Desabafos de Verão (III)
Não consigo olhar para o actual PSD sem uma profunda tristeza. Onde está a chama? O rasgo? A capacidade de prometer e de exaltar? Onde está o projecto? Onde estão os valores, os princípios, as causas? Onde estão as pessoas?!
Ao abrir o jornal, ao ligar a televisão ou a rádio, não gosto do que vejo e oiço. É muito pouco e muito pequeno. Carne assada e questiúnculas de paróquia. Tudo me deprime…
Falta alma! Falta nível. Falta substância. Falta estatuto. Falta liderança…
Como eu queria acreditar na possibilidade de um líder afirmativo e forte. Alguém capaz de fazer a diferença.
Uma pessoa normal, que encarnasse plenamente esse sentido de normalidade. Alguém com vida e com história. Com qualidades e talentos. Mas também com defeitos e limites. Alguém com gostos assumidos, escolhas feitas, caminhos seguidos. Alguém com família, amigos, colegas, conhecidos. Alguém querido e, naturalmente, alguém criticado. Alguém capaz de amar e de repudiar. Alguém com sonhos e medos, ora firme, ora frágil, mas sempre gente. Afinal, alguém consistentemente humano.
Alguém cuja atitude pessoal fosse marcada por um profundo respeito pela ideia de liberdade. Alguém que sentisse nas entranhas a menor afronta ao exercício dessa liberdade. E alguém profundamente comprometido com o respeito pela liberdade de cada um.
Alguém que sentisse a política como imperativo. Alguém para quem a intervenção na vida pública se assumisse como dever indeclinável em nome de um projecto concreto de transformação da sociedade. Alguém em quem a estafada proclamação do sentido de serviço soasse a verdade original. Alguém que não precisasse de palco ou de emprego.
Alguém capaz de um discurso assertivo, directo, corajoso, sem papas na língua. Alguém com a garra dos que acreditam. Alguém com o efeito dos que são genuínos.
Alguém que integrasse, mobilizasse e irmanasse, convocando esse imenso, latente e esquecido universo de gente de recta intenção. Gente bem mais atenta e disponível do que os poderes instalados sempre gostam de fazer crer.
Mas, sobretudo, alguém capaz de criar esperança. Uma esperança credível. Alguém que, ao propor caminhos, tocasse os Portugueses. Alguém que revelasse conhecer o País e fosse capaz de pensar um projecto político a partir da emulação dos casos virtuosos. Gostava de sentir esse entusiasmo criador que tudo desafia e supera. Gostava de ver coesão à volta dessa esperança. Sem discursos fátuos, sem exortações ocas, mas como manifestação de verdade e de aposta partilhadas. Por detrás da pobreza e do desencanto de muitos, há gente que triunfa e há histórias de trabalho que premeiam. Temos empresários, marcas e sectores capazes de liderança e neles bem poderíamos, com visão política, assentar um desígnio ganhador.
Eu queria alguém que assumisse muito claramente a prioridade do crescimento do País – alguém que não surgisse com ideias avulsas e desgarradas, disparando em todas as direcções, incapaz de ligar temas e de sustentar neles um discurso de fundo com coerência e sentido. Eu queria um líder capaz de densificar um objectivo de crescimento e de lhe dar lastro político. Gostava de ver alguém explicar aos Portugueses, de modo simples e directo, o que mudaria na sua vida e na vida do País se conseguissem crescer, por exemplo, a 4%, a 5% ou a 6% ao ano. Como gostava de ver explicados os custos reais da divergência face à Europa. Gostava de ver uma proposta concreta de calendário para a convergência e gostava de acreditar na possibilidade de lá chegar.
Gostava de um líder capaz de ganhar o PSD, de fora para dentro, a olhar para o País, a ouvir o País, a falar para o País. Longíssimo das lógicas aparelhísticas e das suas aritméticas feitas à medida de pertenças, influências, obediências e favores – passados, presentes ou futuros.
Alguém que fizesse a diferença – no PSD e, decisivamente, no confronto com o estilo e a substância do actual Primeiro-Ministro. Alguém que começasse por mudar o PSD e depois mudasse o País.
Mas o futuro próximo não me permite ilusões... E o menos próximo, a ver vamos. Quando todos se engalfinharem, achando que chegou a hora, talvez o espectáculo seja, no essencial, apenas degradante. Pobre País!
Ao abrir o jornal, ao ligar a televisão ou a rádio, não gosto do que vejo e oiço. É muito pouco e muito pequeno. Carne assada e questiúnculas de paróquia. Tudo me deprime…
Falta alma! Falta nível. Falta substância. Falta estatuto. Falta liderança…
Como eu queria acreditar na possibilidade de um líder afirmativo e forte. Alguém capaz de fazer a diferença.
Uma pessoa normal, que encarnasse plenamente esse sentido de normalidade. Alguém com vida e com história. Com qualidades e talentos. Mas também com defeitos e limites. Alguém com gostos assumidos, escolhas feitas, caminhos seguidos. Alguém com família, amigos, colegas, conhecidos. Alguém querido e, naturalmente, alguém criticado. Alguém capaz de amar e de repudiar. Alguém com sonhos e medos, ora firme, ora frágil, mas sempre gente. Afinal, alguém consistentemente humano.
Alguém cuja atitude pessoal fosse marcada por um profundo respeito pela ideia de liberdade. Alguém que sentisse nas entranhas a menor afronta ao exercício dessa liberdade. E alguém profundamente comprometido com o respeito pela liberdade de cada um.
Alguém que sentisse a política como imperativo. Alguém para quem a intervenção na vida pública se assumisse como dever indeclinável em nome de um projecto concreto de transformação da sociedade. Alguém em quem a estafada proclamação do sentido de serviço soasse a verdade original. Alguém que não precisasse de palco ou de emprego.
Alguém capaz de um discurso assertivo, directo, corajoso, sem papas na língua. Alguém com a garra dos que acreditam. Alguém com o efeito dos que são genuínos.
Alguém que integrasse, mobilizasse e irmanasse, convocando esse imenso, latente e esquecido universo de gente de recta intenção. Gente bem mais atenta e disponível do que os poderes instalados sempre gostam de fazer crer.
Mas, sobretudo, alguém capaz de criar esperança. Uma esperança credível. Alguém que, ao propor caminhos, tocasse os Portugueses. Alguém que revelasse conhecer o País e fosse capaz de pensar um projecto político a partir da emulação dos casos virtuosos. Gostava de sentir esse entusiasmo criador que tudo desafia e supera. Gostava de ver coesão à volta dessa esperança. Sem discursos fátuos, sem exortações ocas, mas como manifestação de verdade e de aposta partilhadas. Por detrás da pobreza e do desencanto de muitos, há gente que triunfa e há histórias de trabalho que premeiam. Temos empresários, marcas e sectores capazes de liderança e neles bem poderíamos, com visão política, assentar um desígnio ganhador.
Eu queria alguém que assumisse muito claramente a prioridade do crescimento do País – alguém que não surgisse com ideias avulsas e desgarradas, disparando em todas as direcções, incapaz de ligar temas e de sustentar neles um discurso de fundo com coerência e sentido. Eu queria um líder capaz de densificar um objectivo de crescimento e de lhe dar lastro político. Gostava de ver alguém explicar aos Portugueses, de modo simples e directo, o que mudaria na sua vida e na vida do País se conseguissem crescer, por exemplo, a 4%, a 5% ou a 6% ao ano. Como gostava de ver explicados os custos reais da divergência face à Europa. Gostava de ver uma proposta concreta de calendário para a convergência e gostava de acreditar na possibilidade de lá chegar.
Gostava de um líder capaz de ganhar o PSD, de fora para dentro, a olhar para o País, a ouvir o País, a falar para o País. Longíssimo das lógicas aparelhísticas e das suas aritméticas feitas à medida de pertenças, influências, obediências e favores – passados, presentes ou futuros.
Alguém que fizesse a diferença – no PSD e, decisivamente, no confronto com o estilo e a substância do actual Primeiro-Ministro. Alguém que começasse por mudar o PSD e depois mudasse o País.
Mas o futuro próximo não me permite ilusões... E o menos próximo, a ver vamos. Quando todos se engalfinharem, achando que chegou a hora, talvez o espectáculo seja, no essencial, apenas degradante. Pobre País!
11 comentários:
-Falta bom senso, faltam propostas, a menos de duas semanas das directas ainda não consegui perceber uma ideia de governação alternativa à do PS. Só ouço críticas de parte a parte, um candidato não entusiama ninguém, no outro ninguém acredita. Não podem mesmo perder os dois e fazer-se uma segunda volta com outros?
Mas porque é que não se candidata? Parece conhecer todos os requisitos para vencer.
e se dava uma boa candidata!
Aliás, já tem experiência governativa no governo do Dr. Pedro Santana Lopes, não é?
Parece-me óbvio que o PSD tem um candidato à altura dos desafios de 2009 mas não tem coragem para o assumir.
É um homem com carisma, garra, querer. Que nunca perdeu uma eleição. Que sabe ser forte com os fortes e com os fracos. Que tem uma ideia firme para o país, que é contra o sistema, que fala claro mesmo que, às vezes, tenha de ser agressivo. É um homem experimentado na política, calejado, que sabe chegar ao povo, que não tem medo das oposições. Que fez do território onde habita um paraíso de progresso, de crescimento económico, de pleno emprego.
Em suma: é tudo o que Marques Mendes não é. E é tudo o que Meneses gostaria de ser.
Acertaram: Alberto João Jardim!
Não é óbvio?
Pois eu concordo que a Dra. Sofia Galvão, com a sua presença no governo Santana Lopes, já deu provas de apreciar estados de espírito e almas fortes, homens sérios, honestos, competentes e eficientes. Devia candidatar-se ou impulsionar uma enésima tentativa de Lopes, esse herói nacional.
Caso falhe, pode sempre dedicar-se à poesia, também tem provas dadas com este texto.
Quando aparece alguém a defender a ideia ridícula do "soba da Madeira" para a chefia do PSD, é sinal de que os laranjas estão mesmo no fundo!
Mas se calhar a ideia até nem é assim tão ridícula.
Façamos um exercício: ponhamos o "Soba" ao lado do Mendes e do Meneses. Alinhemo-los em cima de uma prateleira.
Não ficam uns bonecos lindos para o tiro ao alvo numa barraca de feira?
E depois admiram-se com o êxito do Sócrates...
A leitura sobre quem quis servir Portugal no XVI Governo Constitucional - e o fez - é ligeira e ofensiva. A agressividade escondida destes anónimos reflecte o seu carácter.
Para uso de Anónimos e de quaisquer Outros...
1. Integrei o XVI Governo Constitucional, numa opção reflectida e difícil – ouvi, em directo, o discurso do Presidente da República, pelo que apenas o ritmo da sequência me surpreendeu.
2. Fi-lo muito conscientemente e com evidente prejuízo da minha vida profissional.
3. Voltaria a fazê-lo.
4. No exercício das minhas funções, houve entrega, trabalho, seriedade e brio.
5. A frustração foi, evidentemente, imensa – não escondo que gosto de fazer e de deixar feito.
6. Recuso a comodidade de me distanciar do então Primeiro-Ministro, Dr. Pedro Santana Lopes, ou de arranjar atenuantes justificativas.
7. Como recuso a tentativa cobarde e ignóbil de ver diminuída a minha capacidade de intervenção – ou a legitimidade da minha opinião – em função da pertença ao referido Governo.
8. Ou seja, e para registo: não abdico da minha maioridade cívica, nem do exercício pleno e incondicionado da minha liberdade.
Concordo em absoluto com a Inez Dentinho. A irritação que a coragem e a rectidão provocam é uma triste repetição. É mais fácil escarnecer do que pensar. E muito menos perigoso.
Desconfio destes lugares, que, objectivando-se, quase independentes, por todo o lado, deixam muito pouco tempo à reflexão. Em defesa da Sofia, porém, deixarei aqui um pequeno comentário, que talvez explique este desvio da discussão para a questão das qualidades do líder do governo no qual ela – tão bem – participou. É que já no seu artigo esse desvio se verificava, como entre nós se verifica desde a morte do jovem Sebastião, naquela África que era também Portugal. Desde então que esperamos alguém que nos descubra - e desde então que ninguém aparece: pois que o encoberto somos nós! É por isso que nos deixamos enganar, como na Ericeira, onde, ainda antes dos Felipes, se aclamou um Sebastião estrangeiro, pretensamente regressado a um País cuja língua nem sequer sabia falar. O facto, porém, é que, apesar de italiano, foi aclamado! E desde então fomos espanhóis, ingleses, franceses, enfim… tudo menos portugueses – que é o que podemos e devemos ser. Na verdade, não nos falta ninguém, justamente porque estamos cá nós. Dispersos, é certo; perdidos; escondidos... mas isto porque nos faltam, isso sim, ideias, nas quais acreditemos a partir de alguém que temporariamente as possa e consiga encarnar. E foi isso que faltou – e falta – no debate do PSD, como falta no debate dos outros partidos. Esqueceu-se a ideologia. Deixou de haver diferença. E o facto é que são todos iguais na luta pelo poder. Continuamos, porém, todos à espera de alguém que, neste contexto, não fará mais que iludir-nos ou enganar-nos, a partir do que se vai gerando este descontentamento geral que leva o povo, acriticamente, a dizer estas coisas de pessoas como a Sofia Galvão. Coisas que ferem, porque são injustas, mas que temos que reconhecer serem o fruto de um descontentamento interior que continuamos a querer ver resolvido fora de nós, enquanto esperamos que algum estranho descubra Portugal!
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