sexta-feira, 15 de junho de 2007

III. L’innocente. Visconti

A primeira grande separação faz surgir dois trios de personagens.

De um lado, os ligados à fonte da vida. O poeta, que tem fim trágico porque apenas existe pela poesia. É literalmente uma figura poética. A mãe de Tullio, trágico destino precisamente por saber amar (a criança que acabou de nascer). Giuliana, a mulher, porque a única forma de encontrar o amor foi ilícita (para ela esta expressão tem significado) e acabou no ódio.

De outro lado, os desligados da fonte da vida, em suma, sem esperança. A amante, a condessa Raffo, lúcida, bem sabendo que tem imensos trunfos na vida, mas sem esperança em amor redentor. O irmão, Federico, que sem esperança se dedica à distracção. Divertir para ele tem o verdadeiro sentido da palavra, desviar do caminho, no caso, o caminho da sua vida. Tanto a amante como o irmão partilham algo em comum: sabem que estão sem esperança e sabem que a vida lhes é incompleta. Tullio, o terceiro elemento deste trio, o mais patético, e por isso o menos trágico de todos. O que fez da ausência de esperança uma filosofia de vida. Que determinou que a vida nada mais era que isso: fruir, ter curiosidade e depois fenecer. Nada mais.

As duas personagens mais comoventes acabam por ser a mãe e a amante. A mãe por ser pessoa de profundas convicções não as impondo a ninguém, sofrendo das imposições ideológicas do seu filho, que fez do vazio existencial, do ateísmo militante, a sua fé e a sua cruzada. A amante Raffo, porque na sua lucidez é a que mais tem noção do sentido trágico da situação.

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