quinta-feira, 31 de maio de 2007

V. A herança de Blair

Tornou-se num dos símbolos da política espectáculo, da simpatia feita político e feita política, da moral como paradigma mediático da política (a ideia de relações internacionais baseadas na moral (?), por exemplo – ironia se a há para quem mentiu de forma tão pobre, mais que descarada).

O político de génio é em parte como qualquer outro génio. Caracteriza-se por um misto indefinível entre obsessão, obstinação e flexibilidade. Churchill e De Gaulle são dois bons exemplos de teimosia descomunal e capacidade de compromisso com o pormenor. A natureza ginasticada de Blair não pode ser posta em dúvida. Mas “idée fixe”, nenhures. Em boa verdade, ideia, algo fraca.

Porque Blair é o epítome de uma das mais medíocres gerações de políticos que a Europa já viu. Schroeder, Aznar, Berlusconi, Chirac, Jospin, Prodi, a lista é infindável. A lista de políticos medíocres. Os anos de 1990 tiveram outros paralelos na História da Europa, em que a política foi invadida por meros gestores do quotidiano e do mediático. Boulanger sempre existiram. Boulangismos são sinal de épocas cansadas, exaustas, sem ideias.

Blair é apenas mais um entre muitos. Mais um exemplo de uma geração feita para os meios de comunicação social, em que o fundamental é o sorriso. Teve a sorte de herdar de Thatcher o trabalho mais difícil e a inteligência de o preservar. Mas em pouco se diferenciou dela. Thatcher em relação ao que destruiu não se fez de rogada, nem teve lágrimas de crocodilo. A grande diferença é que Blair se dizia preocupado. Sem mais. Sem nada mudar. Paradigma do politicamente correcto, das grandes causas, viveu de medíocres efeitos.

Se Blair foi popular é apenas porque se adequou à sua época, não porque anunciasse uma nova. Na política é uma Bela Otero, não um Baudelaire.

Só se pode julgar severamente quem ocupa altos cargos ou tem elevada dimensão. Estarei autorizado a fazê-lo em relação a Blair pela primeira razão, não pela segunda. É evidente que para o comentador político Blair pode ser grande. O comentador político está habituado ao tempo histórico curtinho, apertado. Não sabe por isso reconhecer o prenúncio nem ver para além dos cinco anos. Blair um grande político? Perdoem-me que o cite mais e uma vez mais. Talleyrand: “tudo o que é exagerado é insignificante”. Este sim era um grande político. Podia falar de pedestal.


Alexandre Brandão da Veiga

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