quinta-feira, 19 de abril de 2007

Elites, Democracia e do Verdadeiro Drama Actual

A afirmação de Alexandre Brandão da Veiga segunda a qual à Democracia sempre aborrecem as Elites, merece reflexão.

Se entendermos o significado de Democracia como o Governo da maioria, constituindo-se sempre as Elites uma minoria, afigurar-se-á de simples evidência a necessária oposição da Democracia às Elites. Todavia, se entendermos Democracia como o Governo do povo, essa oposição não apenas é menos evidente como se poderá mesmo esbater ou não ocorrer sequer.

Socorramos aqui do alto exemplo de S. Tomaz e recorramos a Aristóteles.

Para o Estagirita, havia três regimes perfeitos: a Monarquia, ou seja, o governo de um, talvez o mais sábio; a Aristocracia, ou seja, o Governo dos melhores e a democracia, ou seja, o Governo do povo ou, por consequência, também, da maioria, i.e., da maioria em que sempre se constitui um povo.

Avisado, realista, tópico, Aristóteles não desconhecia a situação do mundo, do movimento do mundo, de geração e corrupção. Assim, bem compreendeu também como a Monarquia sempre tendia a degradar-se em Tirania, a Aristocracia em Oligarquia e a Democracia em Demagogia.

Perante isso, propôs Aristotéles a Poliarquia, ou seja, um regime composto em simultâneo pelos três regimes puros, como, em toda a modernidade, tem vindo a suceder, como sucede com o nosso próprio regime: o elemento monárquico dado na figura do Presidente da República, o elemento aristocrático dado no Parlamento e o elemento democrático dado pelo Acto Eleitoral.

Na Poliarquia via talvez Aristóteles a possibilidade de um equilíbrio entre os três elementos que impediria a sua degradação simultânea e a consequente degradação da própria Poliarquia naquilo que, por inesperado, não chegou a conceber.

A Poliarquia, porém, quando se ignora a si mesma, quando todos os seus elementos se ignoram a si mesmos, pode deixar senão de se degradar, como hoje todos temos já plena consciência e vasta experiência. E degradação dá-se, segundo tudo leva a crer, exactamente nisso que hoje se designa já, comum e vulgarmente, como Partidocracia: conjugação ou misto de Tirania, Oligarquia e Demagogia. O drama actual.

Há regeneração possível?

Esis uma bela interrogação. Quanto às Elites, própria ou impropriamente ditos, dada a sua polissemia, haverá, primeiro que determinar o seu exacto significado, quem, por consequência, verdadeiramente as constitui e, compreendendo, por fim, o seu modo próprio de acção, compreender também a sua actual situação.

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