terça-feira, 17 de junho de 2008

II. Noctes Atticae, Aulo-Gélio, Vol I (livros I-IV), Les Belles Lettres, Paris, 2002

Que nos diz este primeiro volume da edição das Belles Lettres?

O passeio turístico é imenso. Desde as teorias estóicas sobre o bom, o mau e o indiferente (I.II.8 ss.), a casos jurídicos (I.III). A ideia de ponderação de bens, velha como o mundo (I.III.21), os limites das relações humanas (“é preciso ajudar os amigos mas sem ofender os deuses”) (I.III.20), os usos de “debet” e “habet” (I.IV.6), o excesso de toilettes dos rectores Demóstenes e Hortênsio (I.V). “Um censor não deve falar como um rector” (I.VI.4). As palavras de Metellus: “os deuses imortais devem recompensar a virtude, não fornecê-la” (I.VI.7), a origem da palavra “futurum” (I.VI.6), Plauto é referido como o escritor mais refinado da língua latina (I.VII.17), o uso da palavra “mille” (I.XV.6), a aspiração do “h” (II.III), a dialéctica entre acusador e acusado, que antecipa a dialéctica entre o senhor e o escravo de Hegel (II.IV.6), a explicação do nome de constelações (II.XXI), do nome dos ventos (II.XXII), das cores (II.XXVI), a causa dos tremores de terra (II.XXVIII), os modos de separação dos dias (III. II), a elasticidade da palmeira (III. VI), o poder do número 7 (III.X), a ideia de Homero de que o universo está envelhecendo (III.X, 11), de onde se vê até que ponto a Incarnação é vista como um rejuvenescimento do Universo, as mortes provocadas pela felicidade (III.XV), o significado de “affectus” (III.XVI.19), sobre os senadores “pedari”, ou seja, aqueles que apenas usam os pés para se levantar e votar (III.XVIII), antigos exemplos de defesa do consumidor e necessidade e informação sobre o produto na venda de escravos (IV.II), “hostia” como vítima (IV.VI), “religens” por oposição a “negligens” (IV.IX.1), a tão propalada proibição das favas por Pitágoras (IV.XI), “Statius” como nome de escravo (IV.XX).

A análise das figuras geométricas que Gélio mostra entre os gregos salienta que ao falarem de altura e não de profundidade, escreviam as figuras na areia ou paralelas ao solo (I.XX.3).

O filósofo Favorinus é referido (v.g. I.X). Bem como ao longo de toda a obra o “grande” filósofo Taurus (v.g. II.II). O “grande” jurista Antistius Labeon (I.XII) a propósito do problema das Vestais, Ateius Capito (I.XII), o problema jurídico do mandato segundo o interesse ou segundo as instruções (I.XIII).

Aulo-Gélio parece que ditava o seu livro, mais que o escrevia (I.XXIII.2). A boca é mais nobre que a mão. Parecia ser da Gália, talvez Cisalpina (II.XXII).


Retenho algumas belas frases:
a) De Catão: “Frusto (…) panis conduci potest, uel taceat uel uti loquatur” (I.XV.10). “Por um pedaço de pão se pode comprar o seu silêncio ou o seu discurso”.
b) De Epicármio: “incapaz de falar, não se soube calar”. (I.XV.16).
c) Um epigrama de Pacuuius na sua tumba: “mesmo apressado, jovem, pede-te esta pedra que a olhes e leias a inscrição que nela está: aqui jazem os ossos do poeta Marcus Pacuuius. Adeus, queria apenas informar-te disso” (I.XXIV.4).
d) De Fauorinus (IV.I.4) “ensinaste-nos abundantemente muita coisa que ignorávamos e que não pedíamos para conhecer”.

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