II. Serge Berstein, Léon Blum, Paris, Fayard, 2006
Pertence ao grupo muito vasto de pessoas que em ingenuidade e ignorância histórica acreditaram que vivemos num mundo moderno em que o fascismo não seria perigoso (!), que a religião era uma inexistência política (!), que era racional e científico (!). Rodeado por uma cultura literária que se degradou cada vez mais ao nível da cultura jornalística.
Na perspectiva da História longa, o pico que representou no anos 30 fica esbatido quando visto na perspectiva do século, a relevância para a França fica esmorecida quando vista pelos olhos do mundo, e numa perspectiva da realmente longa duração é apenas mais um ponto entre centenas e milhares de primeiros-ministros que o mundo já viu.
A explicação é simples. A razão do seu sucesso é a mesma da sua irrelevância. Homem integrado no século, produto dele mais que seu produtor, fica como mais uma ilustração de vida típica dos anos de entre guerras.
Crente da República laica, e ao mesmo tempo adorador formal de um marxismo que nunca estudou teoricamente e em que nunca acreditou realmente, mas cujo apelo doutrinal achava essencial para a sua liturgia, vivia na ilusão de que existia uma modernidade que aclimataria os seres humanos de uma forma rompida com o passado, como se houvesse mais um nascimento virginal, mais um Hapax, mais uma Incarnação. Não almejava pelos amanhãs que cantam, pelo novo homem do futuro, porque no fundo já acreditava que ele tinha vindo, sobre a forma do progresso, da laicização, da “racionalidade” política, económica, pessoal.
Tornou-se por isso em mais um dos crentes desta religião postiça, sucedânea, invertebrada e sem carne nem linfa que é a da modernidade. Crente na História, mas curta, foi aplaudido por uma História com a mesma duração. A pessoa merece respeito. A grandeza não merece menção.
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http://www.palgrave-journals.com/fp/journal/v4/n1/pdf/8200090a.pdf
Alexandre Brandão da Veiga