quinta-feira, 18 de outubro de 2007


Fui atraído pela possibilidade de ouvir Michael Nyman e a sua banda ao vivo mas saí fascinado por uma obra cinematográfica: O homem com uma câmara de filmar (Chelovek's kino-apparatom), um documentário de 1929 de Dziga Vertov para o qual Nyman compôs uma banda sonora. Trata-se de uma obra notável sobre o acto (e não tanto a arte) do cinema. O filme é desde logo extraordinário enquanto compêndio de todo o tipo de efeitos cinematográficos. Só que este virtuosismo cinemático não é estéril (estou a pensar, por. ex., em Oliver Stone…). Ele é instrumental a uma mensagem. Vertov assimila o acto de filmar a um trabalho como outro qualquer (é fantástica a sequência em que o trabalho mecânico e repetitivo numa fábrica é intercalado com o processo de montagem do filme). Há aqui uma mensagem política clara associada ao regime de então: o cinema é mais um meio de produção e os "artistas" fazem parte do proletariado. Esta associação, ao mesmo tempo que legitima os que fazem cinema no contexto de uma revolução do proletariado, eleva o trabalho do proletariado a uma forma de arte..


A transformação do cineasta em operário é visível desde logo no título: o homem com uma câmara de filmar. A componente física (e até de risco) desta actividade é frequentemente acentuada ao longo de vários planos em que o "homem com uma câmara de filmar" aparece pendurado em eléctricos, no cimo de pontes, por baixo de comboios etc. Mas estes planos intuem, igualmente, o potencial voyeurístico e intrusivo do cinema que é ainda mais acentuado pelo facto de Vertov filmar a vida de uma forma enciclopédica (ele filma todos os trabalhos, todas as formas de lazer, todas as emoções, numa sucessão interminável de retratos do quotidiano): a câmara está em todo o lado (num prenúncio daquilo a que assistimos hoje em dia, com a presença de todo o tipo de câmaras – dos telemóveis aos vídeos de segurança – em todos pontos do quotidiano). O filme termina com uma fusão dos diferentes retratos e planos, intercalados, e depois sobrepostos, a um ritmo altíssimo (excelente a música de Nyman neste ponto): é o num regresso à mensagem política de assimilação das diferentes identidades. Pode assim parecer paradoxal que um filme tão ideologicamente comprometido não tenha sido bem recebido pelo regime estalinista (Vertov terá sido acusado de excesso de formalismo). Provavelmente, o regime terá pressentido que uma câmara "tão presente" no quotidiano pode facilmente transformar-se de instrumento do regime em fonte de denúncia, sobretudo quando não se controla o homem com uma câmara de filmar.

1 comentários:

Diogo disse...

Simon Wiesenthal – onze milhões de mortos no Holocausto

Portanto onde é que Wiesenthal foi buscar o número onze milhões, incluindo cinco milhões de não-judeus?

Numa conversa privada, Bauer colocou-lhe essa questão. E Wiesenthal contou a Bauer onde fora buscar esse número. Wiesenthal contou-lhe que o tinha inventado. É verdade, ele tinha-o fabricado! E porque o tinha ele inventado? Wiesenthal inventou-o, escreveu Bauer em 1989, "para fazer com que os não-judeus se sentissem como se fizessem parte de nós." Wiesenthal já tinha manifestado a um repórter do Washington Post em 1979, quando lhe disse que "Desde 1948 eu procurei com outros líderes judeus não falar dos aproximadamente seis milhões de judeus mortos, mas antes de onze milhões de civis mortos, incluindo seis milhões de judeus."

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