena alguém lhes explicar que aquilo parecia pior do que era, porque o pensamento de Marx estava todo lá, algo adulterado, mas estava lá, o que era moralmente muito reconfortante.

Mas não, desataram todos a emigrar para países profundamente capitalistas, por consequência, valorizam a iniciativa privada, a capacidade de trabalho e a possibilidade de sustentar uma família, deve ser por isso que nunca conheci um emigrante português comunista.

E para conforto moral, parece-me que lhes chega uns dias de Agosto em Portugal.

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