terça-feira, 25 de setembro de 2007

Small is not beautiful

Um zapping a meio a tarde, num intervalo de escrita, dá-me o contraste entre as agendas mediáticas portuguesa e francesa. No canal nacional, a crise do PSD. No France 24 os discursos dos líderes mundiais reunidos nas Nações Unidas, a conferência de imprensa de Nicolas Sarkosy e o subsequente debate com especialistas em geopolítica.
De um lado, a antena aberta para o público sobre as minudências intestinas da fórmula de pagamento das quotas do PSD. O cartão multibanco, o papel da secção, o estatuto dos não pagadores, o significado do voto da Dra Manuela Ferreira Leite sobre esta matéria, os desabafos vespertinos do dr Gomes da Silva e a promessa de revolta do dr Menezes Lopes, logo mais, às 20h, a postos para a principal notícia dos jornais televisivos.
Do outro, a premência de uma nova ordem internacional que inclua a Índia, o Brasil e África na reforma representativa da ONU; a última chamada para respostas que atendam às alterações climáticas; a atenção ao perigo nuclear iraniano; a hora das soluções no Médio Oriente; a recusa da especulação sobre os preços do petróleo. Numa palavra: a falência das palavras e dos diagnósticos perante o anúncio de medidas concretas, imediatas.
É fácil - e quase demagógico - comparar estes dois temas, a escalas tão diferentes, e daí extrair a conclusão sobre o nosso mundo infinitamente pequeno. Não é disso que aqui trato até porque é sempre mais difícil lidar com os problemas próximos do que perorar sobre as grandes questões do Planeta.
Mas como é possível ignorar o que os líderes mundiais têm a dizer sobre o nosso tempo? Como não ver em directo a reacção do Presidente Iraniano às palavras de Sarkosy sobre a intolerância à escalada do armamento nuclear? Como não observar, nos discursos, a troca de um capitalismo financeiro para um capitalismo de investimento? Como passar ao lado do encontro de líderes mundiais do Conselho de Segurança da ONU (o que acontece pela terceira vez na história das Nações Unidas) sobre a África, para onde deverão partir forças da ONU e da UE? Como não compreender as alterações do discurso Bush? Como ignorar o debate sobre futuro do Kosovo, dentro da nossa casa europeia (salvando a face da Rússia e da Sérvia)? Como deter a Presidência da União Europeia, por escassos seis meses, sem nela prestar a maior atenção?
A democracia das nossas células políticas domésticas será importante, tal como o método que se usa para as manter vivas. Mas no mesmo dia, à distância de um toque no comando da televisão, Sarkosy recupera o protagonismo da França na cena internacional e dele faz eco. Enquanto Portugal não sabe, nem faz saber, quais as propostas ou as respostas que a Presidência da UE leva às Nações Unidas pela mão do seu Primeiro-Ministro.

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