quarta-feira, 11 de julho de 2007

O Público passa-se...

O Público, tal como os outros jornais de referência, é liderado e influenciado parcialmente por uma classe de jornalistas que entrou para os media depois de 1974, proveniente dos movimentos de extrema esquerda que, nessa altura, tomaram as redacções. Essas pessoas evoluíram. Tornaram-se moderadas à medida que amadureceram e foram assumindo chefias delegadas e já não arrematadas. Tudo a favor. Alguns destes jornalistas deixaram-se mesmo aburguesar sentindo as vantagens das coisas e do compromisso. Mas, como recuerdo da pureza original, mantiveram um reduto de revolta pronto a accionar vibrantemente cada vez que duas ou três matérias são questionadas. A liberdade de imprensa, quando condicionada por uma tutela, é uma delas. Tudo a favor, de novo. O problema é que o mesmo escrúpulo que os leva a reagir tão energicamente - e bem - quando há ataques à liberdade de imprensa - fazendo reviver os melhores anos de combate revolucionário - nem sempre é aplicado quando estão em causa outros atentados à independência do jornalismo. Isto é: ninguém de fora pode afectar a liberdade dos jornais mas estes, internamente, podem formatá-la por vezes sem a cumprirem. Aqui entra a guerra das virtudes: as comissões de regulação pensam que têm autoridade moral sobre o trabalho dos jornalistas porque «são independentes» dos interesses a que a escrita se refere; os jornais pensam que ninguém é mais independente do que eles e que qualquer juri representa o regresso da mordaça do fachismo. Ambos são falíveis, como todos nós. E ambos devem competir neste campeonato de imparcialidades. Todos temos a ganhar. Podemos talvez é dispensar o alarido e evitar nas primeiras páginas este corporativismo mental que parece usar o melhor espaço em proveito próprio.

3 comentários:

andrea disse...

Absolutamente de acordo.

Unknown disse...

Como não conheço o meio jornalístico, não tenho meios para interpretar coisas que estão lá apenas na sombra. Tudo o que a Inez diz joga certo e agradeço vivamente essa interpretação.

Anónimo disse...

Estamos no melhor dos mundos governamentais, portanto. Só que no poder actual também está uma frente de antigos esquerdistas, só que ao leme do burgo. E é ver a correspondência do Presidente da ERc para os directores dos jornais. apeasr de tudo sempre é preferível que existam algumas sombras nas redacções do que estas sejam colocadas paulatina ou apresadamente na sombra de tutelas claras ou escondidas...!
Porque a liberdade tem que provir das capacidades de poderes autónomos ainda que sujeitos a erros de circunstância. A perfeição exigida pelo poder deriva, habitualmente, em instintos e práticas censórias, auto-infligidas ou hetero-infligidas...