segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

7 dias de Brasil em 2 tempos e 1 movimento


Deixámos as havaianas no último degrau (de madeira) das escadas que nos levam à praia.

Hoje diz-se havaianas como outrora se dizia kispo. É a mesma lógica – and, besides, it sure as hell beats chinelos.

A praia abriu-se então, mais do que à nossa frente, para os lados – já que o mar rebentava logo ali.

Ao longo da praia bandeiras amarelas, gastas pelos elementos, assinalavam ninhos de tartaruga que o projecto Tamar jurou defender.

Tamar e não Itamar, como a principio erradamente pensei – como um nome para prestigiar o antigo presidente.

...

Nascem num relvado que começa onde morre a praia. Num plano inclinado são centenas de coqueiros. Os ramos, em cima, dispostos como aros, estão penteados pelo vento. Para trás.

Como guerreiros, protegem a costa de um inimigo que há-de chegar – que não pára de chegar. Colocados com um nexo apenas natural, fazem lembrar um parque eólico erigido por um visionário sem sentido de orientação.

Não param o vento mas cortam-no em fatias pequenas – mais fáceis de digerir – que servem aos turistas. Como nós.

Como acontece com os humanos, a grande maioria dos coqueiros alinha na mesma direcção mas alguns, poucos e mais independentes, ordenam-se, diferentemente, de acordo com uma vontade própria.

À direita, enquadrados no azul, fiapos de nuvem (muito) brancos estendem-se tentando uma ponte entre o céu e o horizonte. É o Verão que se vai.

À esquerda, nuvens - cujo topo (também muito) branco, em couve-flôr, contrasta com uma base cortada a régua e esquadro - delizam por cima do mar na nossa direcção. É o Inverno que chega.

Estas nuvens chovem lá longe, à vista desarmada, enquanto um surdo-mudo que não vai à escola nos serve água de coco com uma palhinha e um sorriso na cara.

...

Andava sempre ao seu passo. No seu ritmo. Passava todos os dias à mesma hora.

Trazia na cara a certeza de que não aceitaria – jamais! – acompanhar o passo de outrém.

Era (e seria sempre) assim. Nem mais depressa, nem mais devagar.

Não havia incentivo, ameaça ou convite que a fizessem vacilar na sua dela (firme) convicção.

Nunca seria mais rápida para agradar, nem lenta para chatear. Não temia criticas e não ouvia insultos. Sabia quem era e ao que vinha (ou ía...) e conhecia muito bem o ritmo do seu andar.

Aceitaria a companhia de quem gostava mas (também) não convidava.

Estava tão bem só, como bem acompanhada porque sabia - e bem - que o caminho se faz só, mesmo quando acompanhado.

Se andasse em Bond Street (que não andava) e tivesse guarda-chuva, abria-o. Se não, molhava-se. Mas não se convidava para baixo (salvo seja) de um qualquer umbrella que passasse.

Aceitaria ofertas de boleias, em situações extremas, para se resguadar - mas só... se ao seu passo.

Se o dono do guarda-chuva corresse, ela ficaria para trás – sem mágoa nem recriminação. Nem contra o tempo, nem contra a sorte (ou o azar). Sabia que a chuva caía quando caía e aceitava a realidade sem um franzir de sobrancelhas ou um piscar de olhos. Como um dia li numa feliz expressão (por certo congeminada com ela no pensamento), nem optimista, nem pessimista. Entre ela e a realidade não havia qualquer mal entendido.

Que ninguém, qualquer alguém, pensasse - alguma vez - que a faria correr ou gatinhar (“porquê gatinhar?”, teria perguntado), acelerar ou abrandar, saltitar num só pé ou mesmo em dois, porque o seu andar era único e não admitia excepções.

Era uma mulher curiosa esta que pass(e)ava pela praia. Atraente (também) pela singularidade.










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