sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O pragmatismo como princípio

Não resisto a sugerir a leitura deste artigo de Cass Sunstein (um dos melhores constitucionalistas americanos e amigo de Obama) sobre a filosofia política de Obama. A tese fundamental é a seguinte: aquilo que alguns têm entendido como mudanças de posição ou contradições ideológicas por parte de Obama, conduzindo a acusações de oportunismo político é, na verdade, reflexo de uma forma particular de conceber a política como necessariamente aberta às posições contrárias e procurando sempre um consenso socialmente alargado.
Esteja-se ou não de acordo com a tese de Sunstein ela é muito bem construída e particularmente interessante por duas razões. Primeiro, porque transforma o pragmatismo numa posição de princípio: não são razões de estratégia e oportunismo que motivam as aparentes contradições ideológicas de Obama mas sim uma filosofia política de constante abertura à posição contrária e de busca do consenso social. Segundo, porque reconstrói a personagem política de Obama de forma semelhante à auto-representação de McCain. Também este se apresenta como um homem de consensos (acima dos partidos) e cuja a heterodoxia o torna difícil de catalogar em termos ideológicos. Só que, enquanto em Obama isso nos aparece como uma consequência do seu intelecto, em McCain isso é apresentado como produto da sua história de vida.
A seguir nos próximos capítulos…

2 comentários:

Manuel S. Fonseca disse...

Miguel,
a tese é "overwhelming" e vou ler o artigo. Mas não consigo reprimir uma reacção primária e alérgica a esta síntese de Cass Sunstein. Quando ele faz a apologia de "UMA FORMA PARTICULAR DE CONCEBER A POLÍTICA COMO NECESSARIAMENTE ABERTA ÀS POSIÇÕES CONTRÁRIAS E PROCURANDO SEMPRE UM CONSENSO SOCIAMENTE ALARGADO" creio que uma série de incompreendidos políticos portugueses terão percebido, ó mas com que amargura, que deveriam ter nascido nos EUA. E eu, que até nem tenho preferências, sinto-me obrigado a elevar aos céus António Guterres e a sentá-lo ao lado direito de Deus.

Sofia Rocha disse...

Miguel, o Manel antecipou-se e concordo com o escreveu. Fui ler o artigo e embora goste, e gosto muito e sobretudo, da ideia de que alguém tenha " independence of mind", não posso concordar com tal formulação,acrescentando alguns argumentos.
1 - A questão do princípio. O pragmatismo nunca pode ser causa, só consequência, consequência de uma cabeça arrumada que sabe o que quer e para onde vai.
2 - Antes de formar uma ideia ou exprimir uma convicção, é bom que já tenhamos pensado longamente sobre o tema, que tenhamos sido dessa ideia advogado do diabo e que tenhamos ouvido outras opiniões sobre o mesmo tema. Dessa forma ao exprimirmos uma ideia ela já conterá outros contributos.
3- Se não fizemos esse processo, o silêncio é o melhor remédio.
4 - A convicção e ideias fortes sobre os temas podem mudar, evoluir, é claro. Com o amadurecimento, com a vida e suas experiências: a paternidade, a morte, o sofrimento nosso e dos nossos,viver noutros países, etc. Todavia, não mudam a cada semana, mudam em dez, cinco anos!
5 - Sermos convictos acerca das nossas ideias não implica o desrespeito pelas ideias dos outros ou a incapacidade de os ouvirmos e aceitarmos.
6 - Para além de que o minimalismo de que fala o autor,e que eu chamo de mínimo denominador comum, verdadeiramente se assemelha a massa de vidraceiro, dá para tudo!