quarta-feira, 12 de setembro de 2007

III. Hodiernos cristãos: em meio hostil (cont.)


5) Acreditar é sinal de ignorância, de acordo com a religião da época. Quem acredita é sempre pouco inteligente. Desconfiar parece sinal máximo de inteligência. A modernidade mostra assim um dos seus lados de pobreza, instalada na desconfiança e vivendo dela. Mas se bem pensarmos há coisas em que só se acredita porque se tem conhecimento. Que certo medicamento faz bem apenas médicos muitos competentes o podem dizer. Que 7+8 podem ser igual a 3 requere algumas bases de álgebra abstracta. E lembro-me sempre de quando era criança em 1969 o homem foi à Lua. As criadas achavam que era montagem de Hollywood, não acreditavam na coisa. Aí percebi que há certas descrenças que são próprias de criadas.

6) O valor da vida de um cristão está sempre manchado pela menoridade. O facto de os cristãos assírios terem tido de fugir da Turquia ao longo de todo o século XX ou de 10% de palestinianos terem sido cristãos e termos apenas agora 1% porque os restantes tiveram de fugir para a Europa, Estados Unidos, América Latina e África Ocidental, é coisa que não merece atenção e se é referida passa logo por racismo ou desprezo. Um dos exemplos mais significativos é o do Sudão; durante duas décadas cristãos e animistas negros foram mortos pelos muçulmanos. Nem uma lágrima dos sentimentais da praxe. Mas quando no Darfur morrem muçulmanos a imprensa corre a chorar em peso.

7) O anti-cristianismo intelectual pesa igualmente algo neste ambiente hostil. Ao contrário do que se pensa o pensamento anticristão é bem mais fraco intelectualmente do que se julga. A grande maioria dos positivistas foi medíocres filósofos e nulos cientistas. Poincaré era agnóstico, mas não anticristão nem positivista. E o católico Pasteur envergonhava a grande maioria da classe médica parisiense ideológica da III República. Nietzsche está bem longe de ser um pensador anticristão, o que careceria de outros desenvolvimentos. E é inegável que era um pensador profundamente religioso. A única grande figura do anti-cristianismo intelectual temos de ir até ao fim do século III para a encontrar. Refiro-me a Porfírio, o discípulo de Plotino. Mais nenhum feriu tanto o cristianismo, de forma tão sistemática e profunda. Por isso quando vejo um anticristão hoje em dia confronto-o com Porfírio. E os actuais são incompletos, repetem-lhe os argumentos, de forma muito menos profunda e menos sistemática. O grande problema do anti-cristianismo intelectual reside exactamente na sua pobreza intelectual, na repetição dos mesmos lugares comuns e de forma desconexa. Trata-se de uma tribo com rituais, resistindo ainda e sempre ao invasor. Admiráveis, mas no fundo personagens de banda desenhada no que respeita à profundidade da sua argumentação.

8) O cristianismo encontra-se igualmente diluído pelo humanitarismo e apenas legitimado se visto por esse ângulo. É significativo que o modelo moral da “laica” República francês na segunda metade do século XX seja o Abbé Pierre e na secularizada Inglaterra a Madre Teresa de Calcutá seja um dos maiores pontos de consenso. Legitimam-se pela acção, esquecendo-se a sua causa. É como assistentes sociais que são valorizados e não como testemunhos de Cristo. Ou seja, é esquecer o essencial. Que o que dá o sentido à acção, e o que a motivou é o centro, o motor e a energia chamada cristianismo. Perdoa-se-lhes serem cristãos como se de uma fraqueza menor se tratasse tendo em conta o mérito da obra, esquecendo que o mérito da obra encontrou a sua fonte apenas nessa suposta fraqueza.

9) O cristão é o da vida clandestina. Ao contrário do muçulmano, religião guerreira desde a origem e com fraca história enquanto vítima de perseguição, a memória cristã primeva é a da catacumba, da caverna. O muçulmano pode aparecer em público com os traços distintivos da sua religião, o cristão deve apagá-los a todos. A separação entre o espaço público e o privado é entendido pelo cristão e imposto pela sociedade como tal como uma forma de apagamento dos sinais exteriores desse cristianismo. O problema é que isto gera um apagamento simbólico da força dos cristãos e uma distorção do equilíbrio de forças na sociedade. Tomemos o seguinte exemplo: reconhecemos todos que a vida sexual é considerada íntima, reservada ao espaço privado. Mas ninguém fica por isso impedido de mostrar externamente os sinais secundários do seu sexo. Percebe-se publicamente que um homem é um homem e que uma mulher é uma mulher. O cristão é obrigado no entanto a ser um eunuco religioso. Aparecendo no espaço público como se destituído de religião.

1 comentários:

Anónimo disse...

Mas que grande chorrilho de disparates… Refiro-me ao post, naturalmente, um mimo de auto-vitimização, preconceituoso e sem pés nem cabeça.
Acreditar é sinal de ignorância para alguns não-crentes na mesma exacta medida em que não acreditar é sinal de ignorância para muitos crentes, está ela por ela.... Além disso, a tal “desconfiança” que o cavalheiro renega e demoniza é, tão só, o principal motor de coisas menores como a ciência e da filosofia. É da "desconfiança" que nasce o progresso e sempre foi assim, não entender isso é como não entender a diferença entre filosofia e teologia, esta sim, uma discplina baseada na "confiança". Enfim, pormenores.
Em relação a crenças próprias da criadagem, então, meu amigo, é só abrir as páginas dos jornais dedicadas aos anúncios de bruxos e curandeiros místicos, é um mimo. Mas também poderíamos acrescentar crenças como a das visões e dos segredos dos pastorinhos de Fátima ou as da santinha da ladeira. As “criadas”, que também têm as suas descrenças, como todos nós, adoram esse tipo de crenças.
Em relação à menoridade da vida dos cristãos, teria graça, o delírio, se não tratasse de um tema sério. O exemplo concreto do Darfur é, aliás, um exemplo evidente da ignorância (ou má fé) do autor, o principal alvo do genocídio, sobretudo perpetrado por milícias muçulmanas, tem sido precisamente a população não-muçulmana. De resto, os exemplos dados de comunidades cristãs perseguidas têm “apenas” paralelo em todas as perseguições de que são vítimas todas as minorias em todos os locais onde não se respeitem os direitos humanos.
Este calibre argumentativo, aliás, fica a matar em alguém que descarta com tanta displicência e arrogância os “intelectuais anti-cristãos”, seja lá o que isso for, pós-Porfírio (O Profundo). Por falar em personagens de banda desenhada…
Para completar o ramalhete das inanidades só faltava esta do cristão, coitado, marginalizado e clandestino… “O cristão é obrigado no entanto a ser um eunuco religioso”?! Onde é que isso acontece? No seu bairro? Ó homem, isso é fácil de resolver: mude-se! Olhe, onde eu moro e em todo o Portugal que conheço os católicos não têm problema nenhum em ostentar os sinais da sua fé, ninguém os incomoda. Reivindicar como actual o legado de clandestinidade dos primeiros cristãos, hoje que o cristianismo é a maior e a mais poderosa religião do mundo (nas suas diversas versões) é no mínimo ridículo.