O pós-colonialismo
Analisemos a coisa de forma lógica. Veremos como a ideia de pós-colonialismo é completamente desconchavada.
Em primeiro lugar, é a continuação
da ideologia anti-colonialista, que se encontra em Sartre ou Lévi-Strauss. Não é
herdeira de Camus em boa verdade, porque este sempre foi motivado pelo sentido de
justiça. O primeiro vício é o de, numa ideologia antieuropeia, ser ela mesma
uma ideologia de origem europeia. Os pós-coloniais são no fundo submissos ao pensamento
europeu, precisamente quando criticam a Europa.
Em segundo lugar, são «pós».
Quando algum movimento se define como «pós», apenas mostra o vazio das suas ideias.
É incapaz de criar um conceito de síntese das suas ideias. Romantismos, futurismo,
neoclassicismo são etiquetas muito elásticas que significam coisas muito diversas
em épocas diversas. Mas ao menos significam alguma coisa. Quando um movimento se
diz «pós», diz que o seu único mérito é vir depois de outros. Mérito curto, porque
será seguido por outros. Caduca rapidamente. O segundo vício é o de pobreza de ideias.
Em terceiro lugar, é
seguido por pessoas que não vieram para a Europa enquanto escravos, mas de sua vontade.
Para quem diz que a Europa é o monumento de horrores que afirma, seria apenas
sinal de que não serão muito inteligentes. Alguém que vive numa sociedade tão horrorosa
como Europa, se fosse inteligente, fugiria mal pudesse. Andar pelo inferno
depois de lá ter entrado de livre vontade e não querer sair mostra algo bem
pior que o pecado: mostra a estolidez. Se a Europa é tão má porque não fogem dela?
Em quarto lugar, muitos têm
nacionalidades europeias. Se dizem que os europeus são ladrões, estão-se a chamar
de ladrões, se os europeus são criminosos, são eles mesmo criminosos. O seu discurso
é reflexivo, portanto. De certa forma, torna-se divertido. Cada insulto que lançam,
é a si mesmos que o lançam. Ouçamos, pois, com delícia os seus insultos.
Mas querem algo mais,
querem que as nacionalidades europeias sejam cada vez mais alargadas, que seja fácil
adquirir nacionalidades europeias. Seja, querem o horror para os outros, querem
que haja outros que sejam nojentos, como os restantes europeus. Querem mais criminosos,
mais objectos do seu insulto, desejam o mal aos outros. São malévolos,
portanto.
Em quinto lugar, sobra uma
salvação para o último vício, tenhamos esperança. É que haja dois tipos de europeus:
os puros, vindos das colónias, e os porcos originários da Europa. Só nesse caso
o insulto poderia deixar de ser auto-insulto. Mas esta solução tem um preço. É que
passaria a haver europeus de primeira, os vindos do resto do mundo. Os originários
seriam europeus de segunda. Ou seja, seria o retorno ao sistema colonial de cidadãos
de primeira e de segunda.
E eis que o ciclo se
fecha. Ideologia anticolonial nascida na Europa, revela-se submissa às categorias
europeias, pensamento de submissos. Apenas se demarca de outras porque diz que vem
depois de outras, mas não tem ideias próprias além de copiar o que os europeus pensaram.
Seguida por pessoas pouco inteligentes, porque seria bem mais sensato fugir do inferno
que descrevem ser a Europa. Vivem a insultar-se a si mesmos. E querem espalhar
este mal a outros. Desejam o mal aos outros. E a única forma que têm de se
salvar deste defeito seria a de instruir um sistema colonial. Está fechado o
ciclo. São os novos colonizadores, inspirados pelos anteriores, com menos ideias,
mais ódio e desejo de vingança que os anteriores. O que começa na epopeia, em cópia
acaba na farsa.
Alexandre Brandão da Veiga