segunda-feira, 17 de setembro de 2007

VI. Hodiernos cristãos: consequências para os cristãos

Para os cristãos em geral surgem igualmente quatro consequências.

Em primeiro ligar pulula a figura do cristianinho. Esta personagem caracteriza-se por dizer que “lá essas coisas da igreja (entenda-se, dogmática, pastoral etc.) eu não sigo, mas guardei do cristianismo o conteúdo moral”. Belo: apenas o “sede perfeitos como o Pai é perfeito”. Nada mais. Nada como ficar apenas com o impossível e deitar de lado as condições da sua possibilidade.

Em segundo lugar o cristão do Estado de Direito Democrático. Este vai além de aceitar o Estado de Direito Democrático. Vê-o como a realização concreta do cristianismo, no que tem razão sob o ponto de vista histórico (este não apareceu fora do espaço cristão). Mas vê-o igualmente como a única forma legítima de realização do cristianismo. Como se dezanove séculos de vida cristã fossem menos legítimos. O problema deste tipo de cristão é que incorporou a separação do Estado e da Igreja como parte da sua religião, em vez de ser apenas uma parte da sua posição política. O perigo desta posição é acabar a possibilidade de Antígonas na área cristã, que se deixam embalar pela sereia da legitimidade do Estado de Direito Democrático, não por este se basear numa substância que o ultrapassa, mas pura e simplesmente ser o que é.

A terceira consequência é a do estreitamento da santidade. Ou seja, das possibilidades de vida. Santo para a nossa época, santo plenamente, é apenas São Francisco. Apresenta várias vantagens: não é Cristo, o que é simpático para os não cristãos, tem ar de pobre e bonzinho e em suma de inofensivo. Enganosa visão de São Francisco, mas muito cómoda. A verdade que é muitos cristãos aceitam esta versão mais ao menos delicodoce. Ora as vias da santidade são muito variadas. Uma das grandes vantagens da santidade, tão benquista pelas ortodoxias ocidental e oriental, é a de se estabelecerem em cada santo tipos diversos de acesso à felicidade plena. Cada santo é um tipo, pelo menos os que não são anónimos e tipificados, como acontece com a maioria dos mártires. São Bento quase desapareceu, o organizador. São Tomás de Aquino, o intelectual, é relegado para fora da santidade e para dentro dos cursos de filosofia e teologia. São Bernardo é malquisto. Logo exactamente o grande herdeiro dos profetas do Antigo Testamento, o que fustiga a sociedade, que não a deixa estar na sua inércia mole, nas suas lutas intestinas. O que não se acomoda com rotinas. A caridade, ou melhor a sua versão liofilizada do humanitarismo, esmaga as possibilidades de plenitude de vida pelo profetismo, a organização, o envolvimento intelectual. Ser santo é ser bonzinho, o que mais uma vez transforma a santidade em depósito da nossa boa consciência e algo aparentemente inofensivo. A possibilidade de felicidade plena estreita-se e em suma não tem grande importância.

A quarta consequência é a da confusão entre ecumenismo e diálogo de religiões. O Vaticano II promoveu ambos, mas a sua ênfase estava sem dúvida no ecumenismo. É espantoso ver a quantidade de cristãos bem intencionados que encolhem os ombros de enfado quando se lhes fala das ortodoxias orientais, mas iluminam o olhar quando lhes falam de budistas, ateus, e muçulmanos.

1 comentários:

Unknown disse...

eu costei muito me ajudou bastante com o meu trabalho de historia continuem escrevendo coisas que estimulam os critoes a sempre seguirem em frente e isso