sexta-feira, 18 de maio de 2007

A Mãe (e o Pai) de todos os Códices


Portugal participou hoje num acontecimento cultural histórico. Foi lançada entre nós, pela mão das Edições 70, uma obra única, de referência em todo o Mundo civilizado, em simultâneo com o resto do Mundo: O Codex Arquimedes.

No meio da patética ficção de todos os códices a que assistimos nos últimos anos, de da Vinci a sei lá o quê, este é um relato em que a nudez crua da verdade ultrapassa o manto diáfano da fantasia. Não é uma história a brincar: é a sério. Não é uma história construída em torno de uma patética seita ficcional: é uma história verídica sobre uma obra milenar de um dos grandes génios da Humanidade - Arquimedes. O homem do "Eureka" (que, ao que parece, nunca aconteceu).

A história começa há mais de mil anos. Mas este livro lê-se como um thriller. E sobre um assunto real da História da Ciência! Façamos fast-forward para o ponto em que os autores do livro, o classicista Reviel Netz de Stanford e William Noel, Conservador do MuseuWalters de Baltimore,
começam a sua narrativa. Em 1998, num leilão da Christie's, em Nova Iorque, foi comprado por 2.200.000 de dólares um livro muito feio - o Palimpsesto de Arquimedes.

Após ter sido perdido e descoberto várias vezes, foi identificado um livro de orações do século XIII que era um palimpsesto - tinha sido raspado (reciclado!) e por baixo tinha textos de Arquimedes. O famoso Codex C, perdido desde a Cruzada de 1204, que invadiu e saqueou Constantinopla.

O Palimpsesto de Arquimedes foi comprado no leilão por um desconhecido através de um intermediário. Ainda hojhe não se sabe que foi. William Noel teve uma ideia palerma: mandou um email ao intermediário para saber se o proprietário estaria interessado em expoôr o Palimpsesto de Arquimedes no Walters.

Três dias depois, tinha um email de resposta "que lhe deixou o estômago a dar voltas". O estranho milionário concordava queria visitar o Walters Museum. Aquando da visita, o misterioso "Mr B.", acompanhado do intermediário, do Director do Museu e de Noel, foi levado a almoçar. E quando Noel perguntou "Então, estaria interessado em ter cá o Palimpsesto?", Mr. B. respondeu, "Olhe, já está: deixei-o num saco de papel castanho no seu gabinete". "HA-HA-HA", riu Noel, "então ainda bem que deixei a porta trancada!". Mas foi a correr e lá estava o Arquimedes!

O livro é um relato extraordinário do que se seguiu, que envolve um pouco de tudo - de grego clássico à CIA e a acções judiciais. Mr B. deixou ao Walters generosos fundos para investigar o texto de Arquimedes. Só abrir o livro demorou 4 anos. O texto foi estudado com as técnicas mais avançadas de raios X proveniente do acelerador linear de Stanford (SLAC).

O resultado é uma aventura extraordinária na história da Civilização. É contactarmos com uma das maiores mentes que viveu na Terra, há mais de 2000 anos. Aparentemente, Arquimedes terá realizado Cálculo Infinitesimal 1800 anos antes de Newton e Leibniz. É a História de uma aventura real - muito, muito à frente da ficção. O livro do ano.







1 comentários:

Nuno Lobo Antunes disse...

Obrigado. O livro é fascinante.