sexta-feira, 23 de maio de 2008

Festival de Cinema de Cans

Posso dar-vos um bom exemplo de iniciativa (privada?), com sentido (de humor!)? Simples: o Festival de Cinema de Cans. Por estranho que pareça, grafei correctamente o nome. Não se dobra o n e dispensa-se a segunda vogal: Cans não é Cannes. Estamos na Galiza, bem longe da Côte d’Azur.
É uma aldeia de 300 habitantes. Este ano realiza-se ali, pela 5ª vez, um festival que concorre no tempo e ganha em originalidade ao Festival de Cannes, em França. Exibindo só curtas-metragens, o Festival de Cans é a epítome do “agroglamour”. (Não se poupem: fixem-me este conceito).

Entre sacos de batatas e espigas de milho, com aquele aroma que enerva citadinos e tranquiliza pituitárias mais telúricas, o Festival de Cans, que está agora mesmo a decorrer, junta aos 300 indígenas recenseados mais de 4 mil peregrinos que sabem ao que vêm. Vêm assistir às projecções dos filmes que se fazem em 10 salas bizarras: tres alpendres, dúas adegas, dous baixos, unha vella casa abandonada, unha antiga lareira e un galpón, como se vangloria o site do Festival.

Em vez das limusinas que se esfalfam entre os grandes hotéis da Côte d’Azur, em Cans o transporte de sala em sala faz-se em atrelados puxados por tractores.

Encostada a Porriño, a 15 minutos de Vigo e uma hora de Santiago, Cans é, durante três dias, uma fantasia que nenhum surrealista teria sido capaz de inventar. É o género de coisa que deprimiria Freud e que não faria Marx sentir-se nada bem.

Para mim foi até hoje um segredo que só mesmo a cumplicidade do mais galego dos portugueses me faria descobrir. Para o ano, fico à espera do convite.
Ver para crer? Então vejam:

3 comentários:

Sofia Rocha disse...

Deve ser por ter sido criada no campo, que hoje digo, como Leonard Cohen:" I love the country, but I can´t stand the scene..."

Manuel S. Fonseca disse...

Sofia,
E eu a pensar que o Cohen era um bocadinho country?! Eu, que nasci em Vale de Madeira, a uma enorme distância de Pinhel - a pé - mas que aos 5 anos estava a meio do meio do Oceano Atlântico, fiquei com a nostalgia. Não sei onde pôr os pés, lavo cuidadosamente a fruta, mas uma vez no campo, há um embalo genuíno a que não resisto.

Táxi Pluvioso disse...

O festival podia ser feito em Lisboa. O cimento e o alcatrão confundem mas é uma terra de pacóvios.